VEJO O ASSASSINO
O assassino que vejo em seus olhos
devora a raiva que sinto.
Gota a gota o sangue escorre
a tinta das veias desenha a terra.
a tinta das veias desenha a terra.
Há um pedaço meu nele;
há minha morte nele.
há minha morte nele.
Lá está ele trajando a mesma camisa
— aquela mesma! — que gosto.
— aquela mesma! — que gosto.
Parece vestir entre as orelhas
o mesmo rosto vincado que o meu.
o mesmo rosto vincado que o meu.
O assassino que vejo em seus olhos
tem a garganta engasgada,
tem a garganta engasgada,
no bolso a carta, no cano a bala,
e o fio da navalha corta o seu olho e o meu.
e o fio da navalha corta o seu olho e o meu.
O assassino que vejo em seus olhos sou eu.
* * *
Roberto Dutra Jr. é um neurótico social como todo brasileiro de cidade grande. Adora literatura, mas as palavras não fazem mais sentido. Mestre em Letras, tem um livro publicado e diversos artigos de caráter acadêmico e crítico publicados. Foi editor de revista acadêmica, contribuiu para jornais e revistas literárias no Rio de Janeiro e tem um seríssimo flerte com a música. Adora gatos e poemas, que movem-se na penumbra e nunca revelam-se inteiramente. Leia mais textos do autor aqui.