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Black Off (performance de Ntando Cele) - Imagem de Guto Muniz |
Sem saída
Não são gritos
Nem ecos de lágrimas;
Fogos de artifício?
Páginas – rasgadas.
Os lamentos
São nada na dança do tempo:
Um devir de
Páginas – viradas.
Somos o que sobra
Do que nos livramos
E do que se impregna.
Somos o monstro do armário
E o ponto de partida:
Sem saída – sem saída.
O livro
Ponha seus fantasmas pra dentro
Há vagas
Sente-os neste banco extenso
Feito das minhas palavras.
Nossas cicatrizes ardem tanto
Que soam complementares.
Têm os mesmos trejeitos
E entornam um copo
Com a mesma voracidade.
Só que você cabe na minha fome
Mas não é a minha fome
Então sejamos corretos
Na nossa distância
E solidários em nossos demônios.
Por isso ponha seus fantasmas pra dentro
Há vagas
Eles – de fora do espelho –
São a minha cara.
Manaus, Manaus
Manaus é um outdoor gigante
anunciando:
somos selvagens
somos selvagens.
Ela nos comprime
tal qual é comprimida –
norte acima morte abaixo.
Manaus é uma besta
e fervemos um pouco a cada dia
dentro do seu bucho exuberante.
O calor nos devora
da pele às veias.
Põe pra fora
o sebo da alma
ao longo da epiderme.
A tosquice do teatro de civilidade
é um presente de mentiroso
para mentiroso.
Quem sofre aqui sofre quente e úmido –
inferno e lágrima.
Susy Freitasé amazonense de Manaus. Autora do livro “Véu sem voz”, publicado pela Bartlebee. Escreve na página http://veusemvoz.tumblr.com/.