taquicardia
eu olharia pra você
e sofreria com a falência do corpo compacto
talvez minha náusea aumentaria e meu vômito não caberia no seu colo
como um momento evoluído do cuspe ou talvez estratosférica
eu não saberia como uivar em plena lua cheia
porque era inteiramente pra você minha fase de cio
comprometida com minha febre epilética
eu não buscaria exílio no teu peito pra sofrer com conforto
e por isso danço de cabeça caída
por isso me expulso do meu próprio reino
por isso esses dedos vinho e esses olhos enxofre
talvez você entenda essa minha pressa de revolução
ao olhar pra você eu teria que atrapalhar minha reza
falar em voz alta o santo anjo do senhor
com indícios sutis de um pedido de socorro
e no entanto duvidar da luz dona do mundo
numa espécie de encanto
acreditar pra sempre em tudo que for meu
meus gemidos
o colo do meu útero
a esfinge tatuada no colo do meu útero
minhas estrias
minha veia estourada em tom esverdeado
meu sinal na comissura da boca
o lóbulo da minha orelha
meus seios
meus ataques de prevenção à ansiedade
minha nudez quase pervertida
meu colar de pedra das estrelas
minha sensibilidade filha da puta
meu ninho
meu sono
meu ciclo menstrual
e portanto agradecer àqueles seus cílios circenses
do contato quase frenético das nossas gengivas
daqueles que dá formigamento
e acaba no instante em que o doce é tirado do lugar
a fome, eu diria, está afinal em busca de outra coisa
eu estou afinal em busca de outra coisa.
e sofreria com a falência do corpo compacto
talvez minha náusea aumentaria e meu vômito não caberia no seu colo
como um momento evoluído do cuspe ou talvez estratosférica
eu não saberia como uivar em plena lua cheia
porque era inteiramente pra você minha fase de cio
comprometida com minha febre epilética
eu não buscaria exílio no teu peito pra sofrer com conforto
e por isso danço de cabeça caída
por isso me expulso do meu próprio reino
por isso esses dedos vinho e esses olhos enxofre
talvez você entenda essa minha pressa de revolução
ao olhar pra você eu teria que atrapalhar minha reza
falar em voz alta o santo anjo do senhor
com indícios sutis de um pedido de socorro
e no entanto duvidar da luz dona do mundo
numa espécie de encanto
acreditar pra sempre em tudo que for meu
meus gemidos
o colo do meu útero
a esfinge tatuada no colo do meu útero
minhas estrias
minha veia estourada em tom esverdeado
meu sinal na comissura da boca
o lóbulo da minha orelha
meus seios
meus ataques de prevenção à ansiedade
minha nudez quase pervertida
meu colar de pedra das estrelas
minha sensibilidade filha da puta
meu ninho
meu sono
meu ciclo menstrual
e portanto agradecer àqueles seus cílios circenses
do contato quase frenético das nossas gengivas
daqueles que dá formigamento
e acaba no instante em que o doce é tirado do lugar
a fome, eu diria, está afinal em busca de outra coisa
eu estou afinal em busca de outra coisa.
lamúria
as palavras fogem da minha mão estendida
não basta crescer mais meio metro
construir prédios e subir andaimes
o poema torna-se um fiasco.
e que pena que dá
o poema é quase um membro da família
poema passa a mão no meu tempo
e toca no céu da minha boca
não quero mais beijar de acordo
trapaceio as testas e desvio pro lábio
de qualquer um
digam ao poema que abrirei as pernas pra outro.
não tenho medo.
do alto dessa lamúria
enxergo os dedos tácitos da menina
não me farei mais ingênua.
escrevo
e é só isso que o mundo precisa saber sobre mim.
não basta crescer mais meio metro
construir prédios e subir andaimes
o poema torna-se um fiasco.
