SEM TETO, SEM CHÃO
À espera do voo,
olhos aguardam no painel de controle
a possibilidade exígua
de comunicação dos signos.
A dor vê-se sob a lupa
da interrogação.
O amor, em sua ilusão,
roga a Cronos
a passagem das horas
em um átimo.
A aeronave e o sonho
resistem a deixar o pátio.
TEATRO
O vizinho do andar de baixo
encontrou-a sozinha
na fila do teatro.
Falaram sobre a vida e sobre como
as pessoas andam estranhas.
Aquela amizade crescia,
à medida que a fila andava.
Hoje seu melhor amigo
entrou no elevador e
não lhe disse um bom-dia.
A peça que viram já saiu de cartaz...
DE MALAS PRONTAS
Desligar as luzes
Fechar as janelas
Trancar a porta
Abrir a bagagem do desconhecido
e desorganizar sentimentos...
Viajar é perscrutar a casa
que levamos dentro
COMO?
Como definir o tempo de estância após reter o fugidio gesto
se
a tranca enguiçou?
Como esperar sem anseio pelo que nunca virá de onde veio
por
qual vontade for?
Como suportar o sussurro na porta diante da conhecida fresta
por
onde o vento passou?
Como ficar aqui sozinha
a desfazer nossa teia
urdida com grossa linha?
Como terminar o poema
se esta tristeza demora?
QUADRO
Natureza
morrendo
no fundo
branco
da vista.
Emparedada
pintura
alheia à prova
indelével
do artista.
Residente em Brasília desde 1972, Noélia Ribeiro tem poemas publicados em diversas coletâneas, jornais e revistas brasileiras. Declama seus poemas em shows, saraus e movimentos poéticos realizados no DF e, eventualmente, em saraus no Rio de Janeiro. Formada em Letras pela UnB, lançou seu primeiro livro de poemas Expectativa em 1982. No final de 2009, lançou Atarantada (Editora Verbis), já na segunda edição. Em 2015 lançou Escalafobética (Editora Vidráguas), e em 2017 este Escalafobética, pela Editora Penalux.