Desamparo
tanto tempo
sem rabiscar
uma linha
parece até
que a Musa
mudou de país
e a poesia
ainda não sabe
o endereço
das palavras.
sem rabiscar
uma linha
parece até
que a Musa
mudou de país
e a poesia
ainda não sabe
o endereço
das palavras.
A tempestade
roupas secas
no varal
corro
pra não molhar
e o neném
atras de mim
é todo
brilho nos olhos
cobrando
a minha atenção
: olha
olha
olha papai
que lindo
o trovão aceso.
no varal
corro
pra não molhar
e o neném
atras de mim
é todo
brilho nos olhos
cobrando
a minha atenção
: olha
olha
olha papai
que lindo
o trovão aceso.
Teimosia
a vara
é curta
a oração
é curta
a poesia
é curta
a vida
é curta
- ainda
assim
não deixo
de cutucar
: deus
o diabo
o leitor
e o tempo.
é curta
a oração
é curta
a poesia
é curta
a vida
é curta
- ainda
assim
não deixo
de cutucar
: deus
o diabo
o leitor
e o tempo.
à Cérbero
o passado
o presente
o futuro
três ossos
do mesmo
tamanho.
o presente
o futuro
três ossos
do mesmo
tamanho.
Semanal
meus dias
de folga
são invertebrados
: todos os outros
eu desosso.
de folga
são invertebrados
: todos os outros
eu desosso.
Capetalismo
três dias
de Alma
eu paguei
ao diabo
o botijão
e o gás
só o fogo
deus
Prometeu
de Alma
eu paguei
ao diabo
o botijão
e o gás
só o fogo
deus
Prometeu
Abissal
meus olhos
sonhavam dilúvios
eu cavei
com as mãos
um poço
no fundo escuro
do poço
quase
morri afogado
eu cavei
com os olhos
um céu
no fundo falso
do mundo
até que
não pude mais
eu cavei
um poema
e parei
minhas unhas
sonhavam asas.
sonhavam dilúvios
eu cavei
com as mãos
um poço
no fundo escuro
do poço
quase
morri afogado
eu cavei
com os olhos
um céu
no fundo falso
do mundo
até que
não pude mais
eu cavei
um poema
e parei
minhas unhas
sonhavam asas.
Reintegração
Enfim quando tudo
fizer sentido
no meu último sonho
quero ser asas
mesmo sabendo
desnecessárias
e inúteis como remos
ou pedras ou nada
tudo fere e desfigura
esse frágil aqui agora
(breve alucinação
do espelho d'água)
lentamente anoitece
só quero ter mãos
saberei o rosto de deus
tocando o meu.
fizer sentido
no meu último sonho
quero ser asas
mesmo sabendo
desnecessárias
e inúteis como remos
ou pedras ou nada
tudo fere e desfigura
esse frágil aqui agora
(breve alucinação
do espelho d'água)
lentamente anoitece
só quero ter mãos
saberei o rosto de deus
tocando o meu.
Galeria; Ricardo Tavares
Wilson Guanais - Bastos, SP 1972. Mais de 10 livros publicados e participação em 150 antologias. Com a Penalux publicou os livros:Em noites de sol,De sonho e de lama,A casca da casca (ou o lado de dentro),Em branco silêncio.