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ALBERTO LINS CALDAS




*




poemas em dor maior








quando giungon davanti alla ruina



● will aisner sente muita dor na perna ●
● essa não é bem hora de sentir dores ●
● ouve will aisner q se sente muito mal ●
● sim apenas ficar sentado quase nada ●
● diz will aisner passando a mão na testa ●
● é possivel q uma hora dessas eu morra ●
● diz will aisner estirando a perna q doi ●

● mas isso não sera nada diz will aisner ●
● nenhuma vida nem morte apenas dor ●
● porisso gritam pra will aisner com vigor ●
● essa não é bem hora de sentir dores ●
● o mundo se estraçalha e vc sente dores ●
● will aisner diz passando a mão na testa ●
● inda assim doem minha perna e meu pe ●

● é possivel q uma hora dessas eu morra ●
● mas gritam outra coisa não pela perna ●
● não pelo pe não não por nenhuma dor ●
● q disso ninguem morre ou jamais morreu ●
● assim will aisner se levanta colerico ●
● nem essa porra de desespero ele diz ●
● nem a porra essa porra de falta de ar ●

● essa não é bem hora de sentir dores ●
● berram pra will aisner q se sente mal ●
● o mundo se estraçalha e vc sente dores ●
● ?existe coisa mais dura mais real q a dor ●
● berra will aisner desabando sentado e nu ●
● dor so a dor a dor a dor é o q existe ●
● essa não é bem hora de sentir dores ●

● berram pra will aisner q se sente mal ●
● will aisner se levanta e diz é a dor a dor ●
● a porra da dor a agonia da dor a dor ●
● o desespero da dor é sempre maior q tudo ●
● é possivel q uma hora dessas eu morra ●
● o mundo se estraçalha e vc sente dores ●
● berram pra will aisner q se sente mal ●





creta



● creta ●
● ta sempre longe demais ●
● mesmo aqui ●
● nas praias de creta ●
● é como se tivessemos ●
● no outro lado ●
● na treva suja da lua ●

● mesmo esse azul ●
● cheio de sangue ●
● esse mar de creta ●
● dentro demais ●
● indiferente ●
● como se nunca ●
● pudesse existir ●

● violento ●
● pra afundar navios ●
● violento ●
● pra levar guerreiros ●
● violento ●
● pra todas as guerras ●
● isso podemos sentir ●

● creta ●
● ta sempre longe demais ●
● nem o cheiro amargo ●
● de suor em remoinho ●
● nem o berro ●
● nem o urro ●
● do aborto no abismo ●

● nem o sol q se destroça ●
● nas ondas nem a noite ●
● vermelha nem a chuva ●
● de ferro enferrujado ●
● fuligem sobre ruinas ●
● q rasgadas se dissolvem ●
● poeira no despovoado ●

● como é longo ●
● o caminho ate aqui ●
● isso q chamam de creta ●
● onde o horror ●
● se aninha ●
● meio touro ●
● meio ninguem ●

● creta ●
● ta sempre longe demais ●
● os q chegam aqui ●
● chegam noutro lugar ●
● e abrem ●
● a carne ●
● quando ja é tarde ●

● mesmo q se diga ●
● se grite se berre corre ●
● foge afasta o barco ●
● aproveitem o vento ●
● não terão jamais ●
● o momento da luz ●
● esqueceram as palavras ●

● creta num segundo ●
● devora tudo consome ●
● vomitando nas pedras ●
● q batem nas ondas ●
● o q não resiste ●
● ate o q resiste e luta ●
● assim como eu ●





louvadeus


­­­­
● logo agora ●
● depois dessa longa espera ●
● me aparece esse louvadeus ●
● assim dessa maneira ●
● como se me desejasse ●
● porisso entre suas patas ●
● me arrebata ●
● do chão e começa ●
● a me devorar nessa gula ●
● com essa coisa molhada e dura ●
● q me atravessa e suga ●
● logo agora ●
● depois dessa longa espera ●
● me aparece esse louvadeus ●


● se nada foi feito ●
● é porq vc não é nada nem sera ●
● isso ciciante diz o louvadeus ●
● assim dessa maneira ●
● me devorando com essa gula ●
● com essa coisa molhada e dura ●
● q me atravessa e suga ●