e que pena que dá
o poema é quase um membro da família
poema passa a mão no meu tempo
e toca no céu da minha boca
não quero mais beijar de acordo
trapaceio as testas e desvio pro lábio
de qualquer um
digam ao poema que abrirei as pernas pra outro.
não tenho medo.
do alto dessa lamúria
enxergo os dedos tácitos da menina
não me farei mais ingênua.
escrevo
e é só isso que o mundo precisa saber sobre mim.
arrepio
deitei minha cabeça no teu peso de existir
e ela afundou
não sei quando foi que perdi a verticalidade
e me afeiçoei aos teus pelos castanhos do peito
chorei ao encarar o desencontro das fivelas dos cintos
e ao perceber que meus poemas foram feitos pra sussurro
como as músicas da letuce
e o início dos dicionários
é possível lembrar da tua ânsia através dessa mão estendida
não tenho culpa de invejar os batons que você passa
e de viver o amor como se vive a asfixia
fechando a boca ao invés de tentar respirar
vivo apenas do contágio do seu bocejo
e quase nunca sinto que deveria dormir
já não gosto de como tua voz manipula os meus sentidos.
e ela afundou
não sei quando foi que perdi a verticalidade
e me afeiçoei aos teus pelos castanhos do peito
chorei ao encarar o desencontro das fivelas dos cintos
e ao perceber que meus poemas foram feitos pra sussurro
como as músicas da letuce
e o início dos dicionários
é possível lembrar da tua ânsia através dessa mão estendida
não tenho culpa de invejar os batons que você passa
e de viver o amor como se vive a asfixia
fechando a boca ao invés de tentar respirar
vivo apenas do contágio do seu bocejo
e quase nunca sinto que deveria dormir
já não gosto de como tua voz manipula os meus sentidos.
acho que tudo isso tem a ver com seu cabelo
desculpa, mas não acredito mais na grandeza dos dias
não acredito mais nessa espécie de amor que flutua sozinho
você poderia me falar do contraste entre as nossas pupilas
e será tão verdadeiro, mas eu não acreditarei mais
sinto que não há mais nada de grandioso pra que eu possa ficar rente
pois bem.
você existiu com a mesma presença de algo intimamente denso
que se nega a ser confiscado e permanece vivo
há só o resquício do amor
e a presença dos poemas.
muito provavelmente não me importo mais com a magnitude do seu bronzeado
você lembra o quanto era favorável a nós viver da mesma língua?
não sou eu que preciso parar de chorar
nem você que precisa parar de fingir que chora
preciso te dizer que o clima no meu país permanece instável
e com país quero dizer a geografia presente nos quatro cantos do meu lençol
o que me faz não querer substituir nunca essa espécie de encanto
que você deixou sem perceber
não sou eu que faço a guerra
mas apareço constantemente fornecendo as armas.
mas lembre-se que você nunca morrerá enquanto eu estiver carregada
é verdade que eu nunca soube te proteger
e é verdade também que eu nunca fiz parte desse teu ciclo de sobrevivência
se fizesse, você ainda estaria aqui.
quase não reconheço meu nome quando ele sai da sua boca
não sei porém se eu deixei de ouvir por segurança
ou se você deixou de falar porque não te favorece
não importa.
ou importa, as cabeças são tão confusas quanto suas mãos trêmulas.
você não vê, mas há um rio que corre
e não é mais o mesmo que corria entre as minhas pernas
de quando você resolvia se alimentar da minha pele
lembra o quanto era favorável a nós tornar-se algo único por metro quadrado?
não é só você, mas todo o conceito pós moderno de felicidade
é sobre tocar os lóbulos da orelha e sentir que está vivo
acho que tudo isso tem a ver com seu cabelo
e com a falta que ele faz no meu rosto.
não me importa quais os teus santos
mas que sejam eles os maiores possíveis
que seja sobrenatural
mas nunca breve
e que te enxerguem mesmo dentro de uma compota
que seja feliz feliz
muito feliz
odara.
