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alberto lins caldas





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rien a foutre




i

● nada nas mãos nada nos bolsos ●
● a lingua em brasa e ninguem jamais ninguem ●
● a quem dizer esse silencio ate o osso ●
● essa dor esse pensar q atravessa cordilheiras ●
● a agua querendo sonhar voltando pra fonte ●
● as ruas as ruas e chove chove demais as ruas ●
● aqui chove sempre demais e essa dor essa dor ●

● nada nas mãos nada nos bolsos ●
● ?quem sabe tudo ja passou somos so sombras ●
● sombras de nada do q ja viveu e não sabe ●
● rios de sombras berrando sem sentido ●
● dinheiro boiando em molho azedo de suores ●
● nem carnes nem ossos nem gozo o gozo sim ●
● grilos duros caralhos duros so marionetes ●

● nada nas mãos nada nos bolsos ●
● mundo connar chuva de merda sem saber ●
● quando digo q é muito tarde é tarde ●
● bufa de dinheiro essa atmosfera mofada ●
● sinais de corvos e suas patas na lama ●
● longo tempo isso q foi viver agora so sombra ●
● o q desapareceu inda morde ate a pedra ●

● nada nas mãos nada nos bolsos ●
● a ponte de madeira se curva e se quebra ●
● entre patos idiotas e gaivotas famintas ●
● a ponte as margens q se distanciam sim ●
● porq passaram ha tanto tempo sem razão ●
● aqui chove sempre demais e essa dor a dor ●
● sombras de nada do q não viveu não viveu ●















ii

● arco com a loucura ●
● ergo todo peso corto as cortas abro as velas ●
● arranco com a lamina o dedo q não presta ●
● bebo o sangue jogo o dedo pros peixes ●
● ergome como um bebado filho da puta ●
● olho q o barco se vai e ira ate o fim ●
● mastigo meu tabaco negro gritando pra nada ●

● q se foda o sentido a razão o ritmo ●
● agora sigo as ondas q arranham o barco ●
● como se houvesse do velho xerxes ●
● inda no mar seu esperma de raiva e rancor ●
● olho os peixes voadores sobre a cabeça ●
● dizendo voem mais mais alto sempre ●
● gaviões pra devorar aves e peixes ●

● igual as gaivotas e volto a gargalhar ●
● longe tão longe a margem revoltante e nua ●
● a margem viciada a margem de merda ●
● digo mesmo a margem obscena e asquerosa ●
● longe o largo amargo ate a morte sim ●
● aqui longe da massa viva da pocilga sim ●
● livre e longe disso q suja e pesa sim sim ●

● arco com a loucura ●
● a volta completa com o q se desfaz ●
● se o dedo inda sangra o corpo festeja ●
● basta passar a lingua na madeira podre ●
● pra sentir q viver e morrer é o mesmo ●
● livre assim voltome violento pra margem ●
● q some e grito vão pra puta q os pariu ●















iii

● sei q o leme se quebrou ●
● q as velas tão rasgadas e rotas demais ●
● a madeira do barco apodreceu e se larga ●
● o piloto se enforcou o capitão destroçado ●
● todos sabemos se trancou na cabine ●
● estourou os miolos ou o coração ●
● o resto ja se jogou na agua pros tubarões ●

● é certo q as gaivotas devoram tudo ●
● o q iamos comer e os mortos no conves ●
● agora não ha nem gaivotas nem baleias ●
● nem peixes voadores nem aguasvivas ●
● as ondas sumiram e o mar é um esgoto ●
● cercado de desertos e ossos de baleia ●
● ossos de tudo q nadava e seguia ●

● ate mesmo behemoth é um castelo ●
● de ossos de carnes não devoradas ●
● parece um castelo no horizonte ●
● mas não ha guardas ou pontes levadiças ●
● com certeza nem reis nem bruxos ●
● aqui sentado sinto q não ha janelas ●
● lentas as gaivotas comem meus olhos ●

● nada nas mãos nada nos bolsos ●
● em brasa os dentes devoram a lingua ●
● longe longe demais qualquer margem ●
● as palavras furiosas com ferrões ●
● se destroem por dentro o deserto avança ●
● nas palavras por dentro ate la fora la fora ●
● ?quem sabe tudo ja passou somos so sombras ●

















alberto lins caldas

Publicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “gorgonas” (CEP, Recife, 2008); os romances “senhor krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e “Veneza” (Penalux, Guaratinguetá, 2016), e os livros de poemas "No Interior da Serpente" (Pindorama, Recife, 1987), “minos” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2011), “de corpo presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013), “4x3 - Trílogo in Traduções” (Íbis  Libris, Rio de Janeiro, 2014), com Tavinho Paes e João José de Melo Franco, “a perversa migração das baleias azuis” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2015), “a pequena metafisica dos babuinos de gibraltar” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2016). Blog: 

















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