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quatro poemas de Diego Callazans

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Juri Frantsuzov. Friedrichstraße Berlin. 2007.


[passeio]

as gentes as amo abstratas
a ti anseio no rijo
                 na forja de um suicídio hepatocancerígeno
                 às 4
                 na abstinência de lírios

        vagando em vício
        por avenidas flamantes

        ouvindo famintas
        larvas d’ave
        no asfalto infindo

        tendo nada além da tenra idade
                                  R$10
                                  o Medo
                                  um último cigarro de minuto após


empesteia de si
minhas ciências
o arauto da luz

as ideias não me
limpam o cu
vazado

                 mas   no ver-te   me curo
                                            me curo
                          no ver-te.


..............…........


[citadino]

fandango pelas calçadas venéreas.
os pés tomando gosto pelo vasto.
meu coração, o templo das misérias.
mil cerrações, quieto e fremente arrasto.

cercado de etéreo, testa ao alto,
candeio – um brinquedo entre os descartes.
os músculos da face em contrassalto,
as mãos a retesar, os olhos vates.

sombrias densidades no vulto das pilastras
fantasmas da cidade, celeiro de viragens.
bocas descarnadas a rogar rosas nefastas,
minhas alucinadas sutis paixões reagem.


..............…........


[proxeneta]

revoadas de quiçás circundam céus chagosos.
a bíblia roça o frasco de prozac.
mil engrenagens rangem por shabat que entrave e
fermentam este Moloch de ouro em óleo!

gravatas compõem códigos de henna.
é noite de domingo e a alma não deita.
o inevitável há de ceifar as retas.
gemidos quebram frases de alfazema.

sobre os ossos marcham legiões de pás.
pareceiros das moscas se fundem a andrajos.
extremos tracejam o zanzar dos átomos.
sou proxeneta, irmão, de ideias mortas!

na janela a tudo, vozes nos cegam pro acre.
aos andarilhos, as odes! aos crematórios, echarpes!


..............…........


[tu]

queria sentir tua ideia
como um perfume caro
ou narcótico ansiado
que à minh'alma aleija.

e ao chegar a tua forma
deitar as palavras
feito contas desfiadas
sobre um chão de missa.

atracar-me a teu sabor
como um veleiro firme
a envelhecer no porto.

abraçar tua ausência
feito um peregrino
nos porões da fé.


..............…........


Diego Callazans nasceu em Ilhéus, em julho de 1982, e mora em Aracaju desde abril de 1987. É autor dos livros A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013) e Nódoa (7 Letras, 2015), além do minilivro Blasfêmias (7 Letras, 2015). Publicou poemas e contos em diversas revistas literárias brasileiras. É editor convidado das revistas literárias Mallarmargens e Singularidade, bem como editor-curador da seção sergipana da vindoura revista de poesia Paupéria. Tem poemas incluídos nos livros É agora como nunca: Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea Brasileira (lançado no Brasil pela Companhia das Letras e em Portugal pela Cotovia, sendo ambas as edições de 2017) e Naquela Língua: Cem poemas e alguns mais: Antologia da Novíssima Poesia Brasileira (lançado em Portugal pela Elsinore, em 2016). Seu primeiro livro de contos e seu terceiro livro de versos serão publicados em breve.

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