PIRÂMIDE
o tirano e sua ânsia de fustigar formigas
se esquece dos vespeiros
eles nos tornam sobreviventes
talvez a forma mais perversa de testar
a fragilidade das próprias certezas
sempre há nova maneira
de forçar as barragens
a carrapeta sonha estremecer a base
uma ocular à espreita
o sono leve do grampo
toda armadilha se disfarça aberta e íntegra
e quando se sabe vai em uma só direção
o crocodilo dorme
com a inteireza de quem não espera nada em troca
e nele o susto repousa
em velocidades incontáveis
eterna vendeta
de tão antiga se proclama
justa como o preço da fome
quiçá efeito da atmosfera presente
o massacre como autodefesa
a variedade nas formas de apressar
a justa divisa
de migalha em migalha
cada miserável chega
à musculatura de um atlas
Luiz Coelho (1984-) nasceu e vive no Rio de Janeiro. Poeta, pesquisador, revisor e, desde 2017, professor do IFRJ (Volta Redonda). Autor de agulhas descartáveis (2012). Figura em Hágalo Despacio (2013). Publicou poemas na revista Modo de Usar & Co., no Plástico Bolha, e no site da escamandro. Publica de forma intermitente neste endereço: https://medium.com/@luizcoelho_94667