O galope de Ulisses, antologia de poemas de José Inácio Vieira de Melo, organizada por Igor Fagundes, grande estudioso da lírica deste poeta alagoano, é de uma contundência e força únicas.
A poesia de José Inácio é, ao mesmo tempo, um soco no estômago e uma carícia nas faces. Traduz a secura potente do sertão e a inefável questão do SER em imagens singulares!
É extremamente lírico e abriga em seus versos a seiva densa que retorce a fauna da caatinga. É grego e baiano, partindo do conceito heraclitiano de que o FOGO é o princípio de todas as coisas. Daí, mistura significados estéticos originais. E fundamentais. Significados que fundam a dor da existência, mas, também, incitam a coragem de superá-los. Como só os grandes sertanejos sabem fazê-lo.
José Inácio inaugura uma palavra inédita que conta a secura determinante do sertão e aponta para as águas de uma nova ressurreição. Poeta único, arcaico e novo, que traduz as agruras do SER e as possibilidades de vencer. Jamais havia lido versos tão límpidos e íntegros. Como uma PEDRA.
Numa primeira interpretação, somos todos inocentes do MAL do mundo. Numa segunda leitura, o poeta se faz portador destas mesmas dores, transformando-as em flores. Secas. Flores secas que retêm o perfume original daquilo que está aquém do MAL.
José Inácio transmite uma lírica poderosa. Como o exclusivo perfume de uma única rosa. Do pouco, faz muito. Da secura, doçura. Do NÃO do sertão ao SIM dos sem-fins. Grande poeta que, como os grandes compositores, precisa apenas de sete notas para compor uma sinfonia.
Silvana Nassar de Oliveira, filósofa pela Universidade de São Paulo, radicada em Roma.