Kano Sansetsu | ||
10 POEMAS de LUAS DE JÚPITER (2ª. edição, ampliada e bilíngue, a ser lançada em 2017) | ||
LUAS DE JÚPITER flexível o contorno dos asteroides ômega, raio na porta ficta sobre os poros, o enredo em lascas que o pulso retém num traço e se narra, pródigo e leve tão fugaz como as canções que Júpiter envia do seu reino, para nenhuma voz entoar antes que suas luas troquem de lugar | ||
T E C I D O Asa de poema – anzol para uma linha um fio grafado de corda corte- fisgar na mesa recortes a tessitura do nó e a lâmina de Urano faz legenda de papiro no etéreo: foz move-se a areia na vertigem: duna dali se extrai o néctar de pedra pêndulo e farol hipótese de concha e tempo | ||
E V E N T O tome um aquário, recorte a nudez – frase que se inunda de não-água na pressa se inscreve em líquido – o flagrante sem peixe, o estranho de ser fogo e o resultado dos hífens tome o desenho da tocha, que combustão se há de | ||
Kano Sansetsu | ||
R I C E R C A R I eu disse alaúde e súbito ouvi todas as cordas se afinarem também vi contra as pedras um barco narrativo perdidos remos, pares, réguas o choque das pa lavras explodindo no ambíguo precipício sem resposta | ||
Á L G E B R A nozes, conchas, casulos teor sem teia, dentro e fora fogo de folhas, borracha rente à infância flagra-se a falha olho certeiro no corte da sombra asa de álgebra: cifra na linha se deprime (estridência do que se não pode) | ||
L A T Ê N C I A no fio das unhas, nos quadrículos nas entrelinhas na diáspora no portal de anáforas um guia de vírgulas enrubesce a língua mel e tinta para os cílios (inseri-los) na cauda de um compasso, em seu lance de dados abelhas de ladrilho descobrindo pilhas e tercetos puros de fonemas retos | ||
Hasegawa Tohaku | ||
L U M E uma pera escrita sem moldura como fruta no terceiro quadro à direita de quem entra e se prepara como quem a lê e corta, para o gosto de estar pronta à esquerda de quem fala, o que narra se devora na opção de solo que se colhe vapor de lua plenilume | ||
P R Ä E L U D I U M a bandeira do improviso é às vezes errância para teu princípio mas o excesso de chaves e modelos, também laico e infinito é teu, como um plural de luas - luminescências órficas onde - nenhum susto – te prepara | ||
C I R A N D A habitante de raiz, fincando estrelas, jogo no mapa, latitudes se rasgam combustão de hipóteses: pólvora no útero das ruas luas de musgo se acasalam | ||
V A L L A D O L I D Valladolid, Valladolid, por que me vens de novo? por que roubar de Cronos a invenção do tempo? Valladolid, Valladolid, que legião de vapores recobre teu brasão a cada véspera? que porta me alicerça de incertezas? teus pátios, San Gregório, o esboço das tranças, o incenso de costume onde sombras, sandálias e audácias persistem sobrepostas | ||
BEATRIZ H. RAMOS AMARAL– Poeta, contista, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, formada em Direito pela USP e em Música pela FASM, coordenou ciclos e projetos literários e culturais na Secretaria Municipal de Cultura e é Diretora Cultural da APMP. Autora de Desencontro (1980 — romance), Cosmoversos (1983), Encadeamentos (1988), Primeira Lua (1990), Poema sine praevia lege (1993), Planagem — poesia reunida: 1983 a 1998 (1998), Cássia Eller: Canção do Fogo — ensaio biográfico (2002), Alquimia dos Círculos (2003), Luas de Júpiter (2007), Ressonâncias: Cd de poesia (2010), A Transmutação Metalinguística na Poética de Edgard Braga — teoria e crítica literária (2013), Os Fios do Anagrama — contos/narrativa (2016) e Escritos Jurídicos e Memórias (2016). | ||
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BEATRIZ HELENA RAMOS AMARAL
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