ALBERTO LINS CALDAS * poemas em dor maior | ||
quando giungon davanti alla ruina | ||
● will aisner sente muita dor na perna ● ● essa não é bem hora de sentir dores ● ● ouve will aisner q se sente muito mal ● ● sim apenas ficar sentado quase nada ● ● diz will aisner passando a mão na testa ● ● é possivel q uma hora dessas eu morra ● ● diz will aisner estirando a perna q doi ● ● mas isso não sera nada diz will aisner ● ● nenhuma vida nem morte apenas dor ● ● porisso gritam pra will aisner com vigor ● ● essa não é bem hora de sentir dores ● ● o mundo se estraçalha e vc sente dores ● ● will aisner diz passando a mão na testa ● ● inda assim doem minha perna e meu pe ● ● é possivel q uma hora dessas eu morra ● ● mas gritam outra coisa não pela perna ● ● não pelo pe não não por nenhuma dor ● ● q disso ninguem morre ou jamais morreu ● ● assim will aisner se levanta colerico ● ● nem essa porra de desespero ele diz ● ● nem a porra essa porra de falta de ar ● ● essa não é bem hora de sentir dores ● ● berram pra will aisner q se sente mal ● ● o mundo se estraçalha e vc sente dores ● ● ?existe coisa mais dura mais real q a dor ● ● berra will aisner desabando sentado e nu ● ● dor so a dor a dor a dor é o q existe ● ● essa não é bem hora de sentir dores ● ● berram pra will aisner q se sente mal ● ● will aisner se levanta e diz é a dor a dor ● ● a porra da dor a agonia da dor a dor ● ● o desespero da dor é sempre maior q tudo ● ● é possivel q uma hora dessas eu morra ● ● o mundo se estraçalha e vc sente dores ● ● berram pra will aisner q se sente mal ● | ||
creta | ||
● creta ● ● ta sempre longe demais ● ● mesmo aqui ● ● nas praias de creta ● ● é como se tivessemos ● ● no outro lado ● ● na treva suja da lua ● ● mesmo esse azul ● ● cheio de sangue ● ● esse mar de creta ● ● dentro demais ● ● indiferente ● ● como se nunca ● ● pudesse existir ● ● violento ● ● pra afundar navios ● ● violento ● ● pra levar guerreiros ● ● violento ● ● pra todas as guerras ● ● isso podemos sentir ● ● creta ● ● ta sempre longe demais ● ● nem o cheiro amargo ● ● de suor em remoinho ● ● nem o berro ● ● nem o urro ● ● do aborto no abismo ● ● nem o sol q se destroça ● ● nas ondas nem a noite ● ● vermelha nem a chuva ● ● de ferro enferrujado ● ● fuligem sobre ruinas ● ● q rasgadas se dissolvem ● ● poeira no despovoado ● ● como é longo ● ● o caminho ate aqui ● ● isso q chamam de creta ● ● onde o horror ● ● se aninha ● ● meio touro ● ● meio ninguem ● ● creta ● ● ta sempre longe demais ● ● os q chegam aqui ● ● chegam noutro lugar ● ● e abrem ● ● a carne ● ● quando ja é tarde ● ● mesmo q se diga ● ● se grite se berre corre ● ● foge afasta o barco ● ● aproveitem o vento ● ● não terão jamais ● ● o momento da luz ● ● esqueceram as palavras ● ● creta num segundo ● ● devora tudo consome ● ● vomitando nas pedras ● ● q batem nas ondas ● ● o q não resiste ● ● ate o q resiste e luta ● ● assim como eu ● | ||
louvadeus | ||
● logo agora ● ● depois dessa longa espera ● ● me aparece esse louvadeus ● ● assim dessa maneira ● ● como se me desejasse ● ● porisso entre suas patas ● ● me arrebata ● ● do chão e começa ● ● a me devorar nessa gula ● ● com essa coisa molhada e dura ● ● q me atravessa e suga ● ● logo agora ● ● depois dessa longa espera ● ● me aparece esse louvadeus ● ● ● se nada foi feito ● ● é porq vc não é nada nem sera ● ● isso ciciante diz o louvadeus ● ● assim dessa maneira ● ● me devorando com essa gula ● ● com essa coisa molhada e dura ● ● q me atravessa e suga ● ● ● isso tudo permanece oculto ● ● esse o eixo q se estraçalha ● ● se refazendo no torno ● ● argila e carne sangue e suor ● ● eis a dor eis a fome o louvadeus ● ● esse eixo q se estraçalha ● ● isso q permanece oculto ● ● o sonho do idiota q se alastra ● ● se renovando no torno ● ● sangue e suor argila e carne ● ● logo agora me aparece ● ● esse louvadeus q me arrebata ● ● me atravessa e suga ● ● com essa coisa molhada e dura ● ● ● mas o dinheiro o dinheiro ● ● mais o dinheiro e sua palavra ● ● q gira o torno e da forma ● ● parece longe mas é o dinheiro ● ● mais dinheiro o louva deus ● ● q me atravessa e suga ● ● com essa coisa molhada e dura ● | ||
