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BEATRIZ HELENA RAMOS AMARAL

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Kano Sansetsu






10 POEMAS
de
LUAS DE JÚPITER
(2ª. edição, ampliada e bilíngue, a ser lançada em 2017)










LUAS DE JÚPITER


flexível
o contorno dos
asteroides

ômega, raio
na porta
ficta

sobre os poros,
o enredo
em lascas

que o pulso
retém
num traço

e se narra,
pródigo e leve

tão fugaz como
as canções que
Júpiter envia do seu
reino, para
nenhuma voz
entoar
antes que suas
luas troquem
de lugar




               

T E C I D O


Asa de poema – anzol
para
uma linha

um fio grafado de corda
corte- fisgar
na mesa recortes
a tessitura do nó

e a lâmina de Urano
faz legenda
de papiro no etéreo: foz

move-se a areia na
vertigem:
duna
dali se extrai o néctar
de pedra

pêndulo e farol
hipótese de concha
e tempo






E V E N T O


tome um aquário,
recorte
a nudez –
frase que se inunda
de não-água

na pressa
se inscreve
em líquido –
o flagrante sem peixe,

o estranho de ser fogo
e o resultado dos hífens

tome o desenho
da tocha,
que combustão
se há de









Kano Sansetsu






R I C E R C A R I


eu disse alaúde
e súbito ouvi
todas as cordas
se afinarem

também vi
contra as pedras
um barco narrativo

perdidos remos,
pares, réguas

o choque das pa
lavras explodindo
no ambíguo precipício
sem resposta






Á L G E B R A


nozes, conchas,
casulos

teor sem teia,
dentro e fora

fogo de folhas,
borracha

rente à infância
flagra-se a falha

olho certeiro
no corte da sombra

asa de álgebra:
cifra na linha
se deprime

(estridência
do que se não
pode)






L A T Ê N C I A


no fio das unhas,
nos quadrículos
nas entrelinhas
na diáspora

no portal de anáforas
um guia de vírgulas
enrubesce a língua

mel e tinta para os
cílios (inseri-los)

na cauda de um
compasso, em seu
lance de dados

abelhas de ladrilho
descobrindo pilhas
e tercetos puros
de fonemas retos









Hasegawa Tohaku







L U M E


uma pera
escrita sem moldura
como fruta

no terceiro quadro
à direita de
quem entra
e se prepara

como quem a lê
e corta, para o gosto de
estar pronta

à esquerda de
quem fala,
o que narra
se devora na

opção de solo
que se colhe
vapor de lua
plenilume






P R Ä E L U D I U M


a bandeira do improviso
é  às  vezes  errância
para teu princípio

mas o excesso
de chaves e modelos,
também laico e infinito

é teu, como
um plural de luas -
luminescências órficas
onde
- nenhum susto –
te prepara






C I R A N D A


habitante de raiz,
fincando estrelas,
jogo

no mapa, latitudes
se rasgam

combustão de hipóteses:
pólvora

no útero das ruas
luas de musgo
se acasalam






V A L L A D O L I D


Valladolid,  Valladolid,
por que me vens de novo?

por que roubar de Cronos
a invenção do tempo?

Valladolid,  Valladolid,
que legião de vapores
recobre teu brasão
a cada véspera?

que porta me alicerça
de incertezas?

teus pátios, San Gregório,
o esboço das tranças,
o incenso de costume

onde sombras, sandálias
e audácias persistem
sobrepostas






BEATRIZ H. RAMOS AMARAL– Poeta, contista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, formada em Direito pela USP e em Música pela FASM, coordenou ciclos e projetos literários e culturais na Secretaria Municipal de Cultura e é Diretora Cultural da APMP. Autora de Desencontro (1980romance), Cosmoversos (1983), Encadeamentos (1988), Primeira Lua (1990), Poema sine praevia lege (1993), Planagempoesia reunida: 1983 a 1998 (1998), Cássia Eller: Canção do Fogoensaio biográfico (2002), Alquimia dos Círculos (2003), Luas de Júpiter (2007), Ressonâncias: Cd de poesia (2010), A Transmutação Metalinguística na Poética de Edgard Bragateoria e crítica literária (2013), Os Fios do Anagramacontos/narrativa (2016) e Escritos Jurídicos e Memórias (2016).








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