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"Psychedelic Street Art", por Ron Fleishman |
INTERVALOS
o trem
dedilha sinfonias
ao ritmo de sentimentos
encarcerados
que vão e vêm
esperando resgate
o céu
traceja hipnóticas linhas
dos pássaros urbanos
que trocam
pontos cardeais
por antenas da sky
as ruas
zombam
do caminhar resoluto
de cães e andarilhos
benzidos na ilusão
de que sabem
pra onde vão
o divã do analista
acalenta narrativas insones.
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"Woman emerging from the water", por Gunnar G. Geirmundsson |
AVESSOS
há um riso
aprisionado
num choro
que sufoca
todo medo
e escancara
um grito
há o grito
que desafia
o medo
que provoca
o choro
e, quando liberto,
se purificado,
acalenta
o riso.
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"Spiral Dart Board Droste Effect", por Kitty Bitty |
DESCUIDO
não escreve versos
lança dardos
no papel
palavra pós palavra
engatilhadas
em imprecisão
num descuido,
acerta o alvo:
fez-se poema.
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"Stages of Lunar Eclipse", por Texas Eagle |
PARADIGMAS
nasceu aos prantos
viveu aos baques
amou à exaustão
morreu à míngua.
viveu aos baques
amou à exaustão
morreu à míngua.
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Regina Celi Mendes Pereira nasceu em João Pessoa, em 1963. É professora da Universidade Federal da Paraíba, pesquisadora do CNPq, editora da Revista Prolíngua e coordenadora da sub-sede da Cátedra UNESCO em Leitura e Escritura. Suas publicações em livros e revistas são todas acadêmicas, em Linguística Aplicada, mas já publicou alguns poemas no blog Zonadapalavra, na Mallarmargens, no suplemento literário Correio das Artes, na Germina, na Gueto e na revista digital Literatura e Fechadura.