fracti | ||
● agora temos dele ● ● o corpo quase completo ● ● so falta um dos dedos ● ● duro o da mão direita ● ● porq as mãos vieram ● ● do fundo do rio congo ● ● entre pedras e peixes ● ● os braços da china ● ● pescados no rio amarelo ● ● intactos mesmo azuis ● ● quase roxos e rubros ● ● mas com certeza ● ● são os braços dele ● ● é perfeito o encaixe ● ● no tronco q escavaram ● ● no egito na borda baixa ● ● do deserto quase no mar ● ● quase dentro do nilo ● ● peito barriga e costas ● ● ate o umbigo é dele ● ● pra fora como um falo ● ● as coxas as pernas ● ● essas vieram aos pedaços ● ● do rio madeira mordidas ● ● por tudo q ali devora ● ● com peçonha e morde ● ● a carne e os ossos menos ● ● o caralho q desapareceu ● ● esse inda com certeza ● ● faz a felicidade de todos ● ● os q vivem por ali ● ● carrega tanta força nele ● ● q caminha sozinho e livre ● ● gozando a vida e os corpos ● ● criando desiguais universos ● ● o pescoço veio da grecia ● ● tava entre as colunas ● ● de homero e os salões ● ● de heraclito intacto ● ● como deve ser um pescoço ● ● pra sustentar uma cabeça ● ● uma cabeça como aquela ● ● por enquanto essa cabeça ● ● não foi encontrada ● ● mas temos certeza ● ● q os guerreiros q enviamos ● ● ao alasca de onde chegam ● ● noticias duma descomunal ● ● cabeça virão em ela ● ● se tudo der certo ● ● teremos o corpo quase ● ● inteiro mas se faltar ● ● a lingua não sabemos ● ● o q fazer ou continuar ● ● pra viver essa vida inutil ● ● sem nada poder desfazer ● ● porisso tomamos mescalina ● ● e vinho quente q parece ● ● vinagre escaldante e sujo ● ● se não vier a cabeça ● ● se não encontrarem a lingua ● ● é como se a morte viesse ● ● antes de qualquer revolução ● | ||
odiar | ||
● tenho tanto odio ● ● queu viveria mil anos ● ● remoendo esse odio a cabidela ● ● esse odio com aspargos ● ● com cebolas podres ● ● com miolos crus e vazios ● ● com tudo q fere e faz doer ● ● tanto odio q dia ou noite ● ● morderei sem saber ● ● meus dedos dos pes ● ● os dedos das mãos ● ● ate sangrarem ● ● ate serem arrancados ● ● sem q me sacie e me morda ● ● mais e mais e mais ● ● os braços as pernas o tronco ● ● e me mordendo assim ate o fim ● ● me devore como uma cobra ● ● q se devorasse pelo rabo ● ● ate a cabeça sumir ● ● dentro do odio ● ● tenho tanto odio ● ● queu viveria mil anos ● ● praguejando contra tudo q é vivo ● ● contra tudo q ja morreu ou nascera ● ● contra tudo q dança se move é leve ● ● ao redor como ratos como pulgas ● ● eu praguejaria sim sempre sim ● ● depois esfaquearia ● ● pelas ruas escondido na escuridão ● ● quem por mim passasse rindo ● ● quem viesse cansado do trabalho ● ● da bebida do lar dos amigos do gozo ● ● quem viesse sabendo a vida ● ● sem saber o ferrão do escorpião ● ● tanto odio q enquanto esse mundo ● ● não arder ate se tornar lixo e po ● ● brasas frias silencio e dor ● ● não descansarei ● ● porisso não durmo não sonho ● ● ?