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Tisanas que infundem memórias de campos arcaicos nos versos contemporâneos de Souza Pereira

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Tisanas
Por Souza Pereira





Tisana número 3– Alecrim-de-jardim (Rosmarinusofficinalis) ou Onde habitarão as cores da saudade tua?

Mantive guardada em mim a tua voz tímida,
para que eu recordasse o som dos teus suspiros
em todas as músicas
que me levassem para mais perto do mar,
como sinfonia.
Mas, quando acabarem todas as notas,
onde habitarão as cores
que guardo em mim
e que me são saudades tuas?





Tisana número 4– Agrião (Nasturtiumofficinale) ou De que outra forma brilhariam as estrelas?

Te procurei nas pequenas coisas indestrutíveis,
nas sementes dispersas ao vento,
nas pétalas que se desprendem das flores e caem ao chão,
nas almas naufragadas dos barcos ao mar,
nas noites em que admiro o céu,
nos sopros de ar que afetam o meu coração,
nas pequenas ruas negras dentro em ti,
e me perdi no espaço escuro
que separa as estrelas dos teus olhos.





Tisana número 5– Algodoeiro (Gossypium herbaceum)

Somente as chuvas
extraem a úmida voz da terra,
que confessa os enigmas
que não somos capazes de responder.





Tisana número 8– Anil (Indigofera anil)

Aqui, onde o canto dos pássaros
reconstrói em mim a tua lembrança,
deixo a luz do ocaso,
que se esvaece,
desnudar-me o coração,
retirar-me a roupa,
sustentar as mãos sobre minha cintura.
E quando pergunto: -Quem és?,
respondem os pássaros: - Quem sois?
Porque sempre que te busco
me antecede uma ligeira certeza sobre o amor.
E, por isso, reflete-se em mim uma dúvida:
-Como sobrevivem os que se nomeiam e se vão?





Tisana número 21– Camará (Lantana câmara) ou L’anima di uno strumento ad arco

Nell'arcodellavita
La pioggia mi ha bagnato di pianto
Come l'arteastrattadelloscrivere
Ma il mio cuore non ha la sorte
Di tenerqualcuno a bocca dolce
In un tipo di terra
Che non beve la pioggia
Allora, mi sono avanzate
Solo pochelire
Per toccare il cielo
Con un dito...

No decorrer da vida
A chuva me tem banhado de prantos
Como a arte abstrata do escrever
Mas o meu coração não tem a sorte
De deixar qualquer um sentir-se amado
Em um tipo de terra
Que não bebe a chuva
Agora, restam-me
Somente poucas liras
Para tocar o céu
Com o dedo...





_________________________________________
Souza Pereira (Recife, Pernambuco, Brasil, 1994). Escritor e Editor chefe da Philos – Revista de Literatura da União Latina. Colaborador da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB). Colaborou com diversas revistas literárias de línguas neolatinas, como Cadillac e Ramingo (Itália), Subversa e 7faces (Brasil-Portugal), Cantera e Rostros (Venezuela), Crisálida e La Cigarra (México). Artista visual responsável pela mostra “Gracias a la vida y a los sonetos de la muerte” em homenagem a Violeta Parra e Gabriela Mistral, no Espacio Cultural Violeta Parra (Chile). Colaborador do Colóquio Escrever nas Margens (Portugal) e do Festival Walk&Talk (Açores). Autor dos livros A tarde dos elefantes e outros contos (2014) Polissemia (2015) e Olhos de Onda (2016). Biomédico e Mestre em Genética pela Universidade Federal de Pernambuco. Site: www.revistaphilos.comCorreio eletrônico: j.josedesouzapereira@gmail.com



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