● isso tudo permanece oculto ●
● esse o eixo q se estraçalha ●
● se refazendo no torno ●
● argila e carne sangue e suor ●
● eis a dor eis a fome o louvadeus ●
● esse eixo q se estraçalha ●
● isso q permanece oculto ●
● o sonho do idiota q se alastra ●
● se renovando no torno ●
● sangue e suor argila e carne ●
● logo agora me aparece ●
● esse louvadeus q me arrebata ●
● me atravessa e suga ●
● com essa coisa molhada e dura ●


● mas o dinheiro o dinheiro ●
● mais o dinheiro e sua palavra ●
● q gira o torno e da forma ●
● parece longe mas é o dinheiro ●
● mais dinheiro o louva deus ●
● q me atravessa e suga ●
● com essa coisa molhada e dura ●





fracti

­­­­

● agora temos dele ●
● o corpo quase completo ●
● so falta um dos dedos ●
● duro o da mão direita ●
● porq as mãos vieram ●
● do fundo do rio congo ●
● entre pedras e peixes ●

● os braços da china ●
● pescados no rio amarelo ●
● intactos mesmo azuis ●
● quase roxos e rubros ●
● mas com certeza ●
● são os braços dele ●
● é perfeito o encaixe ●

● no tronco q escavaram ●
● no egito na borda baixa ●
● do deserto quase no mar ●
● quase dentro do nilo ●
● peito barriga e costas ●
● ate o umbigo é dele ●
● pra fora como um falo ●

● as coxas as pernas ●
● essas vieram aos pedaços ●
● do rio madeira mordidas ●
● por tudo q ali devora ●
● com peçonha e morde ●
● a carne e os ossos menos ●
● o caralho q desapareceu ●

● esse inda com certeza ●
● faz a felicidade de todos ●
● os q vivem por ali ●
● carrega tanta força nele ●
● q caminha sozinho e livre ●
● gozando a vida e os corpos ●
● criando desiguais universos ●

● o pescoço veio da grecia ●
● tava entre as colunas ●
● de homero e os salões ●
● de heraclito intacto ●
● como deve ser um pescoço ●
● pra sustentar uma cabeça ●
● uma cabeça como aquela ●

● por enquanto essa cabeça ●
● não foi encontrada ●
● mas temos certeza ●
● q os guerreiros q enviamos ●
● ao alasca de onde chegam ●
● noticias duma descomunal ●
● cabeça virão em ela ●

● se tudo der certo ●
● teremos o corpo quase ●
● inteiro mas se faltar ●
● a lingua não sabemos ●
● o q fazer ou continuar ●
● pra viver essa vida inutil ●
● sem nada poder desfazer ●

● porisso tomamos mescalina ●
● e vinho quente q parece ●
● vinagre escaldante e sujo ●
● se não vier a cabeça ●
● se não encontrarem a lingua ●
● é como se a morte viesse ●
● antes de qualquer revolução ●





odiar

­­­­

● tenho tanto odio ●
● queu viveria mil anos ●
● remoendo esse odio a cabidela ●
● esse odio com aspargos ●
● com cebolas podres ●
● com miolos crus e vazios ●
● com tudo q fere e faz doer ●

● tanto odio q dia ou noite ●
● morderei sem saber ●
● meus dedos dos pes ●
● os dedos das mãos ●
● ate sangrarem ●
● ate serem arrancados ●
● sem q me sacie e me morda ●

● mais e mais e mais ●
● os braços as pernas o tronco ●
● e me mordendo assim ate o fim ●
● me devore como uma cobra ●
● q se devorasse pelo rabo ●
● ate a cabeça sumir ●
● dentro do odio ●

● tenho tanto odio ●
● queu viveria mil anos ●
● praguejando contra tudo q é vivo ●
● contra tudo q ja morreu ou nascera ●
● contra tudo q dança se move é leve ●
● ao redor como ratos como pulgas ●
● eu praguejaria sim sempre sim ●

● depois esfaquearia ●
● pelas ruas escondido na escuridão ●
● quem por mim passasse rindo ●
● quem viesse cansado do trabalho ●
● da bebida do lar dos amigos do gozo ●
● quem viesse sabendo a vida ●
● sem saber o ferrão do escorpião ●

