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Juri Frantsuzov. Friedrichstraße Berlin. 2007. |
[passeio]
as gentes as amo abstratas
a ti anseio no rijo
na forja de um suicídio hepatocancerígeno
às 4
na abstinência de lírios
vagando em vício
a ti anseio no rijo
na forja de um suicídio hepatocancerígeno
às 4
na abstinência de lírios
vagando em vício
por avenidas flamantes
ouvindo famintas
larvas d’ave
no asfalto infindo
tendo nada além da tenra idade
R$10
o Medo
um último cigarro de minuto após
empesteia de si
ouvindo famintas
larvas d’ave
no asfalto infindo
tendo nada além da tenra idade
R$10
o Medo
um último cigarro de minuto após
empesteia de si
minhas ciências
o arauto da luz
as ideias não me
o arauto da luz
as ideias não me
limpam o cu
vazado
mas no ver-te me curo
me curo
no ver-te.
mas no ver-te me curo
me curo
no ver-te.
…..............…........
[citadino]
fandango pelas calçadas venéreas.
os pés tomando gosto pelo vasto.
meu coração, o templo das misérias.
mil cerrações, quieto e fremente arrasto.
cercado de etéreo, testa ao alto,
candeio – um brinquedo entre os descartes.
os músculos da face em contrassalto,
as mãos a retesar, os olhos vates.
sombrias densidades no vulto das pilastras
– fantasmas da cidade, celeiro de viragens.
bocas descarnadas a rogar rosas nefastas,
minhas alucinadas sutis paixões reagem.
…..............…........
[proxeneta]
revoadas de quiçás circundam céus chagosos.
a bíblia roça o frasco de prozac.
mil engrenagens rangem por shabat que entrave e
fermentam este Moloch de ouro em óleo!
gravatas compõem códigos de henna.
é noite de domingo e a alma não deita.
o inevitável há de ceifar as retas.
gemidos quebram frases de alfazema.
sobre os ossos marcham legiões de pás.
pareceiros das moscas se fundem a andrajos.
extremos tracejam o zanzar dos átomos.
– sou proxeneta, irmão, de ideias mortas!
na janela a tudo, vozes nos cegam pro acre.
aos andarilhos, as odes! aos crematórios, echarpes!
…..............…........
[tu]
queria sentir tua ideia
como um perfume caro
ou narcótico ansiado
que à minh'alma aleija.
e ao chegar a tua forma
deitar as palavras
feito contas desfiadas
sobre um chão de missa.
atracar-me a teu sabor
como um veleiro firme
a envelhecer no porto.
abraçar tua ausência
feito um peregrino
nos porões da fé.
…..............…........
Diego Callazans nasceu em Ilhéus, em julho de 1982, e mora em Aracaju desde abril de 1987. É autor dos livros A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013) e Nódoa (7 Letras, 2015), além do minilivro Blasfêmias (7 Letras, 2015). Publicou poemas e contos em diversas revistas literárias brasileiras. É editor convidado das revistas literárias Mallarmargens e Singularidade, bem como editor-curador da seção sergipana da vindoura revista de poesia Paupéria. Tem poemas incluídos nos livros É agora como nunca: Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea Brasileira (lançado no Brasil pela Companhia das Letras e em Portugal pela Cotovia, sendo ambas as edições de 2017) e Naquela Língua: Cem poemas e alguns mais: Antologia da Novíssima Poesia Brasileira (lançado em Portugal pela Elsinore, em 2016). Seu primeiro livro de contos e seu terceiro livro de versos serão publicados em breve.