é dificil entender tudo isso ● ● mas isso somos nos e eu adoro ● ● tenho tanto odio ● ● queu viveria mil anos ● ● sem saber porq tantos odeiam ● ● todos iguais a mim ● ● tantos degustam o odio puro odio ● ● mas se curvam se deixam levar ● ● com medo escondem o odio ● ● vai meu odio esse tanto odio ● ● vai convencer os q odeiam ● ● a sairem pelas ruas pelas casas ● ● pontes estradas praças matadouros ● ● explorar ate matar abertamente ● ● ate abertamente se amar o odio ● ● enfim a grande missão do viver ● ● amar a dor amar a morte ● ● odiar o q junta o q fala o q pensa ● ● amar o odio ate se perder ● ● nesse labirinto de carne e ossos ● ● entulhado de mercadorias e cinzas ● ● onde dinheiro molhado de sangue ● ● boia nos tolos mares do suor ● | ||
maquina tribal | ||
● é no porão ● ● q criamos os porcos ● ● todos eles grandes ou miudos ● ● todos devorando a lavagem ● ● agra nos tachos e toneis ● ● porcas gravidas q devoram ● ● famintas filhotes frios ● ● é no porão ● ● q se junta amargo o esterco ● ● é dali q escorre a lama podre ● ● da casa pra rua pelas praças ● ● das casas todas elas cheias ● ● do esterco fluindo dos porões ● ● como uma maquina sem razão ● ● e sangramos os filhotes ● ● antes do primeiro mes ● ● quase todos pra vender ● ● vender vender e vender ● ● é no porão ● ● q se faz esse nosso odor ● ● o mesmo de todas as cidades ● ● a maquina fede a esse porão ● ● o som desse porão é o mesmo ● ● da maquina porcos fudendo ● ● porcos devorando porcos ● ● é no porão ● ● q fazemos o ganha carne ● ● nada velamos tudo é exposto ● ● todos sabem e fazem e fedem ● ● fedemos como fedem pocilgas ● ● fazemos vistas claras ao escuro ● ● e as porcas devoram filhotes ● ● é no porão ● ● q fudemos escondidos ● ● vendo as porcas devorarem ● ● os filhotes frios os filhotes ● ● estranhos negros e tronchos ● ● os q não mamam os pobres ● ● os q atrapalham os vivos ● ● é no porão ● ● q gozamos espiando porcos ● ● fuderem gerando o q vira ● ● batendo no esterco espalhando ● ● travosa a lama pontilhada ● ● pelo esperma gordo dos porcos ● ● o esterco q se amontoa ● ● e sangramos os filhotes ● ● antes do segundo mes ● ● quase todos pra vender ● ● e vender vender vender ● ● é no porão ● ● q aprendemos as palavras ● ● aprendemos a gritar rir e sofrer ● ● sabemos q aqui é a maquina ● ● maquina tribal desses corpos nus ● ● porisso nos reunimos alegres ● ● pra dançar sobre o esterco ● ● é no porão ● ● q dormimos comemos e tudo ● ● com os porcos fudendo ● ● com as porcas devorando ● ● filhotes e assim no redemunho ● ● se fudendo todos nos gozamos ● ● admirando as porcas devorarem ● ● é no porão ● ● q ouvimos o vento aqui dentro ● ● ouvimos os gritos as dores ● ● as mesmas quando sangramos ● ● um porco q não trepa mais ● ● porco velho inchado e cretino ● ● pro nosso repasto aqui mesmo ● ● é no porão ● ● q acendemos fosforos pra ver ● ● a maquina e o malestar apagar ● ● mas so assim vemos as porcas ● ● no agora devorarem os filhotes ● ● vemos os porcos fudendo ● ● so assim vemos a maquina ● ● e sangramos os filhotes ● ● antes do terceiro mes ● ● quase todos pra vender ● ● vender e vender vender ● ● é no porão ● ● q dormimos sobre o esterco ● ● q sonhamos com o esterco ● ● q desejamos ser porcas ● ● q devoram frias os filhotes ● ● quase gozando nos tocamos ● ● enquanto mastigamos carne ● ● é no porão ● ● q nos esquecemos de tudo ● ● basta entrar algo voando ● ● ou com asas quebradas ● ● assim batemos e mordemos ● ● isso ate não restar o q voa ● ● so escuridão e mormaço ● ● é no porão ● ● q é duro tropeçar de cara ● ● no esterco porq frios os porcos ● ● nos rodeiam pra nos devorar ● ● como se fossemos filhotes ● ● ou pra nos pisar e fuder ● ● como se fossemos porcas ● ● é no porão ● ● q fazemos sempre a vida ● ● explorando mentindo roubando ● ● buscando mais e mais carne ● ● sempre