● tanto odio q enquanto esse mundo ●
● não arder ate se tornar lixo e po ●
● brasas frias silencio e dor ●
● não descansarei ●
● porisso não durmo não sonho ●
● ?é dificil entender tudo isso ●
● mas isso somos nos e eu adoro ●

● tenho tanto odio ●
● queu viveria mil anos ●
● sem saber porq tantos odeiam ●
● todos iguais a mim ●
● tantos degustam o odio puro odio ●
● mas se curvam se deixam levar ●
● com medo escondem o odio ●

● vai meu odio esse tanto odio ●
● vai convencer os q odeiam ●
● a sairem pelas ruas pelas casas ●
● pontes estradas praças matadouros ●
● explorar ate matar abertamente ●
● ate abertamente se amar o odio ●
● enfim a grande missão do viver ●

● amar a dor amar a morte ●
● odiar o q junta o q fala o q pensa ●
● amar o odio ate se perder ●
● nesse labirinto de carne e ossos ●
● entulhado de mercadorias e cinzas ●
● onde dinheiro molhado de sangue ●
● boia nos tolos mares do suor ●





maquina tribal

­­­­

● é no porão ●
● q criamos os porcos ●
● todos eles grandes ou miudos ●
● todos devorando a lavagem ●
● agra nos tachos e toneis ●
● porcas gravidas q devoram ●
● famintas filhotes frios ●

● é no porão ●
● q se junta amargo o esterco ●
● é dali q escorre a lama podre ●
● da casa pra rua pelas praças ●
● das casas todas elas cheias ●
● do esterco fluindo dos porões ●
● como uma maquina sem razão ●

● e sangramos os filhotes ●
● antes do primeiro mes ●
● quase todos pra vender ●
● vender vender e vender ●

● é no porão ●
● q se faz esse nosso odor ●
● o mesmo de todas as cidades ●
● a maquina fede a esse porão ●
● o som desse porão é o mesmo ●
● da maquina porcos fudendo ●
● porcos devorando porcos ●

● é no porão ●
● q fazemos o ganha carne ●
● nada velamos tudo é exposto ●
● todos sabem e fazem e fedem ●
● fedemos como fedem pocilgas ●
● fazemos vistas claras ao escuro ●
● e as porcas devoram filhotes ●

● é no porão ●
● q fudemos escondidos ●
● vendo as porcas devorarem ●
● os filhotes frios os filhotes ●
● estranhos negros e tronchos ●
● os q não mamam os pobres ●
● os q atrapalham os vivos ●

● é no porão ●
● q gozamos espiando porcos ●
● fuderem gerando o q vira ●
● batendo no esterco espalhando ●
● travosa a lama pontilhada ●
● pelo esperma gordo dos porcos ●
● o esterco q se amontoa ●

● e sangramos os filhotes ●
● antes do segundo mes ●
● quase todos pra vender ●
● e vender vender vender ●

● é no porão ●
● q aprendemos as palavras ●
● aprendemos a gritar rir e sofrer ●
● sabemos q aqui é a maquina ●
● maquina tribal desses corpos nus ●
● porisso nos reunimos alegres ●
● pra dançar sobre o esterco ●

● é no porão ●
● q dormimos comemos e tudo ●
● com os porcos fudendo ●
● com as porcas devorando ●
● filhotes e assim no redemunho ●
● se fudendo todos nos gozamos ●
● admirando as porcas devorarem ●

● é no porão ●
● q ouvimos o vento aqui dentro ●
● ouvimos os gritos as dores ●
● as mesmas quando sangramos ●
● um porco q não trepa mais ●
● porco velho inchado e cretino ●
● pro nosso repasto aqui mesmo ●

● é no porão ●
● q acendemos fosforos pra ver ●
● a maquina e o malestar apagar ●
● mas so assim vemos as porcas ●
● no agora devorarem os filhotes ●
● vemos os porcos fudendo ●
● so assim vemos a maquina ●

● e sangramos os filhotes ●
● antes do terceiro mes ●
● quase todos pra vender ●
● vender e vender vender ●

● é no porão ●
● q dormimos sobre o esterco ●
● q sonhamos com o esterco ●
● q desejamos ser porcas ●
● q devoram frias os filhotes ●
● quase gozando nos tocamos ●
● enquanto mastigamos carne ●

