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as mulheres que guardavam poetas esfaqueados na estante empoeirada da vida - a poesia de Felipe Ribeiro

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NÃO É SOBRE NOSSOS PÉS FRIOS, MINHA CAMA QUENTE E LÁ FORA CHOVIA

Me tirava a roupa uma semana atrás
enrolava a blusa em torno do meu pescoço
e puxava-me,
colocando meu rosto entre teu seios
Pedia para lamber a beirada do seu mamilo

Doce, macio como uma nuvem rosada, imobilizado

cheio de pontos cardeais pendurados numa alma sensível
puxava-me pelos cabelos devagar
e sentia o cheiro leve do meu lábio superior
logo após beijos que engoliam como,
planetas desaparecendo
nos buracos negros do teu olhar

Subia em cima do meu colo
dançando e cantarolando Sinatra
mastigando um chiclete, bala
dançando com a língua em francês
Soterrando meu coração com beijos na nuca
e segredos cochichados no meu ouvido

Ela acendia meus olhos como um fósforo
E eu permitia que queimássemos
as horas até nos aceitamos
sendo apenas cinzas amanhã
Nus na cama, sem vergonha
dos machucados na adolescência
e as feridas na memoria

Transaríamos para sentir protegidos,
seguros e libertos
prontos para ver os fogos de artifícios
sem receios dos estouros internos
vencendo nossos confrontos diários

Lembrando todos os dias que somos
humanos, errados e apaixonados á
nossa existência juntos e sem cartazes
ou máscaras impostas como a de todos
os outros em telas de celulares

Pois não somos filhos da cegueira,
não somos cria das redes sociais.






NÃO RIMA NO POEMA QUE ELE GOZA

Enrijece teus dedos de pontas amarelas e enrugadas mais uma vez sobre a máquina.

Trac, trac, trac!! Detilha sua alma nos pontos cardeais de suas feridas e infermidades,
Extermínio em massa escorrendo pela perna,
Pele crua e molhada, quente, de arrependimentos nas lembranças sexuais com a garota que vive na mente, mentira.

Escreve um palavrão na beirada dos vasos de posto e enche meu fígado com o combustível
Do que com seu álcool mal destilado.

Enfia nas beiradas das portas que não tenho chave,
Cantarolando assim músicas com vozes de crianças mortas por culpa do cigarro tragado na adolescência e livros empoeirados nas estantes das suas costelas.

Leia os olhos de um cego e determina meus espaços com seus impulsos nucleares de como sentir medo dentro de uma rua sem prédios, paredes, e carros.

Gospindo areia das caminhadas de desertos
E enxugando as mãos nas paredes com infiltrações,
Fomos os primeiros a descobrir que se tem azul no Sol e luz nos espaços em branco entre estrelas e constelações.

Agora gira a garrafa e tentamos a sorte,
E o cheiro de pernas suadas e seios a mostra pelos corredores já mostram todas as almas mortas que coloquei pra dentro,






NA ESPERANÇA DE NAUFRAGAR AMORES E ILUSÕES QUE ANCOREI NO PEITO

Derrete os pés dentro dos meus ouvidos pra caminhar nas vozes que nunca sabiam meu nome mas mesmo assim, tinha seu tom de batom.
A mesma blusa suja, o mesmo dinheiro rasgado e as moedas do ônibus indo pra mesa do bar.

Hoje é um novo dia, reinventar a sua própria hora.
Grita pro mundo que é Deus pedindo esmola,
Chega logo.
Hoje cresci de um tanto que as paredes demoram, e meu encontro com o absurdo é mais válido que os lábios longe dos meus, palavras sem acento que espera na porta.
Chega logo,
Pede socorro e envia pela correio,
Eu tô indo embora.

Escuta que o poema mais bonito persegue meus melhores medos, demônios, gavetas cheio de brinquedos nunca comprados pela falta de família ou um pai, apeteço.

Convide a todos para a festa,
Cancela o ônibus na portaria
E vamos rodar a cidade com isqueiros sem gás.

Agora, fala com o dono do bar do Jorge
Me traz a conta pra pagar esse poema!
A vista, você lê!



