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'Every Drop of Rain', de Qimmy Shimmy |
Um que há
Então
O tempo cumpriu
sua descendência de espírito em demora.
Movediço, esse. Velho santo.
Terceiro de todos os duelos, é várias palavras:
dentre deuses e imagens
dentre dia e noite.
Pano estendido, sem metro,
para aquele toque gentil.
Porque no começo não foi o verbo.
Partícula de areia ou
Plano.
Seu segredo no homem,
é o vigor na mulher;
verdade que move os astros. Bebe água parada.
O vento só move enquanto cede à demora.
Sem força e sem vontade
assim como a água.
E tudo se move.
Menestrel
Ao Bovino.
Quem canta, canta mais para a vaca
Do que para o colega.
Já que sendo plantação,
Pratica devagar.
Guri delgado de dedos longos,
Sentado ao pé do pasto,
Canta.
Com lucidez de pasto,
Evita vergonha. Sentimento tolo
Esse
A um menino só.
Vacas não julgam.
Entendimento
É assim que deste momento entendo que:
A verdade se acha em nome do pai, da mãe e do Espírito Santo.
Pois se não, não haveriam filhos.
Que todas as outras verdades são de outros.
Marlene cresce.
Virgínia cresce.
Pai.
Mãe. Caminhos.
E os filhos se movem sempre.
A gestação do verde em todas as plantas
Muda com uma bengala. A velhice de todos.
Belo
Guri belo com pele de barro
Amontoado sobre a terra respirava tranquilo.
Humilde no andar
Buscava água no poço
Balançava os braços,
À procura de apressar o tempo.
Seu tempo de traduzir pássaros
Nos lábios turbulentos,
Criava buracos de minhocas ao redor.
Contornos de minhocas;
Tamanhos de minhocas.
Presente fosse ouvir.
Seu Francisco ajuda a todos
Já que há uma mentira conscrita no monólogo
Durante a janta,
Todos se assemelham aos mortais
Essencial sim, é o caminho feito de passos andados
E espaçados,
Acolhidos e esquecidos junto à terra
Metáfora
Não é
Mais que um campo florido
Para um observador.
Colher de prata
Para a língua de prata.
A palavra tempo
Num tatear fixo.
Não é
Mais que um modelo de risco
Para uma estátua.
Cor natural
De mármore.
Inteligência de uma
Terra sem terra.
Não é
Mais que uma fala
De paradoxos.
Museu de um amor
Ou de uma ave.
Não é
Vento.
Não é terra. Não é água.
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Karinna Alves Gulias (Niterói-RJ, 1983) é formada em Inglês e Português pela UFRJ e mestre em Literatura Comparada pela Goldsmiths - Universidade de Londres. Desde 2009, vive na Grã Bretanha. Foi integrante da Editora Confraria do Vento desde sua fundação até o ano de 2009, onde trabalhou como tradutora, assistente editorial e produtora gráfica. Em 2006, estreou na revista Confraria com nove poemas sob o título conjunto ‘sem cores, o infinito seria água’. A poesia dela foi incluída na antologia de poesia brasileira contemporânea XXI poetas de hoje em dia(nte) (2009), no volume temático dedicado à jovem poesia brasileira da Action poétique (n. 204, junho 2011), e na revista japonesa Beagle(n. 22, janeiro 2014). Publicou até o momento dois livros de poesia: Maria da Graça, terra dos nomes perdidos, em 2011, e The Seafarer, The Sea: She Awes, em 2015, um projeto escrito em inglês. Foi poeta convidada no Poetry International Festival de Roterdão em 2013. Recentemente tem publicado novos poemas no seu blogue http://beggarsbodyart.blogspot.com/.