● é no porão ●
● q nos esquecemos de tudo ●
● basta entrar algo voando ●
● ou com asas quebradas ●
● assim batemos e mordemos ●
● isso ate não restar o q voa ●
● so escuridão e mormaço ●

● é no porão ●
● q é duro tropeçar de cara ●
● no esterco porq frios os porcos ●
● nos rodeiam pra nos devorar ●
● como se fossemos filhotes ●
● ou pra nos pisar e fuder ●
● como se fossemos porcas ●

● é no porão ●
● q fazemos sempre a vida ●
● explorando mentindo roubando ●
● buscando mais e mais carne ●
● sempre fudendo as porcas ●
● fudendo os porcos ●
● sempre nos fudendo e rindo ●

● e sangramos os filhotes ●
● antes do bom quarto mes ●
● quase todos pra vender ●
● vender vender e vender ●

● é no porão ●
● q dizemos a verdade ●
● essa q é sempre mentira ●
● mas todos nos acreditamos ●
● ouvindo os porcos fuderem ●
● as porcas devorarem filhotes ●
● as chamas se apagarem ●

● é no porão ●
● a precisa e unica via ●
● fudendo porcos mortos ●
● porcas mortas e dançamos ●
● frios no escuro e comemos ●
● esterco gritando berrando ●
● isso é a vida isso é q é viver ●

● e sangramos os filhotes ●
● antes do bom quinto mes ●
● quase todos pra vender ●
● e vender vender vender ●




HINE, Lewis







dardanelos

­­­­

● era entre os laranjais e os limoeiros ●
● com cavalos vacas porcos e galinhas ●
● cercados por urtigas pedras e faveleiros ●
● vendo os peixes saltarem no lago e no rio ●
● de vez em quando cheiro de suor e sangue ●
● como se fosse sangue batido com vinagre ●
● era entre os laranjais e os limoeiros ●

● com cavalos vacas porcos e galinhas ●
● as serras ao redor e a estrada de cascalho ●
● verdes todos os verdes amarelos verdiazuis ●
● cercados por urtigas pedras e faveleiros ●
● o cheiro acre e doce do esterco no centro ●
● de vez em quando cheiro de suor e sangue ●
● o vento ruido nas folhas o vento frio ●

● vendo os peixes saltarem no lago e no rio ●
● a tarde avançava pra noite cheia de dentes ●
● como se fosse sangue batido com vinagre ●
● as serras ao redor e a estrada de cascalho ●
● verdes todos os verdes amarelos verdiazuis ●
● o cheiro acre e doce do esterco no centro ●
● o vento ruido nas folhas o vento frio ●

● era entre os laranjais e os limoeiros ●
● vendo os peixes saltarem no lago e no rio ●
● a tarde avançava pra noite cheia de dentes ●
● com cavalos vacas porcos e galinhas ●
● cercados por urtigas pedras e faveleiros ●
● de vez em quando cheiro de suor e sangue ●
● era entre os laranjais e os limoeiros ●





glorioso movimento da patria



● q querendo eu prestar ●
● um serviço adequado a patria ●
● solicito o ingresso no corpo de delatores ●
● q eu vivendo nessa cidade ●
● creio prestar dados sobre pessoas ●
● sobre condutas e ideias ●
● q podem ser de muita utilidade ●

● q assim o glorioso movimento ●
● q leva o povo pra seu devido lugar ●
● tenha em mim um servidor valioso ●
● com meus serviços de maior eficacia sim ●
● posso ajudar e promover a grandeza ●
● do glorioso movimento nacional ●
● porisso espero a resposta com entusiasmo ●

● a roda do mundo se move com sangue ●
● com a benção de deus e dos senhores ●
● q hoje passam a dominar nosso mundo ●
● a guerra não é triste ela eleva as almas ●
● ela aprimora a vida e é seu segredo ●
● porisso espero boa replica a essa carta ●
● !viva a morte !morte ao pensamento ●





?why ?why ?why

­­­­

● seria assim se fosse certo ●
● ?mas em nome do q ●
● o mesmo é sempre uma coisa pegajosa ●
● com umas asas de mariposa morta ●
● umas unhas de ratazana esmagada ●
● como uma sopa cheia de mofo ●
● quem sabe ate com uns olhos boiando ●