AS MULHERES QUE GUARDAVAM POETAS ESFAQUEADOS NA ESTANTE EMPOEIRADA DA VIDA

Os poemas que tinham medo de altura,
As crises de asma por culpa dos isqueiros acesos
As loucuras de dizer o nome dos seus medos

Era apenas um dia entre a pausa que o mundo fez pra te ver passar na minha vida

Libélulas dançando no Sol gasoso
Borboletas criando bonsais no estômago,
Bitucas guardadas no meio de livros,
Sua boca cortada com o beijo que nunca te dei

Deus despertando o mundo e voltando a dormir
Os poetas roubando chicletes nos postos
Os rádios funcionando aos gritos
Anjos cortando a grama no quintal da vida

Os poemas que tinham medo de altura,
As garotas desperdiçando maquiagem
O céu caindo confetes e velas acendidas
Nascendo no meio da boca, um céu

Aos que desligam a luz depois de dormir,
O sono arrumando a cama no meio da rua.
A lua dançando com as nuvens,
Meu peito talhando seu nome na madeira das minhas costelas

A parte do poema que foi censurado,
A carta de amor queimada e o calendário de supermercado atrasando meses.

A língua do vento entre os gostos da chuva,
Os olhos que não viram você dizer
Eu li seu poema antes dele terminar comigo.

Os poemas que tinham medo do fim.






 IV

Você pode acordar pela manhã e digitar um poema imbecil sobre acordar de manhã
Você pode decidir não escrever mais poemas pela manhã e largar de ser um imbecil,
Ou apenas comprar uma Coca- Cola e ouvir Foo fighters achando que ainda está na moda.

Mas você sabe bem que não consegue mais nada disso e seus dezesseis anos já foram embora juntamente com suas receitas médicas cardíacas e todas as cicatrizes nos joelhos.
Mas você não consegue ver alguma faísca e ainda acha que inspiração ou linha de pensamento existem de verdade,
E você sabe bem o quão babaca que isso faz você parecer.

Você não pode deixar a coragem de dizer pra si mesmo que não é simplesmente acordar pela manhã e escrever de novo
um poema sobre acordar de manhã,
Você nem ao menos consegue ficar acordado para assinar as solicitações de despejo da vida dos outros,
E os outros que acordam em diferentes horas não leem seus poemas dias alguns,
Nem nos dias que eles já leram algo, eles não aceitam essa noção de leitura.

Mas imagina se você conseguisse superar isso,
Mas imagina que fantasioso o Sol explodindo em cada mascar de chiclete.
E saber que os planetas no céu da sua boca tem nome das pessoas que se ama como diferentes constelações,
Mas você não se prepara para isso,
e só escreve esquecendo de acordar pela manhã.

Você não planeja sua vida antes dos quinze,
Você nunca fez ideia sobre seus vícios, mas mesmo assim, escreve eles.
Você pode até ser interessante e acordar de manhã comendo frutas e bebendo dois litros de água,
que serão vomitados após o almoço,
Como qualquer poema que tenta ser escrito pela manhã
nos finais de semana.






POR QUE LEMOS ESSES POEMAS E NOS ABRAÇAMOS COM NOSSAS UNHAS ROÍDAS, OS CABELOS CORTADOS E NOSSAS FERIDAS NA ALMA?

Pra que assistimos esses filmes do fim ao começo, as fitas cassetes enroladas na nossa memória
Por que deixamos as compras em cima da mesa na cozinha, as geladeiras abertas e os potes de maionese vazios
Por que andamos pulando as rachaduras das calçadas, os buracos, e caminhando em cima dos meios-fios
Por que apertar todos esses botões do elevador, os prédios iluminados e corredores vazios na madrugada de hotéis cheios de sonhos e abandonados no meio de ruas congestionadas
Você sempre procurou as chaves de casa debaixo dos tapetes e atrás dos vasos, os bolsos furados, e nunca se lembrava de levar os dedos nos espaços apertados da bolsa
Então para que fechar a janela do banheiro para se desenhar nuvens no vidro do box embaçado dentro das nossas lembranças daquele lugar, os banhos mais demorados são donos de pensamentos tristes e amores perdidos
Era por que você batia palmas nos corredores dos supermercados as onze da noite, bebidas e maços perdidos em festas nas madrugadas da nossa felicidade depois da gente ter se encontrado
Quem chamou o Uber de madrugada pra eu levar as colheres de madrugada mesmo sabendo que a noite era vazia demais para se pensar em sexo e canções do Radiohead, sobremesas escondidas no fundo das nossas geladeiras
Por que assistimos aqueles videotapes de quando eramos crianças fantasiados no natal, as lareiras que construímos nos nossos sonhos para os presentes trocados chegarem até nós
Por que então a saudade aperta quando a fotografia se esconde nos bolsos que nunca usamos e um dia procuramos nossa carteira, as ligações a cobrar que me fizeram lembrar de você
Para que então você não diz logo que o amor é as lágrimas que escorreram no seu rosto nos dias que eu não pude ir te ver por conta daquela chuva que peguei no caminho?
Porque ai, descobriremos o verdadeiro significado das feridas curadas nosso peito cheio de curativos adesivos logo após conhecer alguém que amou limpar seu rosto depois de ler um poema desses e pediu para ficar!
fica?!






