MUNDO CÃO [bramidos que vem de mim]
I
o mundo cão [que vislumbro]
repleto de enfloras fenecidas
- flui em alfobres de sombras -
e abrolha
canções funestas
em antecâmaras de terror
repleto de enfloras fenecidas
- flui em alfobres de sombras -
e abrolha
canções funestas
em antecâmaras de terror
II
o mundo cão [que habito]
abarrotado de estrela colapsadas em quintais de sombras
- faz sinfonia com sinistras madrugadas -
e concebe em seu interior
tiranias e genocídios
abarrotado de estrela colapsadas em quintais de sombras
- faz sinfonia com sinistras madrugadas -
e concebe em seu interior
tiranias e genocídios
III
o mundo cão [que jazo]
adornado com corpos em decomposição
- enterra inocentes em sinistras covas rasas –
e massacra em celas enfadonhas
quem contrasta com sua escuridão
adornado com corpos em decomposição
- enterra inocentes em sinistras covas rasas –
e massacra em celas enfadonhas
quem contrasta com sua escuridão
IV
ah, mundo cão!
em tuas esquinas desalumiadas
o medo faz fundeadouro
e os abutres executam a dança do aniquilamento
em tuas esquinas desalumiadas
o medo faz fundeadouro
e os abutres executam a dança do aniquilamento
A POSE [em morte]
um busto gótico
à esconder-se pudico
do olhar estrábico
do um público[estático]
à esconder-se pudico
do olhar estrábico
do um público[estático]
um busto dúbio
à mostrar-se ambíguo
em flash mudo
cadavérico [em cântico]
à mostrar-se ambíguo
em flash mudo
cadavérico [em cântico]
oh, um busto!
à insinuar-se mórbido
em libido lógico
no pórtico [átrio]
à insinuar-se mórbido
em libido lógico
no pórtico [átrio]
em arroubo único [em pose]
em morte
em morte
CHEZ MODESTINE
(Ao poeta Arthur Rimbaud)
embebecido por um bom bordeaux
amanheço blasé sob o alpendre frio do Chez Modestine
— almejo algo/coisa como um UnknownFlyingObjects
que me abduza dali
que me erga em direção ao improvável!
amanheço blasé sob o alpendre frio do Chez Modestine
— almejo algo/coisa como um UnknownFlyingObjects
que me abduza dali
que me erga em direção ao improvável!
no meio do dia ouço Zaz berrando:
j'en ai marre des langues de bois!
j'en ai marre des langues de bois!
j'en ai marre des langues de bois!
j'en ai marre des langues de bois!
j'en ai marre des langues de bois!
e os moralistas de vidro me reparam
como seu eu não significasse necas
que nunca serei lhufas
e a medida das hipóteses concretas
engolem em seco as minhas bonnesmanières
como seu eu não significasse necas
que nunca serei lhufas
e a medida das hipóteses concretas
engolem em seco as minhas bonnesmanières
são ditos-cujos de olho pesados
com monóculos de lentes cafifentas
e armação de cimitarra
com monóculos de lentes cafifentas
e armação de cimitarra
oh, céus!
e nem frases feitas
caem bem/explicam bem/delimitam bem
o que ajuízam de mim
e nem frases feitas
caem bem/explicam bem/delimitam bem
o que ajuízam de mim
sim, menina!
foi no Chez Modestine
que perdi o discernimento
que balancei o lenço aos piratas
e me fiz desmesuradamente aço-inox
versus a dissimulação dos autocratas
foi no Chez Modestine
que perdi o discernimento
que balancei o lenço aos piratas
e me fiz desmesuradamente aço-inox
versus a dissimulação dos autocratas
devia ter percebido
tempo que passei vislumbrando a escuridão que emanava do rio
devia te prestado mais atenção na Ilha do Sol
com sua ausência de avenidas
sem blocos de paralelepípedos
e sua mansidão
tempo que passei vislumbrando a escuridão que emanava do rio
devia te prestado mais atenção na Ilha do Sol
com sua ausência de avenidas
sem blocos de paralelepípedos
e sua mansidão
oh, minha Dulcinéia!
já te prometi tantos moinhos
e tantas garrafas de vinho ao luar
já te prometi tantos moinhos
e tantas garrafas de vinho ao luar
Nossa!
