Esses dias necessitam de poetas que insurgem em nós as dores do tempo, sem ignorar os carrascos que estão por todos os lados distribuindo flores, com o espírito das balas e, ainda cavalgam sobre nós afundando cada vez mais suas lâminas de pedras agudas. Esse e outros gestos líricos vestidos de navios fantasmas é parte do que encontraremos no livro Liturgia da bala, publicado pela Editora Penalux, de São Paulo e, segundo livro de Pedro Barbosa, um homem que não desiste de perguntar se há ainda “remédio para o coração?”.
Dividido em quatro tomos, temáticos dentro de si, na busca de construir uma unidade poética, Liturgia da bala traz a palavra em sua urgência de reflexão lírica bem perto da vida e não muito longe do mar e dos afetos e efeitos que a vida precisa para sua condição de r-existência. Mas, assim mesmo precisamos saber:
Ah, o espírito
Fingiu-se de esquecido.
Mas o verdugo está velho,
O cepo virou lenha,
A lâmina do machado cegou.
Cegaram as lâminas de nossos machados e a vida e nossos velhos verdugos estão hasteados para que nós fingíssemos ter esquecido as dores do mundo. Contudo, não temos as ferramentas necessárias de como esquecer as balas e suas liturgias que pesam em nossos ombros e olhos, pois Pedro Barbosa e seus eu - líricos, nos alerta que tudo isso são apenas “metamorfose forçada”.
Liturgia da bala, a cada tomo poético traça a caminhada de um poeta que desde sempre se fez palavra e gestos no mundo. Essa é em parte a tarefa dos poetas (se é que poetas têm tarefas!). Pois, Pedro Barbosa não foge aos embates e não finge combate. Ele sabe escancarar o peso das “vísceras implodidas”, mesmo sabendo que dói o luto e as viagens dos mortos sobre a perspectiva dos desenventos.
Nesse livro, ao mesmo gesto, estão balas que rasgam becos e galhos periféricos que servem para os dilemas dos homens e todas as almas que vagam perante dois planos para solidão. Por isso, o poeta parece sussurrar, a nos dizer:
A dor é morta
Contra nossa maneira
De fazer o mundo
Sobre a vida
Em Liturgia da bala os leitores terão a chance de indaga-se até aonde vai o poder da poesia, ao ensaiar maneiras de dizer, mesmo que o dia chove e que o estado esteja vestido de calamidades, é preciso, às vezes, nós mesmos anoitecemos com a pele em orvalhos e, ainda se perguntar: como aguentar tantos crepúsculos?
E, olha que Pedro Bandeira e seus eu – líricos só querem um dia se o fazedor de calçadas, para aplainar caminhos e acariciar as pedras que homens e mulheres, negligentes, pisaram indiferentes as primícias de sentir esperanças. Porque só os poetas, quando chegam perto das palavras para compreender suas mil faces, sabem, contra a maneira do mundo, traz a lume as coisas inacessíveis.
Esse Liturgia da bala, de Pedro Barbosa, nos lega a lição de como, muitas vezes, voltar “à frente da casa”, só para saber se tudo está por lá. Lição tão essencial nesses dias sem ênfases. Só isso já basta à leitura desse livro. Mas, há sem duvido outros gestos dentro de Liturgia da bala.