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4 poemas de Leandro Rodrigues

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4 CENAS DO CÃO ANDALUZ

                   I

por que um cão sangrento
atravessa-nos à noite
e reduz a lua com
seu brilho no esgoto
numa parca brancura
disforme moldada
ou uivo do mal agouro
encarcerado/ sombra des-
fragmentada num osso
de nossa própria (in) existência
as vísceras repugnantes
à mostra para consumo
da matilha e suas fartas mandíbulas.


                    II

O ventre exaurido do parir eterno
constante:
                palavras, palavras, versos
desarticulados/ disformes
                e tão orgânicos.


                     III

costumeiramente rasgados
no cordão arrancado
com navalha fria, afiada
                bem trabalhada.

                       IV

no rescaldo de tudo
o cão  -  o grito
se deita  -  carne viva
                 restos da pelagem
moldura mórbida estática
da sala de jantar imponente
com seus móveis discretamente apoiados
em calços vermelhos e
nas sombras tortas desfocadas
de todos aqueles animais mortos
da família – empalhados
o sangue que ainda respinga
pisado.



TEXTURA

Entre algumas roupas estendidas
e estreitas noções de geometria avessa


esta estrada
e o sangue lançado à tela
                  da paisagem mais fria

]

Entre o golpe consumado
e o grito sufocado na tarde,
     na carne, nas vestes da cidade
     as vísceras

: 
um espelho pré-moldado na face,
em sumo decreto provisório,
          mas perpétuo

]

Entre a estocada final
e a dissoluta agonia certeira
o poema cicatrizado
nos retalhos


d
e
s
c
o
s
t
u  
r
a
d
o
s

da noite invisível..




ENLACES (LA EXPLICACIÓN DEL GOLPE)

I

O Cristo libertário de Orozco
Arrebentando sua cruz a machadadas
Como Bashô observando o rio

II

Entre as cercanias do vento
outros nadadores mortos atravessam
o canal
            chegam à praia
            e se acorrentam no sol.

III

Ilusionistas desafiam arranha-céus
e somem entre as trincas do
                            concreto armado.

IV

Na noite extensa
            todos se entendem
menos os poetas

V

menos as putas

VI

menos os pugilistas

VII

7º round



SISAL

como um rio cicatriza
na pedra - o meu canto
esquálidas veias agonizam
entre mortos leitos de águas calmas
entranhadas na carne

palavras revestidas de grito

cortes da escuridão monitorada e torpe


chumbo com gosto de verso


a arranhar silêncios.



Galeria: Vladimir Takac



Leandro Rodrigues, nasceu em 1976 em Osasco -SP, onde reside. Formado em Letras - Pós-Graduado em Literatura Contemporânea, é Professor de Literatura e Língua Portuguesa. Lançou em 2016  Aprendizagem Cinza pela Editora Patuá. Em 2017 teve publicados poemas em O Casulo e Hiperconexões. Também é autor do blog: nauseaconcreta.blogspot.com.br,  e um dos autores da Revista Zona Da Palavra. Possui poemas em diversos sites, revistas literárias e jornais como:  Jornal de Poesia, Zunái, Germina, Mallamargens, Cult, Antônio Miranda Portal de Poesia Iberoamericana, Revista 7 Faces, Musa Rara, Portal Vermelho, Banquete Poético, SérieAlfa (com traduções do poeta catalão Joan Navarro), InComunidade (Portugal), Blocos Online, Revista Alagunas, Diversos e Afins, Correio Braziliense etc

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