AS HORAS
E foi no dia em que todas
As horas pareciam mortas
Que eu me encontrei em tua alma.
E, quando me encontrei
Em tua alma, quando todas as horas
Ainda pareciam mortas,
Eu notei que não eram as horas
Que jaziam como as velhas luas:
Os meus olhos, cegos para
A luz de tua alma,
Não viram que todas as horas
Vivem à medida das tuas.
RAZÃO
Pela ternura de um silêncio profundo,
Pelo céu que abriga a doce eternidade,
Pela tristeza do luto que, pelo mundo,
Sussurra palavras de dor e saudade…
Pelo sol que espelha os amores idos,
Pela lua que luz as velhas estradas,
Pelas estrelas dos amores não lidos
Na pupila das carmesins alvoradas...
Pelo pranto, pela saudade e alegria,
Pelo caminho divino em que, um dia,
Como quem para si mesmo enfim sorri,
Encontram-se abertos os sonhos do coração…
Sejam os meus versos por tudo! E que, então,
Seja tudo por ti! Seja tudo por ti!
MORADA
No céu que se curva tristemente,
Como uma flor que se fecha, profunda,
Ao cansado olhar da saudade ingente,
Parece-me viver a paz fecunda
De que me inundo constantemente.
Talvez a alma já viva sem hora
E se vistam as pálpebras cansadas
Com a luz sombria da aurora...
E a pureza de um silêncio sem dor
Já seja como as estrelas alçadas
Em um eterno, sereno esplendor...
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Pintura: Unknown Woman, por Thomas Dewing |