● é realmente porisso q digo sempre ●
● ?why ?why ?why e me acocoro ●
● como aquele q ve um filho ser morto ●
● sem nada poder fazer e diz chorando ●
● ?why ?why ?why mas isso é tolo ●
● isso não passa de uma tolice é dito ●
● porq isso nada quer dizer nem dira ●

● qualquer dia desses isso sera dito ●
●?why ?why ?why e tudo ficara claro ●
● de uma clareza tão violenta e so ●
● se dira por si mesma e rira ●
● ?why ?why ?why sumira sem deixar po ●
● é verdade q dançaremos todos nus ●
● brincaremos ate o outro dia ●

● ninguem tera vontade alguma de dizer ●
● ?why ?why ?why simplesmente e so ●
● todos nos nus trepando a noite toda ●
● rindo bebendo e livres enfim ●
● ?why ?why ?why jamais sera dito ●
● e dormiremos como cães novos ●
● inda mordendo cartilagens e miudos ●

● é verdade q nada disso nos salvara ●
● precisamos de muito mais coragem ●
● precisamos não apenas de culhões ●
● sera preciso primeiro se erguer ●
● deixar de lamber botas e gravatas ●
● deixar de ser um escravo idiota ●
● é preciso cortar muitos pescoços ●





­­­­ mar morto



● não encontramos aquilo q procuramos ●
● o novo começo um ponto de apoio ●
● as palavras certas os devidos corpos ●
● os desejos q fazem fluir o mundo ●
● patinamos nessa lama dos donos sim ●
● como se fossemos servos e lampreias ●
● agora é essa dura lassidão esse sufoco ●

● não encontramos aquilo q procuramos ●
● os desejos q fazem fluir o mundo ●
● as palavras certas os devidos corpos ●
● o novo começo um ponto de apoio ●
● agora é essa dura lassidão esse sufoco ●
● como se fossemos servos e lampreias ●
● patinamos nessa lama dos donos sim ●

● recomeçar é haver existido resistido ●
● tudo vazio essa covardia o silencio ●
● essa argamassa sem liga sem força ●
● assim tudo afunda nessa escuridão ●
● seculo pos seculo a mesma escravidão ●
● so os q escrevem os senhores e deus ●
● o formigueiro apodreceu e desmorona ●

● recomeçar é haver existido resistido ●
● assim tudo afunda nessa escuridão ●
● essa argamassa sem liga sem força ●
● tudo vazio essa covardia o silencio ●
● o formigueiro apodreceu e desmorona ●
● so os q escrevem os senhores e deus ●
● seculo pos seculo a mesma escravidão ●





estige

­­­­

● meu caro barqueiro ●
● tamos todos fudidos aqui ●
● nem antes nem depois existem ●
● so esse agora de merda e lama ●
● em volta desse barco aos pedaços ●
● nem mesmo vc meu caro barqueiro ●
● vale nada nu dessa maneira e mole ●

● é possivel q jamais cheguemos ●
● a lugar algum porq jamais partimos ●
● nos resta so essa lama essa merda ●
● isso imovel no meio de nada ●
● com o barqueiro nu dessa maneira ●
● com certeza nem barqueiro pode ser ●
● nem isso num barco sem vela e remo ●

● nem margens nem vento porra nenhuma ●
● podemos dizer um ao outro sem temer ●
● porq o barqueiro ja podemos ver ●
● mesmo nesse breu com pontos de luz ●
● q esse barqueiro nu ta é bem morto ●
● em pe como se dirigisse o barco ●
● atolado nessa lama nessa merda ●

● quem sabe começando a nos devorar ●
● alguma coisa faça sentido e o barco ●
● afunde nessa lama nessa merda mole ●
● porq no fundo encontraremos todos ●
● os q por aqui se devoraram ●
● vindo ate o abismo de lama e merda ●
● num barco pobre q jamais chegaria ●