parece até que adivinhei
que as horas ali
eram calendários maias
que prediziam um futuro que nunca haveria
parece até que adivinhei
que as horas ali
eram calendários maias
que prediziam um futuro que nunca haveria
o emudecimento e o isolamento
a imagem da menina
escorada no píer de embarque
a espera do hipotético
a imagem da menina
escorada no píer de embarque
a espera do hipotético
e seus olhos eram ternos
os ensejos falaciosos
como a epiderme cálida
de uma sereia
os ensejos falaciosos
como a epiderme cálida
de uma sereia
rappelle-moi le jour et l'année
rappelle-moi le temps qu'ilfaisait…
rappelle-moi le temps qu'ilfaisait…
O TEMPO
O tempo ainda chega
e traz com ele a descrença
própria dos detestáveis fins de tarde
e traz com ele a descrença
própria dos detestáveis fins de tarde
(O tempo estampa de marasmo a face distorcida da velha dançarina)
O tempo quando atua
muda a paisagem das matas e vielas
desgasta a carcaça de automóveis nas oficinas mecânicas
muda a paisagem das matas e vielas
desgasta a carcaça de automóveis nas oficinas mecânicas
(O tempo quando posta suas garras de ciclope transforma em tardes gris a primavera)
Ah, o tempo quando se instala
distorce as fotografias dos casarões da Cidade Velha
e morre bocejando em frente ao Solar da Beira
distorce as fotografias dos casarões da Cidade Velha
e morre bocejando em frente ao Solar da Beira
(...) Oh, o tempo!
É testemunha ocular de meu rumo incerto em busca do céu!
É testemunha ocular de meu rumo incerto em busca do céu!
QUOTIDIANO
[Em Oiapoque]
...
os dias são cálidos
abrandados ao amanhecer
pela tímida/densa névoa
que dimana do rio
...
os dias são cálidos
abrandados ao amanhecer
pela tímida/densa névoa
que dimana do rio
as horas
– senhoras vagarosas –
anseiam para chegar o fim do dia
– senhoras vagarosas –
anseiam para chegar o fim do dia
o entardecer
– com seu por do sol alaranjado –
anima os enamorados
a improvisar juramentos inacabáveis
de felicidade
– com seu por do sol alaranjado –
anima os enamorados
a improvisar juramentos inacabáveis
de felicidade
oh, saudade!
– quando você me golpeia em frente à outros rios –
reconstrói ininterruptamente
minha confiança de dias melhores
que sobrevirão
– quando você me golpeia em frente à outros rios –
reconstrói ininterruptamente
minha confiança de dias melhores
que sobrevirão
[Ó Oiapoque]
...
minha alma te respira
– mesmo longe –
ao adormecer!
...
minha alma te respira
– mesmo longe –
ao adormecer!
GUERREIROS DE TERRACOTA
ao amanhecer
uma locomotiva voadora
pousa em um certo quarto acanhado
uma locomotiva voadora
pousa em um certo quarto acanhado
além dos motorneiros
ela transporta guerreiros de terracota
ela transporta guerreiros de terracota
equipados de belicosas
armas mediévicas
armas mediévicas
que atacarão um país inimigo
em uma hipotética incursão militar
em uma hipotética incursão militar
de repente
ao fundo
escutar-se
um grito de advertência:
ao fundo
escutar-se
um grito de advertência:
filho
é hora do banho
você tem escola agora!
é hora do banho
você tem escola agora!
e os corajosos guerreiros
voltam ao velho baú!
voltam ao velho baú!
Galeria: Ahermin Abramovitch
Meu nome é Marven Junius Franklin, sou paraense e radicado no Amapá. Sou professor e atuo na rede pública de ensino em Oiapoque-AP. Tenho publicações em vários sites de cultura virtual. Já tive poesias publicadas na revista de poesia e arte contemporânea MALLARMARGENS. Sou membro da ALIEAP-Associação literária do Amapá e em 2016 recebi o reconhecimento literário com a moção de destaque cultural pelo conselho de cultura do Amapá. Em Outubro de 2016 Fui premiado nacionalmente pela X CLIPP – Concurso literário de Presidente Prudente-SP.