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Entrevista com Fernando Andrade, autor de "Enclave" (Patuá, 2017).

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1 - Enclave não é nenhuma poesia do seu livro ou nenhuma referência  direta  a algum núcleo de poemas, então de onde tirou ideia para este título do seu trabalho?
Queria trabalhar de uma outra forma que trabalhei no Poemometria, a ideia do núcleo fechado. E vi na ideia do Enclave uma forma de um país ser circundado pelo entorno e este sendo um território de outro país. Esta relação de espaço e geografia, acho que rebate sim em alguns poemas do meu novo livro, como a relação do espaço em Amizade geométrica que pessoas vão aderindo ao núcleo de amizade e formando desenhos geométricos que não deixam de ser um conceito de núcleo. E no Enclave esta não relação de ordem e soberania de um sobre o outro era o que eu buscava para falar de liberdade, autonomia etc.   

2 - Neste seu livro você trabalha a cidade como um corpo, com espaços e questionamentos atuais. A função crítica da poesia é um assunto importante para você?
Meu livros de poemas sempre trazem muitos questionamentos sobre temas que me interessam. Não separo a questão até linguística do poema da reflexão do pensamento. Quando digo no poema "um sã meio triste, alguém tinha comido seu tio" há dentro do aparelho gramatical linguístico uma reflexão vinda através do humor, que dentro de uma família o sã pode se transformar em são ou são possa ser sã. Isto dentro de um núcleo familiar. Acho que tanto quando você exerce a autoria quanto você está exercitando a crítica, vejo estes dois movimentos eivados de saber que precisam ser flexionados, como um exercício dos músculos (físico). A (re)flexão é minha prática tanto quando crio quando analiso.  

3 - Com três livros publicados - Lacan por Câmeras Cinematofráficas, Poemometria e Enclave -, você acredita que alcançou uma identidade poética?
Acho que minha poética começa com uma negação no Lacan muito devido ao poema que fecha o livro. A parti dali, fui desenvolvendo ideias correlatas, mas saindo da negação para uma posição construtivista do relativismo. Em Poemometria usei a geometria matemática para falar de isolamento, de dificuldades de comunicação, priorizando mais o entorno do que o fechado, a ideia do núcleo abrindo-se ao fora e surgindo uma desenvoltura da linha do decorrer dos poemas, uma linha de fuga e fui adicionando temas com esta linha, como as cores, as quedas, as fugas. E no Enclave, não fechei o livro num tema, mas há ideia da interação do dentro com o fora, talvez os poemas deste meu último livro estejam mais voltados para uma espécie de raiva poética onde a própria agressividade sedimenta as semânticas dos versos. Se fui doce no Poemometria agora sou louco, no Enclave?

4 - Em todos seus livros você faz poemas sobre figuras geométricas , algo incomum nos poetas. de onde vem esta fascinação poética por representações da matemática? 
Sim, foi um artifício de linguagem que utilizei para falar de certas ideias e noções como conceitos, verdades, certezas. A matemática é uma ciência exata até certo ponto. Por que as figuras geométricas são feito de linhas e pontos muito próximo ao conceito de labor da escrita, que usa esta frase - conceito da linha. E do ponto que talvez seja a noção mais filosófica que temos como entre duas ou mais linhas haverão  pontos . Nosso próprio raciocínio obedece a esta lógica: pensamos e pausamos como uma linha de pensamento que se silencia perante alguma pausa. Todos os poemas do meu livro anterior e deste Enclave, como Amizade geométrica obedecem a esta verdade - rs - de que os números não exatos, as linhas podem correr e não fechar, assim como os nomes da gente não nos nomeiam às vezes, somos mais sobrenomes do que o próprio nome. Na escola só me chamavam de Andrade.

5- Além de poeta você é crítico literário. Na tua opinião, quais pontos positivos e negativos dos autores que estão fazendo a nova  literatura nacional?
Não vejo pontos negativos, a literatura é um animal criativo, que se desenvolve de acordo com o espaço que lhe dão. E com uma certa noção de liberdade, principalmente de gênero. E não posso negativar um subjetivismo do autor, daquilo que são suas peles - carnes que tão tatuadas no seu corpo e que com a escrita são através da linguagem (s)eivadas para o anteparo da página. Nem sei também se posso aferir a qualidade da transposição da tatuagem - escrita para a página - livro.

6 - Quais assuntos que ainda não apareceram nos seus poemas? Acredita que podem constar nos seus próximos livros?  Aliás pretende publicar poesia? ou se aventurar pela prosa poética? 

Pretendo passar para a narrativa curta, como contos, mas falando destes mesmo temas que falei nestes meus três livros de poemas. Não vou fazer prosa poética que é um estilo mal propagado no Brasil. Brincar um pouco com a linguagem que já testei em alguns contos para o Clube da leitura.


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Fernando Andrade, 49 anos, é jornalista e poeta. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel e do coletivo Clube de leitura onde tem um conto Quadris no coletânea volume 3 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia com Entrevistas com escritores e resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e meio. Lacan Por Câmeras Cinematográficas Poemoemetria e acabou de lançar Enclave (poemas) pela Editora Patuá. 



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