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8 poemas de Wilson Guanais

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Desamparo


tanto tempo
sem rabiscar
uma linha

parece até
que a Musa
mudou de país

e a poesia
ainda não sabe

o endereço
das palavras.


A tempestade

roupas secas
no varal
corro
pra não molhar

e o neném
atras de mim

é todo
brilho nos olhos
cobrando
a minha atenção

: olha
olha
olha papai
que lindo
o trovão aceso.


Teimosia

a vara
é curta
a oração
é curta
a poesia
é curta
a vida
é curta

- ainda
assim
não deixo
de cutucar

: deus
o diabo
o leitor
e o tempo.


à Cérbero

o passado
o presente
o futuro

três ossos
do mesmo
tamanho.


Semanal

meus dias
de folga
são invertebrados

: todos os outros
eu desosso.


Capetalismo

três dias
de Alma
eu paguei

ao diabo
o botijão
e o gás

só o fogo
deus
Prometeu


Abissal

meus olhos
sonhavam dilúvios
eu cavei
com as mãos
um poço

no fundo escuro
do poço

quase
morri afogado
eu cavei
com os olhos
um céu

no fundo falso
do mundo

até que
não pude mais
eu cavei
um poema
e parei

minhas unhas
sonhavam asas.


Reintegração

Enfim quando tudo
fizer sentido
no meu último sonho
quero ser asas

mesmo sabendo
desnecessárias
e inúteis como remos
ou pedras ou nada

tudo fere e desfigura
esse frágil aqui agora
(breve alucinação
do espelho d'água)

lentamente anoitece
só quero ter mãos
saberei o rosto de deus
tocando o meu.

Galeria; Ricardo Tavares


Wilson Guanais - Bastos, SP 1972. Mais de 10 livros publicados e participação em  150 antologias. Com  a Penalux publicou os livros:Em noites de sol,De sonho e de lama,A casca da casca (ou o lado de dentro),Em branco silêncio.

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