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8 poemas de Kissyan Castro

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CARBONO 14

Pensar a pedra
como atrás fora
o ser, é do chão.

A pedra que dentro
diz da criatura
seu peso-réu
de ambição. (De quem

o novo erro?)

Nosso verbo se iguala
ao dos dinossauros:

adubos de um paraíso além.



TIPOIA

Sobre o rio trabalhado
algo além da mesma ave
pulsa no viés de sua órbita.

Algo que se elabora
dum quase inascido voo.

(Danificada asa sem apoio
senão o da paz traída
no avesso nenhum

de um deus subtraído)
Exato (posto que concluído),
inclina-se habitual

em seu vir desnecessário, o canto.


FÊNIX

Um corpo
para que o pó o plume
da pedra que o pena,

que pena
é peso de pálpebras
na palha após
do tempo.

A pena
que é do pássaro
o sempre depois
no próprio pó
a repetir-se.



LIÇÃO GASTRONÔMICA

À maneira dos peixes
no paladar dos mares,

as línguas do silêncio
nadam juntas no pó.

Ó cardápio em mim
onde sem pai naufrago:

és o que de Deus cabe
quando porto nenhum.



ALA OBSTÉTRICA

Sem centro ou cohab onde habite,
vivo a guitarrear teu sexo
como um pássaro hemorrágico.

Palavra de um só cadáver
para a selfie que é de dois
no céu inverso do umbigo.

Eternidade – este biombo
da garganta até o Hades
do vocábulo por dentro.

Eternidade – esta maca
no vazio a ser dos ossos
um deus nascendo da cloaca.



ENKIDU REVISITADO
  
Séculos de vitrais ganindo
sua chaga ambígua e recôndita;

séculos a arrojar de si
andrajos do orgânico aço

(O céu sucumbe sem mapa
quando da boca os animais
tornam navegável o abismo),

até que o vocábulo em trépano
rasgue os caibros da eternidade

no piscar de olhos de um morto.

  
NICODEMOS À NOITE
  
A água passa e resta a gente voltar ao Dia
em que as vacas espúrias flamejam nas pálpebras,
quando a perna suspende o azul no abrir do estábulo:

Morro! e resta em Deus o ganir dos eucaliptos.



INVENTÁRIO 

Não tive ouro ou gado que me valha
neste pasto-imposto
cobrado à sanha de metralha.

(em vez de dólar dolo,
o duplo das vezes, fezes)

Não tive ouro ou gado que me valha
neste pasto feito excremento.

O silêncio atroz que me navalha
é tudo o que hoje ostento.



Ilustrações: One Word Photo


Kissyan Castro – poeta e pesquisador maranhense. Autor dos livros Vau do Jaboque (2005), Bodas de Pedra (2013), Maranhão Sobrinho – Poesia Esparsa (2015) Rio Conjugal(Ética, 2016) e O Estreito de Éden (2017). Tem poemas publicados em alguns sites e revistas como Germina e Portal de Poesia Ibero-Americana, de Antonio Miranda. Atualmente colabora no site www.barradocorda.com. Bacharel em Teologia, servidor público, membro efetivo da Academia Barra-Cordense de Letras e, nas horas vagas, professor de grego clássico.



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