fudendo as porcas ● ● fudendo os porcos ● ● sempre nos fudendo e rindo ● ● e sangramos os filhotes ● ● antes do bom quarto mes ● ● quase todos pra vender ● ● vender vender e vender ● ● é no porão ● ● q dizemos a verdade ● ● essa q é sempre mentira ● ● mas todos nos acreditamos ● ● ouvindo os porcos fuderem ● ● as porcas devorarem filhotes ● ● as chamas se apagarem ● ● é no porão ● ● a precisa e unica via ● ● fudendo porcos mortos ● ● porcas mortas e dançamos ● ● frios no escuro e comemos ● ● esterco gritando berrando ● ● isso é a vida isso é q é viver ● ● e sangramos os filhotes ● ● antes do bom quinto mes ● ● quase todos pra vender ● ● e vender vender vender ● HINE, Lewis | ||
dardanelos | ||
● era entre os laranjais e os limoeiros ● ● com cavalos vacas porcos e galinhas ● ● cercados por urtigas pedras e faveleiros ● ● vendo os peixes saltarem no lago e no rio ● ● de vez em quando cheiro de suor e sangue ● ● como se fosse sangue batido com vinagre ● ● era entre os laranjais e os limoeiros ● ● com cavalos vacas porcos e galinhas ● ● as serras ao redor e a estrada de cascalho ● ● verdes todos os verdes amarelos verdiazuis ● ● cercados por urtigas pedras e faveleiros ● ● o cheiro acre e doce do esterco no centro ● ● de vez em quando cheiro de suor e sangue ● ● o vento ruido nas folhas o vento frio ● ● vendo os peixes saltarem no lago e no rio ● ● a tarde avançava pra noite cheia de dentes ● ● como se fosse sangue batido com vinagre ● ● as serras ao redor e a estrada de cascalho ● ● verdes todos os verdes amarelos verdiazuis ● ● o cheiro acre e doce do esterco no centro ● ● o vento ruido nas folhas o vento frio ● ● era entre os laranjais e os limoeiros ● ● vendo os peixes saltarem no lago e no rio ● ● a tarde avançava pra noite cheia de dentes ● ● com cavalos vacas porcos e galinhas ● ● cercados por urtigas pedras e faveleiros ● ● de vez em quando cheiro de suor e sangue ● ● era entre os laranjais e os limoeiros ● | ||
glorioso movimento da patria | ||
● q querendo eu prestar ● ● um serviço adequado a patria ● ● solicito o ingresso no corpo de delatores ● ● q eu vivendo nessa cidade ● ● creio prestar dados sobre pessoas ● ● sobre condutas e ideias ● ● q podem ser de muita utilidade ● ● q assim o glorioso movimento ● ● q leva o povo pra seu devido lugar ● ● tenha em mim um servidor valioso ● ● com meus serviços de maior eficacia sim ● ● posso ajudar e promover a grandeza ● ● do glorioso movimento nacional ● ● porisso espero a resposta com entusiasmo ● ● a roda do mundo se move com sangue ● ● com a benção de deus e dos senhores ● ● q hoje passam a dominar nosso mundo ● ● a guerra não é triste ela eleva as almas ● ● ela aprimora a vida e é seu segredo ● ● porisso espero boa replica a essa carta ● ● !viva a morte !morte ao pensamento ● | ||
?why ?why ?why | ||
● seria assim se fosse certo ● ● ?mas em nome do q ● ● o mesmo é sempre uma coisa pegajosa ● ● com umas asas de mariposa morta ● ● umas unhas de ratazana esmagada ● ● como uma sopa cheia de mofo ● ● quem sabe ate com uns olhos boiando ● ● é realmente porisso q digo sempre ● ● ?why ?why ?why e me acocoro ● ● como aquele q ve um filho ser morto ● ● sem nada poder fazer e diz chorando ● ● ?why ?why ?why mas isso é tolo ● ● isso não passa de uma tolice é dito ● ● porq isso nada quer dizer nem dira ● ● qualquer dia desses isso sera dito ● ●?why ?why ?why e tudo ficara claro ● ● de uma clareza tão violenta e so ● ● se dira por si mesma e rira ● ● ?why ?why ?why sumira sem deixar po ● ● é verdade q dançaremos todos nus ● ● brincaremos ate o outro dia ● ● ninguem tera vontade alguma de dizer ● ● ?why ?why ?why simplesmente e so ● ● todos nos nus trepando a noite toda ● ● rindo bebendo e livres enfim ● ● ?why ?why ?why jamais sera dito ● ● e dormiremos como cães novos ● ● inda mordendo cartilagens e miudos ● ● é verdade q nada disso nos salvara ● ● precisamos de muito mais coragem ● ● precisamos não apenas de culhões ● ● sera preciso primeiro se erguer ● ● deixar de lamber botas e gravatas ● ● deixar de ser um escravo idiota ● ● é preciso cortar muitos pescoços ● | ||
