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5 poemas de Wander Porto

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CHANEL Nº SEU

O sono quebrou-me na noite
Em lentas quadras de ocaso

As luzes de azuis doídos
Solaram vozes e tubas de blues
Em versos submersos de Orleans.

Ventos puseram-se a compor
Tristes Suítes, Suítes Katrinas
Delírios! Loucos temas de amor.

Desassossegos foram convocados
Por guitarras de aço, árias violinas
E um trompete engasgado de horror

Dos subterrâneos do Vaticano, uns
Do terror de mãos amargas, outros
Das esquinas de Brasília, mais alguns...

-Vou multiplicar-te de amor!
Na expectativa dos gemidos em ais
Ressuscitados dos pecados da maçã:

-Vou multiplicar-te de amor!
No manifesto da fêmea farta e bela
Na lúdica foz da tua boca de gula:

-Vou multiplicar-te de amor!
Por longas marginais de lascívia
Em línguas vivas de sonhos loucos:

-Vou, e vou sempre além do breve
Entre sussurros de deuses libertinos
Cumprindo líquidos desejos de fogo:

-Vou multiplicar-te de amor!
No ruir da minha sabedoria
Nas brisas do teu hálito
De Chanel nº Seu.


___ UM SAX NA NOITE ___

Ali, na esquina de uma sombra,
Uma florista oferta-se
A um crisântemo solitário,

Ali, no fastio de um desencanto,
Um triste recusa abraços
Por incompatibilidade de afetos,

Ali, no estreito de uma existência,
Um semideus prostitui-se
Por ralos vinténs de companhia,

Ali, nas cercanias de um tempo,
Uma mulher arrebata-se
Com o verso delirante de um poeta,

Ali, no espanto de um poema,
Um poeta deslumbra-se
Com uma mulher de delirante nudez,

Ali, no cardápio de um dia,
Um desejo requenta-se
Na fornalha imensa de um beijo,

Ali, no estrondo de uns olhos,
Uma ausência anuncia-se
Como a última lágrima de uma saudade,

Ali, no delírio dos sexos,
Uma cizânia destroça
A imensidão dos carinhos,

Ali, no compasso da ária,
Um violino acredita-se
O portador dos retornos,

Ali, no coração da noite
Um alarido instala-se
Na garganta dos alucinados,

Ali, na estupidez dos poderes,
Um fuzil de infâmias
Assassina o caráter dos homens,

Ali, um cadáver insepulto,
Questiona os passantes:
-Como, quando, onde a farsa se completa?

Ali, na gangorra das mãos vazias,
Um nada, um sapienszinho qualquer,
Implora por uma puta para o parir.


Aqui, em mim,
Um sax grita teu nome na noite...



MOVIMENTOS VITAIS PARA ENCANTAR MANHÃS

I-

Doce é a Hora da Trégua,
Feliz é o Tempo do Moço,
Breve é a Vida que Míngua,
Lento é o Passo do Triste,
Morto é o Tempo no Poço,

Sempre é o Sol que a tudo Resiste!

Rude é o Curto e Grosso,
Feroz é o Sangue em Riste,
Voraz é o Fogo no Cerne,
Duro é o Dente no Osso,
Veloz é o Verme na Carne:

II-

Negocia tua Dor com o Corpo,
Replanta tua Pedra nas Obras,
Combina teu Sonho com o Tempo,
Erga tua História das Sobras;

III-

Reduza teus Choros a Gestos,
Reponha tuas Garras na Lida,
Componha teus Rocks na Noite
E Grita o teu verso pela Vida;

IV-

Canta teu Canto, Encante as Casas,
Beba a Manhã com tua Boca sem Fundo,
Espalha teu Brilho, Abra tuas Asas,
Solta tua Voz pelas Portas do Mundo:

V-

Canta, canta muito, canta tudo,
Canta ao vento a tua nova risada,
Canta poemas pelos tempos a fora,
Canta teu amor pela mulher amada,
Componha teu sonho, canta tua fala
Que verso triste não é verso que chora,
Verso triste, Cara,é verso que cala!



