SÍNDROME
Ulula nos cantos do quadro
e nos relógios
o vento
(livre)
e empresta o seu alento
à marcha do tempo
o tempo é o senhor do mundo
e o senhor das miragens
e até os relógios azuis
(intimidados)
esforçam-se em vão
prisioneiros
da Síndrome de Estocolmo.
ele tentam marcar as horas
para agradar a Chronos
(o pai perverso que devora os filhos).
CABEÇAS DE RELÓGIOS MOLES
De repente surge uma ideia nas cabeças
(ocas)
de fugir da solidão
do vazio
dos medos criados pela civilização
fazendo selfie
(o celular é a nova magia)
logo é só postar nas redes sociais
(e se for possível nos jornais virtuais
nas portas dos shoppings
nos cartazes dos teatros
ou cinzelar nas estrelas próximas)
deixar as perdas e o amor e a saudade
no mar da Catalunha
e ser fiel às ideias de felicidade
ser fiel ao carrossel do mundo
essa é uma obsessão
(como os passos agitados
que fazem ranger
as tábuas do piso
e da escada de madeira)
ser feliz 24 horas por dia!
ser feliz sem pausa e sem monotonia
nossa civilização de faz de conta
está se derretendo como um relógio mole
nossa civilização
alimenta-se de estranhas utopias
enquanto é devorada pelas formigas
do medo e da obsessão.
O HOMEM E O RELÓGIO
O homem
investiga os movimentos das galáxias
e faz cartografias celestes
observa o firmamento
pois deseja conhecer o universo
mas desconhece sua face
além do tempo
o homem contemporâneo
prisioneiro das horas
tem o coração do relógio vermelho
e é consumido pelas formigas do desassossego.
SERÁ?
Setenta vezes sete
ataques de formigas
e em silêncio está morrendo
esse relógio vermelho
talvez sonha com seu antigo esplendor
talvez murmura palavras
de perdão ou de rancor...
mas não resiste o ataque
e silencia seu rotineiro tique-taque
o relógio possui músculo cardíaco
um coração ora amável ora turbulento
será um coração humano?
será o coração do tempo?
Galeria: Salvador Dali
Isabel Furini é escritora, poeta, palestrante e educadora. Autora de 30 livros, entre eles, “Os Corvos de Van Gogh” e “,,, e outros silêncios”. Foi premiada no Brasil, Espanha e Portugal. Teve um poema selecionado no Concurso Poemas no Ônibus e no Trem, de Porto Alegre RS, 2009. É membro da Academia de Letras do Brasil/PR. Foi nomeada Consulesa da Academia Poética Brasileira; recebeu Comenda Ordem de Figueiró e foi nomeada Embaixadora Internacional e Imortal da Poesia pela Academia Virtual de Letras, Artes e Cultura do Brasil; Embaixadora da Palavra pela Fundação Cesar Egido Serrano (Espanha); Embaixadora da Rima Jotabé, Espanha. Seus poemas foram publicados nas revistas: Zunái, Jornal Cândido (editado pela Biblioteca Pública do Paraná), Biografia, Revista Mallarmargens, Almanaque Chuva de Versos, Revista Mirante, Revista Brasileira de Poesia (editada pelo jornalista Mhario Lincoln), Revista Palavra Comum – em Galícia Espanha e eisFluência (Portugal).5 poemas de Os Relógios de Dali - Isabel Furini