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Cavalos-marinhos escondendo sentidos na poesia de Lúcia Leão.

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De todas as coisas que o mar não me ensina

O exílio é o grande tesouro.
Ondas que não
se quebram,
cavalos-marinhos escondendo
sentidos mais profundos com o movimento
nada natural
que só os animais mestiços exigem
e imaginam.

Casa é uma caixa sem fundo
escapando,
palavras como infinito
oceano generoso - constante
espuma.

Uma cauda que pede
um nada de fechamento
futuro.           



aninhada

uma árvore não precisa
de parceiros -
elogios e
glória

é seu destino

o ar é um fator,
água e vento
nunca rejeitados

ela tem raízes,
porém,
braços que esperam



No ar

Achamos a família sem-teto morando
no terraço da nossa casa,
e não ficou claro se eles haviam subido
pelas paredes ou não.
Estavam cuidadosamente usando
a mesa
que havíamos guardado lá,
com as cadeiras
próprias para o deck
da piscina
que já não possuíamos mais.

Espalhados ao redor,
os restos
das suas estradas de antes,
e de mar,
porque nitidamente
eles haviam vindo de longe demais.
Um tinha uma cruz no pescoço,
os outros pareciam zombar
do destino óbvio
do seu design.

Nós não os chamamos
de vizinhos
nem de convidados.
Não os chamamos de
absolutamente nada.
Não trancamos as portas
de noite para dormir.

Eles podem ter vindo do alto. 



É noite e ninguém vem

A porta se esquiva da luz
como fazem as crianças
para perpetuar
momentos
que um dia chamarão 
intimidade

Há traços por debaixo
da noite que aliviam,
é certo, há nomes
divinos
que não são ditos,
mas que se resmungam

Nos sapatos, de manhã,
afalta de forro,
apoio, borracha que fez
questão de escapar
pelos dias

É noite e ninguém vem


________________________________________________
Lúcia Leão mora nos Estados Unidos, tradutora em tempo integral e escritora. Formada em inglês e respectivas literaturas, mestre em literatura brasileira com foco em filosofia. Traduziu vários livros de filosofia do francês para o português pela editora 34. Nos Estados Unidos, trabalha com traduções e escreve contos e poesias em inglês e em português. Estreia este mês em Mallarmargens como correspondente estrangeira, trazendo uma poesia contemporânea norte americana e de outros países de língua inglesa, muito pouco conhecida por nós, bem como ampliando o diálogo dos poetas brasileiros com as publicações neste outro idioma.

Publicações de Lúcia Leão em Mallarmargens:






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