não acredito mais nessa espécie de amor que flutua sozinho
você poderia me falar do contraste entre as nossas pupilas
e será tão verdadeiro, mas eu não acreditarei mais
sinto que não há mais nada de grandioso pra que eu possa ficar rente
pois bem.
você existiu com a mesma presença de algo intimamente denso
que se nega a ser confiscado e permanece vivo
há só o resquício do amor
e a presença dos poemas.
muito provavelmente não me importo mais com a magnitude do seu bronzeado
você lembra o quanto era favorável a nós viver da mesma língua?
não sou eu que preciso parar de chorar
nem você que precisa parar de fingir que chora
preciso te dizer que o clima no meu país permanece instável
e com país quero dizer a geografia presente nos quatro cantos do meu lençol
o que me faz não querer substituir nunca essa espécie de encanto
que você deixou sem perceber
não sou eu que faço a guerra
mas apareço constantemente fornecendo as armas.
mas lembre-se que você nunca morrerá enquanto eu estiver carregada
é verdade que eu nunca soube te proteger
e é verdade também que eu nunca fiz parte desse teu ciclo de sobrevivência
se fizesse, você ainda estaria aqui.
quase não reconheço meu nome quando ele sai da sua boca
não sei porém se eu deixei de ouvir por segurança
ou se você deixou de falar porque não te favorece
não importa.
ou importa, as cabeças são tão confusas quanto suas mãos trêmulas.
você não vê, mas há um rio que corre
e não é mais o mesmo que corria entre as minhas pernas
de quando você resolvia se alimentar da minha pele
lembra o quanto era favorável a nós tornar-se algo único por metro quadrado?
não é só você, mas todo o conceito pós moderno de felicidade
é sobre tocar os lóbulos da orelha e sentir que está vivo
acho que tudo isso tem a ver com seu cabelo
e com a falta que ele faz no meu rosto.
não me importa quais os teus santos
mas que sejam eles os maiores possíveis
que seja sobrenatural
mas nunca breve
e que te enxerguem mesmo dentro de uma compota
que seja feliz feliz
muito feliz
odara.
eu presumi que era amor
por algum motivo: essa chuva
e nós duas sussurrando sobre a infinidade das coisas
o complexo de superioridade que as formigas têm
elas sobem pelas nossas pernas enquanto as roçamos
vingança fome ódio
te endereço o meu refluxo se disse que entraria rasgando minha garganta
tiraria esse nó com a ponta úmida dos dedos
o nó estilo marinheiro que precisa amarrar as coisas para não perdê-las
nós duas e esse casaco compartilhado com cheiro de futuro
acho que quando você apareceu, eu finalmente entendi a capacidade
que o corpo tem de se alterar
entendi que as pessoas erram muito pela insuficiência da geografia
você me disse que o amor está na cabeça
e se assemelha muito às guirlandas penduradas no pescoço de um hippie anos 60
estamos perdidas nesse continente
e ele não mede mais que as nossas unhas sobre o mapa
entrar naquele automóvel me fez duvidar das leis da física
você me deixou respirar pela única fresta existente
que eu logo assemelhei a um buraco de minhoca
daqueles que se fecham em frações de segundos e matam os astronautas russos
me fez lembrar que é por cima da tua nuca o único lugar que me conforta
embora exista lugares tão incríveis como as periferias da frança
e amar minha capacidade de apneia
meu medo de tudo que é infinitamente escandaloso
como essas pessoas que nos olham e preferem a guerra à esse minúsculo gesto de afeto
e a guerra é tão mais perigosa, você não acha?
foi quando eu presumi que era amor na medida em que você sorria no meio do errado
os nossos óculos se batem e ainda assim eu prefiro usá-los
pra não perder de vista o que tenho
e o que tenho é você que verifiquei gostar como gosto dos abraços distraídos
porque trazem a força e a resistência dos cactos à seca
nessas noites, nesses ônibus, sobre essas pessoas que me beijam no pescoço e sentem seu perfume
eu busco matar minha fome
enquanto isso significar atravessar fronteiras com você.