MORDI TUA ALMA E VOCÊ CUSPIU UM ''UI''

Vai tomar no cu,
tira saporra daqui e lê direito,
barulho chato de ventilador.

Dois versos e me conta, ficou maneiro? bom? Supimpa? Delicinha!!!
Me canta as canções de fim de dia, começo de bombardeamentos nos prédios locais ou as do pulsar do peito mesmo, vai que né, a gente chora no fim do por de você, Sol.

Cheira minha nuca e faz carim no cotovelo da minha felicidade,
chuta uns balde e esquece as goteiras do seu coração descongelando geladeiras do passado.

É assim que eu faço um bolo de chocolate, com sabor de H2ódio pelos corredores da casa,
derramando cobertura pelos travesseiros

E é neste ponto que eu me pergunto,
é considerado poesia?
Teu grito no corredor, e os olhos de sono
anunciando nossos sonhos intranquilos.

Liga pra mim a cobrar, te conto tudo de minha
Poesia, mas não lembro seu sobrenome
Deitei sobre seu braço e não senti sua correnteza,
sentei sobre a eternidade
Pra te ver passar.






O AMOR É UM TRABALHADOR RURAL ESCREVENDO UM LIVRO NA CAÇAMBA DE UM CAMINHÃO SEM FREIO E DOCUMENTAÇÃO


O amor levanta cedo antes de ver a planície acordar
Pega sua sacola e calça suas botas batidas de barro pra ir na boleia de um caminhão
Contrabandeando armas e drogas, mas o amor continua a estrada pra conseguir seu sustento.
O amor leva uma faca no bolso pra cortar as unhas roídas do tempo.
O amor usa chapéu de palha e espera a chuva sentado na janela,
O amor é as moedas restantes de um corote.
O amor compra fósforos e queima os dedos acendendo cigarros bolados na mão.
O amor briga na rua e não tem tv em casa.
O amor não sabe fazer balisa e nunca entrou em um banheiro de aeroporto.
O amor dorme nas madrugadas do terminal central
E faz mandinga ouvindo Russo passapusso.
O amor espera a água esquentar pra tomar banho
O amor tem galos nos dedos e tinta verniz nas roupas.
O amor tem um cachorro perdido na outra cidade.
O amor é um morador de rua colecionando papelão.
O amor é a última página em branco do seu livro mais odiado.
O amor não lê
Ele não dissemina palavras pra depois ninguém achar que ele sabia de você.
O amor compra parcelado e tem o nome sujo,
O amor senta na praça e desiste de chegar na sua porta.
O amor é você pedindo um isqueiro pro seu maço.
O amor tem medo de para-raios e fios de eletricidade.
O amor é Panela quente com chocolate endurecido no fundo.
O amor é o arroz queimado e as latas de cerveja amassadas em cima da nossa existência.
O amor sente dor nas costas e sorri pra estranhos nas esquinas.
O amor nunca frequenta as melhores festas porque ele não tem roupa pra entrar.
O amor mente que mora fora pra você sempre comprar passagens de vinda.
O amor é um trabalhador rural lendo O Apanhador no Campo de Centeio
E nunca soube escrever seu nome.
O amor tem uma identidade de 1967.





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Felipe Ribeiro, 20 anos, escreve e acompanha a cena independente da cidade de Uberlândia há cinco anos. Organiza pelas noites (fazendo parte do Coletivo O Ponto - Coletivo de Arte) vários saraus mensais, e apresenta seus poemas pelas Noites Literárias (Editora Subsolo). Está com o projeto do seu primeiro livro em andamento. Divulga seus poemas e contos publicando pela páginahttps://www.facebook.com/Poetacaminhante/


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