mar morto | ||
● não encontramos aquilo q procuramos ● ● o novo começo um ponto de apoio ● ● as palavras certas os devidos corpos ● ● os desejos q fazem fluir o mundo ● ● patinamos nessa lama dos donos sim ● ● como se fossemos servos e lampreias ● ● agora é essa dura lassidão esse sufoco ● ● não encontramos aquilo q procuramos ● ● os desejos q fazem fluir o mundo ● ● as palavras certas os devidos corpos ● ● o novo começo um ponto de apoio ● ● agora é essa dura lassidão esse sufoco ● ● como se fossemos servos e lampreias ● ● patinamos nessa lama dos donos sim ● ● recomeçar é haver existido resistido ● ● tudo vazio essa covardia o silencio ● ● essa argamassa sem liga sem força ● ● assim tudo afunda nessa escuridão ● ● seculo pos seculo a mesma escravidão ● ● so os q escrevem os senhores e deus ● ● o formigueiro apodreceu e desmorona ● ● recomeçar é haver existido resistido ● ● assim tudo afunda nessa escuridão ● ● essa argamassa sem liga sem força ● ● tudo vazio essa covardia o silencio ● ● o formigueiro apodreceu e desmorona ● ● so os q escrevem os senhores e deus ● ● seculo pos seculo a mesma escravidão ● | ||
estige | ||
● meu caro barqueiro ● ● tamos todos fudidos aqui ● ● nem antes nem depois existem ● ● so esse agora de merda e lama ● ● em volta desse barco aos pedaços ● ● nem mesmo vc meu caro barqueiro ● ● vale nada nu dessa maneira e mole ● ● é possivel q jamais cheguemos ● ● a lugar algum porq jamais partimos ● ● nos resta so essa lama essa merda ● ● isso imovel no meio de nada ● ● com o barqueiro nu dessa maneira ● ● com certeza nem barqueiro pode ser ● ● nem isso num barco sem vela e remo ● ● nem margens nem vento porra nenhuma ● ● podemos dizer um ao outro sem temer ● ● porq o barqueiro ja podemos ver ● ● mesmo nesse breu com pontos de luz ● ● q esse barqueiro nu ta é bem morto ● ● em pe como se dirigisse o barco ● ● atolado nessa lama nessa merda ● ● quem sabe começando a nos devorar ● ● alguma coisa faça sentido e o barco ● ● afunde nessa lama nessa merda mole ● ● porq no fundo encontraremos todos ● ● os q por aqui se devoraram ● ● vindo ate o abismo de lama e merda ● ● num barco pobre q jamais chegaria ● | ||
parmenides | ||
● ouvimos dizer ● ● q parmenides não gostou ● ● quando ouviu vindo da multidão ● ● alguem bem rouco gritar ● ● com violencia e convicção ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● a multidão logo se dispersou ● ● sem q parmenides distinguisse ● ● quem com tanta ousadia gritou ● ● aquela frase rouca com violencia ● ● como se mirasse ele parmenides ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● ouvimos dizer ● ● q parmenides desesperado buscou ● ● ate ser noite sem traço de luz ● ● inclusive disseram q a treva ● ● de parmenides era maior por ouvir ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● sabemos porq nos disseram sim ● ● q no outro dia parmenides ● ● inda encostado na rocha ● ● com olhos de escuridão e terror ● ● gritava como se não fosse ele ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● ouvimos dizer ● ● q parmenides depois disso ● ● jamais foi o mesmo ● ● vive encostado naquela rocha ● ● dizendo gritando sussurrando ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● tambem isso é extremamente ruim ● ● excessivamente misterioso fala ● ● parmenides com a rocha ● ● como se fosse a sombra q ronda ● ● a alma do dançarino e berra ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● ouvimos dizer ● ● q parmenides agora se confunde ● ● com a rocha q se tornou viva ● ● se tornou parmenides ● ● agora é a rocha q berra ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● deve ser porisso q amanhã cedo ● ● vão destruir a rocha ● ● q se tornou parmenides ● ● assim perderemos parmenides ● ● perderemos a boa rocha q grita ● ● as dualidades são inexistentes ● ● mas verdadeiras ● ● ouvimos dizer ● ● q parmenides agora se espalhou ● ● com as pedras da rocha ● ● q fazem parte de casas e ruas ● ● a noite algumas dessas pedras ● ● inda tentam gritar porq carregam ● ● o horror de parmenides ● ● nada pode ser compreendido ● ● as pedras dispersas nada dizem ● ● pedaços de palavras ganidos ● ● tagarelices como a multidão ● ● esqueceram as pedras o q diziam ● ● como esquecemos parmenides ● ● q agora é bem menos q um nome ● | ||
goya | ||
● isso não ha como negar ● ● foi um dia desses ● ● q aquele porra do goya ● ● com aqueles olhos de medusa ● ● admirava corvos sobre cão morto ● ● como morto deveria ta era goya ● ● como agora goya na praia ● ● bicado por corvos ● ● mas não fui eu quem matou goya ● ● não foram com certeza os corvos ● ● nem os q queriam matar goya ● ● ninguem tinha coragem de matar ● ● aquele porra ● ● q foi goya sendo goya quem era ● ● suicidio não digo e repito ● ● porq goya era covarde demais ● ● tanto pra matar quanto pra se matar ● ● era pulha cretino e avarento ● ● isso vcs podem perguntar a todos ● ● qualquer um dira o q tou dizendo ● ● q goya não valia nem merda ● ● q aquelas velas aqueles carvões ● ● aquelas telas martelos e pregos ● ● as tintas os oleos os raspadores ● ● os pinceis q fizeram de goya ● ● o q goya pensava quem era e podia ● ● não fizeram goya valer um gole ● ● terminou assim bicado por corvos ● ● sangrado depois de torturado ● ● enquanto era sim bem garroteado ● ● isso jamais ● ● goya era tudo q digo e dizem ● ● covarde e babaovo pra se matar ● ● mas tinha inimigos como formigas ● ● nesse formigueiro onde vivemos ● ● eu mesmo jamais poderia indicar ● ● quem arrastou o corpo morto de goya ● ● pro bico afiado dos corvos ● ● pros admirares dos bons inimigos ● ● q os amigos não vão aparecer ● ● os amigos se é q existem tão sujos ● ● de tão cagados mijados e com medo ● ● goya assim bem servido de corvos ● ● precisa mesmo é dos certos inimigos ● ● porq dos amigos ele teria nojo ● ● ele vomitaria mesmo morto ● ● porq goya criava e goya era deus ● ● porisso não tinha amigos ● ● goya tinha e tera sempre inimigos ● | ||
ALBERTO LINS CALDAS | ||
Publicou os livros de contos “Babel” (Revan, Rio de Janeiro, 2001), “gorgonas” (CEP, Recife, 2008); os romances “senhor krauze” (Revan, Rio de Janeiro, 2009) e “Veneza” (Penalux, Guaratinguetá, 2016), e os livros de poemas "No Interior da Serpente" (Pindorama, Recife, 1987), “minos” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2011), “de corpo presente” (Íbis Libris, Rio de Janeiro, 2013), “4x3 - Trílogo in Traduções” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2014) com Tavinho Paes e João José de Melo Franco), “a perversa migração das baleias azuis” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2015), “a pequena metafisica dos babuinos de gibraltar” (Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2016). * Foto inicial: ABD, Rodrigo. |
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