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Ilustração: Dariuz Klimczak |
desespero temporal
o tempo envelhece na pele da humanidade
os séculos descansam no colo do milênio
o tempo envelhecido caça rã tartaruga
e borboleta
a palavra como fiel secretária
redige entre uma pincelada e outra
a tênue escritura de um só homem
pensamento de um aeronauta
quantas horas de voo
em tua cama
se eu fosse piloto
já estaria dirigindo grandes aeronaves
incesto
o pavio e a gasolina
deitam na incestuosa cama de fósforo
o ato de dormir
engendra um amarelo que queima
a cor nazarena se vê consumida
pelos olhos negros e tristes
que vê o amarelo
levar num arrebatado abraço
o pouco do verde esquecido no rosto
língua postiça
por que tenho tanto receio
do que está por detrás
da clandestina figura mitológica?
do que está por detrás
da clandestina figura mitológica?
a sua língua postiça
nunca produzirá diálogo
nunca produzirá diálogo
para pôr luz no litigioso enigma
loucura
mar se eu te virar
de cabeça para baixo
tu serás o meu céu
pena que ficarei molhado

Jean Narciso Bispo Moura (1980). Poeta, natural de São Félix-BA e reside atualmente em Suzano-SP. Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título A lupa e a sensibilidade, também é autor de 75 ossos para um esqueleto poético (2005); Excursão incógnita (2008); Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (2011)” e Psicologia do efêmero (2013). Tem poemas publicados na Germina, Blecaute, Antonio Miranda, Canal Subversa, Blog do Noblat etc.