VEM TATUAR TUA ALMA NA PELE DOS MEUS OLHOS 

-Oi,
Vem
Chama teus absurdos medos
Convoca tuas loucas coragens
Traz o abismo das tuas dúvidas
E vem comigo para o oceano das perguntas

-Oi,
Vem
Pé após pé no rés do chão
Mão com mão nas mãos da vida
Vamos arrombar o cofre do mundo
E dele exercer nossas melhores respostas

-Oi,
Vem
Sinta minha pele,
Ela é a campina do tempo
E a relva macia de doce orvalho
Onde repousarás a nudez do teu coração

-Oi,
Vem
Sobe nos meus passos
Eles são as pedras do dia
Sob a lâmina molhada da noite
Para não te afundares no segredo dos homens

-Oi,
Vem
Acende-te nos meus olhos
Observa o meu lago de lágrimas
Na hora certa elas aguarão as poeiras
Quando os caminhos se perderem na imensidão

-Oi,
Vem
Ajunta-te às minhas mãos
Elas são as formas que tenho
De dizer ao silêncio do teu corpo
Que minha alma vive onde tua alma pulsa

-Oi,
Vem
Sonha com meus sonhos
Eles são as formas de paz
E as garantias do pensamento claro
Que dedico à pureza, na sagração do amor

-Oi,
Vem
Bebe a minha boca
Ela é saliva que lava os gestos
E o beijo íntegro que renova e cura
As feridas desconcertantes das recusas da vida

-Oi,
Vem
Engole a minha poesia
Ela traz estrofes de riso
E mil sonetos de divergências
Um para cada conflito com os teus instantes

-Oi,
Vem
Cavalguemos o alazão dos espantos
Deus místico de longas crinas em chamas 
E infinitos galopes de vento

Cavalguemos o alazão dos encantos,
Deus mítico dos sangues amáveis
E das nossas carnes íntegras

Cavalguemos o alazão dos intentos,
Deus lírico confessor dos desejos
E abençoador dos nossos líquidos
No altar sagrado de um desvairado poema de amor.


TOM & DOLORES

Vai, Linda Mulher Amada,
Alça teu vôo, 
Sobe, 
Sobe, 
Voa,
Vai ao Mundo,
Vai clarear outros olhos,
Vai inventar novos dias,
Vai refazer teus sonhos,


Vai, Minha Pássara Doida,
Vai ao Mundo,
Vai recompor tuas seivas,
Vai imantar teu Norte,
Vai navegar tua estrela,


Vai, Minha Alada Deusa,
Vai ao Mundo,
Vai destilar teus desejos,
Vai deslembrar teus amargos,
Vai bailar teu Tango Argentino,


Vai, Minha Fêmea Adorada,
Vai ao Mundo,
Vai sorver a seiva fresca dos ipês,
Vai jogar migalhas de pão aos peixes,
Vai ouvir a grama brotar sob teus pés,


Vai, Farol da Minha Alma,
Que o Mundo precisa te conhecer,
Que a Vida carece dos teus brilhos,
Que o Espaço implora teus contornos,
Que o Tempo solicita teus momentos,
Que a Luz requer as centelhas do teu brilho,
Que os deuses da Alegria fenecem sem teu Riso
E o Real e a Ficção não existem sem a tua essência.


Vai, Meu Lindo Amor,
Meu Gentil Amor,
Meu Inteiro Amor,
Vai ao Mundo,
Vai buscar teus caminhos,
Teus novos folguedos,
Teus novos prazeres,

Vai, Sol das Manhãs,
Vai ao Mundo
Que eu vou por aqui
Solando o Cântico Negro
Por mim adentro

E, num elogio a Pessoa,
Vou fingindo desamor
Que uma hora,
Uma hora qualquer,
Hoje, amanhã ou depois,
De tanto fingir e fingir
Deixarei de me amar
E não me amando
Não mais te amarei!

Vai, Minha Amiga,
Minha Estrela,
Vai ser feliz!


 Galeria: Wander Porto





Wander Porto é de Patos de Minas onde vive suas idades desde 1950, trazendo na bagagem dois livros já esgotados, SOPRO DA MADRUGADA, de poemas e MUITO PRAZER, TODO MEU de contos ligeiros. No mais, além de um impermanência andarilha para lapidação de vivências com as ferramentas do conhecimento e voraz tradutor de desejos, é coadjuvante de canções e artesão de poemas.

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