NO REINO DOS HOMENS
I – MAR
O mar,
A busca do crepúsculo perfeito,
Com seus braços de canção e medo,
Os hinos do mar,
Sonhos turbulentos
Dos meus barcos navegando a esmo
A pintura e o segredo,
O mar, imensa estátua
De mito e desej
Com seus oboés de mistério,
Abismo, degredo,
O mar desvenda seus nervos
Nestes versos de rochedo.
O mar, o teatro do mar
Na travessia dos enredos,
Os símbolos do mundo
Pelo mar adentro.
O lar,
Homens de mar e medo
Perdem os séculos
E vão lembrando os segredos.
IV – MÚSICA
A arte
Esculpe os séculos em música
No ventre sinfônico da terra.
Mozart me pergunta das estrelas,
E o último cego, comovido,
Lê a música em meu corpo.
Há uma espécie de dança,
Estátuas detentoras de um rio
De traços rudes,
Num sonho estranho de pontes.
O que é aquilo
Que grita ao longe?
E vemos os séculos
Em caminhos ocultos,
Ao som das pontes.
De onde vem
Este som oculto?
E vemos as pontes
Gritando ao longe
O caminho dos séculos.
Oboé e arabesco: a escultura,
Séculos de mito e de música
Pelos discursos do tempo,
Eis a festa da idade, o tenso
Silêncio das águas
Nomeando a beleza.
Estes são os hinos e os mares:
Oboé e arabesco,
A escultura do tempo,
Homens de mito e de música
Pelos séculos em silêncio.
Vindos de um apogeu sem idade,
Pela sombra musical das barcas,
Navegando a arte, a escultura
De um ventre marinho
Pelos oboés de novembro.
O corpo navega em acordes a dança,
Os marinheiros cegos
Musicam as cidades
Pela herança.
O tempo promete uma pintura secreta
No ventre de uma pintura, de uma promessa,
O segredo,
Com sua música silenciosa,
Música para o silêncio.
Um estrangeiro
Diz a canção do medo.
A escultura
De um clarim que flauta
Faz nascer o hino
Que canta no homem
As vozes de estrela.
Um arabesco me sonha, em harpa,
Oboé ao temor
De minhas metáforas.
Nas estrelas
Um homem está cego na música.
Nutre-se,
Cego na música das estrelas.
E os símbolos partem imensos pela cantiga.
III – SUBTERRÂNEOS DA MÚSICA
Tenho as idades
Que cantam as mãos.
Ouço teu nome: fonte
Em ventre estrangeiro,
Muy peligrosa melodia
Pelos dias que se desfazem
Em teu nome, escultura de fogo
A dizer torres persas,
Movimento de barcos
Quando passam em pontes
Vertendo a canção
Das mulheres estrangeiras
Pelas terras inóspitas
Nas órbitas do sonho, música
De uma arte que se faz em silêncio,
Com o dom das ruínas, brumas
Dos hinos esquecidos
Pela memória dos séculos,
Sonho de barco estrangeiro
Em luz perigosa, pelos faróis
Do outono, sono
Dos que se encontram abaixo,
Nos subterrâneos do nome,
Mudos em sua elegia,
Em seu mistério de pontes, música
Dos oboés que se olham
Pela floresta sinfônica
Das melodias inaudíveis em medo,
Pelo tempo dos barcos, dos cantos,
Das musas inóspitas
Navegarem a órbita
Dos séculos perigosos,
No silêncio do outono,
Pelas distâncias estrangeiras
Em que a mulher e o homem se olham,
Celebram seus hinos
Em fascínio, lamento,
Com seus nomes feitos de ponte
E de música, em cantigas perigosas,
Nomes de abismo e de fogo
Pelos séculos sem memória,
Propensos à arte do labirinto,
Eis a fonte perigosa, a escultura
No silêncio das cantigas de outono,
Pelas terras distantes, os esquecidos
Refazem o barco, em sonho,
E nós conversamos a música
Pelas idades que cantam as mãos.
Pelas idades que cantam as mãos,
Nós conversamos a música,
Os esquecidos refazem o barco,
Em sonho, pelas terras distantes,
No silêncio das cantigas de outono,
Onde as mulheres refazem o hino,
Em sua fonte esculpem o labirinto,
A arte dos séculos sem memória,
No abismo dos nomes de fogo
E de música, em cantigas perigosas,
Crianças de mito e de ponte
Em lamento celebram seus hinos,
Onde a mulher e o homem se olham
Pelas distâncias estrangeiras do outono,
No silêncio dos séculos perigosos,
As musas inóspitas navegam a órbita
No tempo dos barcos, dos cantos,
Com melodias inaudíveis em medo,
Pela floresta sinfônica
Dos oboés que se olham
Em seu mistério de pontes e música,
Mudos em sua elegia,
No subterrâneo dos nomes
Que se encontram abaixo do outono,
Sono em luz perigosa, pelos faróis
Dos séculos estrangeiros,
Na memória dos barcos,
Dos hinos esquecidos,
O dom das ruínas, em brumas
Refaz a arte em silêncio,
Nas órbitas do sonho, música
Das terras inóspitas,
Vertendo a canção
Quando passam em pontes,
Movimento de barcos
A dizer em teu nome
Torre persa, escultura de fogo
Pelos dias que navegam
Muy peligrosa melodia
Em ventre estrangeiro
E ouvem o nome: fonte
Que canta a idade nas mãos.
As musas se desfazem
Pelos dias estrangeiros,
Cantam o abismo da idade
Em oboés perigosos.
Misteriosas mulheres de bruma
Esculpem os séculos em música.
Pela floresta de torres e hino,
Navegam o tempo e o labirinto.
Nas órbitas inóspitas,
Vemos o nome do outono,
Os barcos celebram as ruínas
No ventre sinfônico da terra.
A melodia das pontes
Esquece as distâncias,
Navega em sonho
As cantigas de fogo.
Arte e memória.
A terra se olha
No canto das mãos,
E nós ouvimos a fonte.
Ilustração:Felipe Stefani
André Setti é poeta, professor particular de inglês e tradutor há mais de 15 anos. Publicou Teatro das Horas pelas Edições K (2005). Tem poemas publicados em revistas online como a Zunai, Prosa Verso e Arte, Desenredos e Bestiário/Máquina do Mundo. Reside em São Paulo (SP)
.