parmenides

­­­­

● ouvimos dizer ●
● q parmenides não gostou ●
● quando ouviu vindo da multidão ●
● alguem bem rouco gritar ●
● com violencia e convicção ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● a multidão logo se dispersou ●
● sem q parmenides distinguisse ●
● quem com tanta ousadia gritou ●
● aquela frase rouca com violencia ●
● como se mirasse ele parmenides ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● ouvimos dizer ●
● q parmenides desesperado buscou ●
● ate ser noite sem traço de luz ●
● inclusive disseram q a treva ●
● de parmenides era maior por ouvir ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● sabemos porq nos disseram sim ●
● q no outro dia parmenides ●
● inda encostado na rocha ●
● com olhos de escuridão e terror ●
● gritava como se não fosse ele ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● ouvimos dizer ●
● q parmenides depois disso ●
● jamais foi o mesmo ●
● vive encostado naquela rocha ●
● dizendo gritando sussurrando ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● tambem isso é extremamente ruim ●
● excessivamente misterioso fala ●
● parmenides com a rocha ●
● como se fosse a sombra q ronda ●
● a alma do dançarino e berra ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● ouvimos dizer ●
● q parmenides agora se confunde ●
● com a rocha q se tornou viva ●
● se tornou parmenides ●
● agora é a rocha q berra ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● deve ser porisso q amanhã cedo ●
● vão destruir a rocha ●
● q se tornou parmenides ●
● assim perderemos parmenides ●
● perderemos a boa rocha q grita ●
● as dualidades são inexistentes ●
● mas verdadeiras ●

● ouvimos dizer ●
● q parmenides agora se espalhou ●
● com as pedras da rocha ●
● q fazem parte de casas e ruas ●
● a noite algumas dessas pedras ●
● inda tentam gritar porq carregam ●
● o horror de parmenides ●

● nada pode ser compreendido ●
● as pedras dispersas nada dizem ●
● pedaços de palavras ganidos ●
● tagarelices como a multidão ●
● esqueceram as pedras o q diziam ●
● como esquecemos parmenides ●
● q agora é bem menos q um nome ●





goya

­­­­

● isso não ha como negar ●
● foi um dia desses ●
● q aquele porra do goya ●
● com aqueles olhos de medusa ●
● admirava corvos sobre cão morto ●
● como morto deveria ta era goya ●
● como agora goya na praia ●

● bicado por corvos ●
● mas não fui eu quem matou goya ●
● não foram com certeza os corvos ●
● nem os q queriam matar goya ●
● ninguem tinha coragem de matar ●
● aquele porra ●
● q foi goya sendo goya quem era ●

● suicidio não digo e repito ●
● porq goya era covarde demais ●
● tanto pra matar quanto pra se matar ●
● era pulha cretino e avarento ●
● isso vcs podem perguntar a todos ●
● qualquer um dira o q tou dizendo ●
● q goya não valia nem merda ●

● q aquelas velas aqueles carvões ●
● aquelas telas martelos e pregos ●
● as tintas os oleos os raspadores ●
● os pinceis q fizeram de goya ●
● o q goya pensava quem era e podia ●
● não fizeram goya valer um gole ●
● terminou assim bicado por corvos ●

● sangrado depois de torturado ●
● enquanto era sim bem garroteado ●
● isso jamais ●
● goya era tudo q digo e dizem ●
● covarde e babaovo pra se matar ●
● mas tinha inimigos como formigas ●
● nesse formigueiro onde vivemos ●

● eu mesmo jamais poderia indicar ●
● quem arrastou o corpo morto de goya ●
● pro bico afiado dos corvos ●
● pros admirares dos bons inimigos ●
● q os amigos não vão aparecer ●
● os amigos se é q existem tão sujos ●
● de tão cagados mijados e com medo ●

● goya assim bem servido de corvos ●
● precisa mesmo é dos certos inimigos ●
● porq dos amigos ele teria nojo ●
● ele vomitaria mesmo morto ●
● porq goya criava e goya era deus ●
● porisso não tinha amigos ●
● goya tinha e tera sempre inimigos ●





                                                         
                      


ALBERTO LINS CALDAS


Publicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “gorgonas” (CEP, Recife, 2008); os romances “senhor krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e “Veneza” (Penalux, Guaratinguetá, 2016), e os livros de poemas "No Interior da Serpente" (Pindorama, Recife, 1987), “minos” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2011), “de corpo presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013), “4x3 - Trílogo in Traduções” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2014) com Tavinho Paes e João José de Melo Franco), “a perversa migração das baleias azuis” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2015), “a pequena metafisica dos babuinos de gibraltar” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2016). 

* Foto inicial: ABD, Rodrigo.








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