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Vivian Maier |
os iconoclastas
virá ao perpétuo puxar-te o vime dos cabelos
e inundar os olhos
para que se abram
em vermelhidão. Deus, que por certo há de sangrar o amor
tal um anjo porco,
de procriar os Cupidos para que te
devorem, de anunciar terra nova
Para que te apaixonem sincréticos e poligâmicos
para que te
beijem lascivas as amizades, para que se arrependa
Deus de não ter beijado a guia,
Pomba, não olhas agora, cobre-te
pois sabem todos
que choramos.
*
terrorismo aos homens
e como sabes
também o desprezo, sob o cano
de uma glock silenciada
ou escondido para sempre
em tuas pupilas.
*
se te apaixonam ainda
os semi-Deuses
e levas contigo centenas aos olhos - teu universo
e cedes a partícula
para que se multipliquem os homens. E vives a gestação
como o leito de morte
sabes que te amo E que nunca neste delírio
humanidade
haveria eu
de ter persistido
como te são comuns
os olhos verdes
e os dedos de Dionísio
como em decoro sabes a ordem da queda
de meus cabelos?
*
da vida
saberei apenas pedras
e sapatos.
Teimar-se como vulto
volúvel, lona,
homem estricnina. Colocar-se e despedir-se
em um piscar de
apiedados aos paralelepípedos. Pois devo ao veneno e ao amor os
sinais translúcidos de compadecimento - e cumpro
com a obrigação de
opor-se a vida com insistência. Sou fraco e não
por acaso,
lúcido e não ao desejo. Subo aos vagões esquivando-me
oculto. Fios de ferro arrastam-me os olhos
a lugar nenhum, sou pútrido
e covarde, envergonho-me, E por conhecer sapatos, apenas, fibras destas desinteressâncias,
espero que me
permitam, com todo o respeito
continuar
calado.
*
da antropofagia conheço apenas
as marcas
dos teus dentes; de mim, o visgo amor
e a demência. Sei ainda
que vais aos corpos como vou aos vultos, e que
caminhas à realidade
com o mesmo apetite que vou da porta de casa a cama. Às seis
e meia, quando concebo final
o abandono de mim, e volto fraco à Borges de Medeiros,
toca o teu interfone o carro frigorífico,
a tempo de que ainda possas comer
deitada - uma vez de pé, já não comes - teu jejum me aniquilará
o dia inteiro
como se em greve de fome me torturasse
Morfeu a fraqueza nos braços. Apenas as marcas dos
teus dentes,
e o esforço que fazes para que eu coma. Marcas de dentes,
e o vomitar débil
dos homens que de ti me falam. Aos pés desta
saída, concluo à metade minha última
refeição. Sacio-me, prontos os dedos na boca e os poros mortos
de medo. Da antropofagia, em delicadeza
saberei apenas
o ralo de minha esperança.
*
da antropofagia conheço apenas
as marcas
dos teus dentes; de mim, o visgo amor
e a demência. Sei ainda
que vais aos corpos como vou aos vultos, e que
caminhas à realidade
com o mesmo apetite que vou da porta de casa a cama. Às seis
e meia, quando concebo final
o abandono de mim, e volto fraco à Borges de Medeiros,
toca o teu interfone o carro frigorífico,
a tempo de que ainda possas comer
deitada - uma vez de pé, já não comes - teu jejum me aniquilará
o dia inteiro
como se em greve de fome me torturasse
Morfeu a fraqueza nos braços. Apenas as marcas dos
teus dentes,
e o esforço que fazes para que eu coma. Marcas de dentes,
e o vomitar débil
dos homens que de ti me falam. Aos pés desta
saída, concluo à metade minha última
refeição. Sacio-me, prontos os dedos na boca e os poros mortos
de medo. Da antropofagia, em delicadeza
saberei apenas
o ralo de minha esperança.
*
lembro-me que ainda ontem
te queriam para
a vida. E como me tinham a ela,
a mim diziam todas as barbaridades. Mal o amanhã
chegava e já o teu nome
antes da comida. Mal os ouvidos assimilavam os pigarros
e terminavas meu dia
por tabela. Lembro-me que ontem, ainda,
sonhei contigo
e por piedade não deviam ter
me acordado. Foste cruel, inconsciente
como a memória. Anamnese feito o amor de uma Deusa
a um terreno. Tanta barbárie para dormir tranquilo e esquecer-te, se
te desejo esquecer. E quando não lembro, quando desvaneço,
desassossego e
durmo
voltam a querer-te inteira
para a vida.
te queriam para
a vida. E como me tinham a ela,
a mim diziam todas as barbaridades. Mal o amanhã
chegava e já o teu nome
antes da comida. Mal os ouvidos assimilavam os pigarros
e terminavas meu dia
por tabela. Lembro-me que ontem, ainda,
sonhei contigo
e por piedade não deviam ter
me acordado. Foste cruel, inconsciente
como a memória. Anamnese feito o amor de uma Deusa
a um terreno. Tanta barbárie para dormir tranquilo e esquecer-te, se
te desejo esquecer. E quando não lembro, quando desvaneço,
desassossego e
durmo
voltam a querer-te inteira
para a vida.
Pedro DziedzinskiRocha nasceu em Barra do Ribeiro em 1996. Atualmente reside em Porto Alegre e escreve poemas. Às vezes aparece no curso de Letras, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas isso pouco importa. É poeta-transeunte. Isto basta.