e nós duas sussurrando sobre a infinidade das coisas
o complexo de superioridade que as formigas têm
elas sobem pelas nossas pernas enquanto as roçamos
vingança fome ódio
te endereço o meu refluxo se disse que entraria rasgando minha garganta
tiraria esse nó com a ponta úmida dos dedos
o nó estilo marinheiro que precisa amarrar as coisas para não perdê-las
nós duas e esse casaco compartilhado com cheiro de futuro
acho que quando você apareceu, eu finalmente entendi a capacidade
que o corpo tem de se alterar
entendi que as pessoas erram muito pela insuficiência da geografia
você me disse que o amor está na cabeça
e se assemelha muito às guirlandas penduradas no pescoço de um hippie anos 60
estamos perdidas nesse continente
e ele não mede mais que as nossas unhas sobre o mapa
entrar naquele automóvel me fez duvidar das leis da física
você me deixou respirar pela única fresta existente
que eu logo assemelhei a um buraco de minhoca
daqueles que se fecham em frações de segundos e matam os astronautas russos
me fez lembrar que é por cima da tua nuca o único lugar que me conforta
embora exista lugares tão incríveis como as periferias da frança
e amar minha capacidade de apneia
meu medo de tudo que é infinitamente escandaloso
como essas pessoas que nos olham e preferem a guerra à esse minúsculo gesto de afeto
e a guerra é tão mais perigosa, você não acha?
foi quando eu presumi que era amor na medida em que você sorria no meio do errado
os nossos óculos se batem e ainda assim eu prefiro usá-los
pra não perder de vista o que tenho
e o que tenho é você que verifiquei gostar como gosto dos abraços distraídos
porque trazem a força e a resistência dos cactos à seca
nessas noites, nesses ônibus, sobre essas pessoas que me beijam no pescoço e sentem seu perfume
eu busco matar minha fome
enquanto isso significar atravessar fronteiras com você.
Saudade
Abastecerias demais teu peito com essa saudade?
Lerás minhas cicatrizes como linhas de um caderno
manchado com meu próprio sangue e então
Vais sacudir teus dedos ao vento procurando
passagem pra tatear-me sem interrupções e ainda
Gemerás sozinha solicitando meu arfar agudo
e minhas unhas cálidas ao revirar de tecidos e após
Fumarás cansada devido ao sereno que abrangeu teu quarto
escuro com a mesma intensidade de antes e mesmo assim
Depositarás o amor em cada poro a mim designado
e não me perderás de vista ainda que eu me perca
até o dia que for declarada a eternidade
Amém.
Abastecerias demais teu peito com essa saudade?
Lerás minhas cicatrizes como linhas de um caderno
manchado com meu próprio sangue e então
Vais sacudir teus dedos ao vento procurando
passagem pra tatear-me sem interrupções e ainda
Gemerás sozinha solicitando meu arfar agudo
e minhas unhas cálidas ao revirar de tecidos e após
Fumarás cansada devido ao sereno que abrangeu teu quarto
escuro com a mesma intensidade de antes e mesmo assim
Depositarás o amor em cada poro a mim designado
e não me perderás de vista ainda que eu me perca
até o dia que for declarada a eternidade
Amém.
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Tendo produzido, até então, um zine independente intitulado“O melhor peso existencial é o seu nas minhas costas", Natália Mönté de Natal, no Rio Grande do Norte, e pretende cursar Ciências Sociais. Migra da poesia para os contos e escreve sempre com um quê de liberdade sexual feminina, representatividade lésbica, sobre si e os quintais do mundo que escolheu. Não gosta de letras maiúsculas nem pontos finais, prefere a continuidade daquilo que interfere na escrita. Publica constantemente no blog Verdade sobre a nostalgia (verdadesobrenostalgia.blogspot.com.br).