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Photographs by James Abbe |
lembrete
penetra (em silêncio)
o meu desejo
(no quarto) a poesia (descalça)
a dança (deslizo) atiçando
(transbordo)
fazendo de mim
faísca (estrondo) ilusão
(e rasgo)
para noites de (luar)
sem céu (não tem luz) tem cheiro
mas (com) ela chega em casa (a distância)
olha para mim (insinuando) o amor
(o amor!)
tenho vontade de abraço beijo (nexo)
só que as mãos dela primeiro fecham a porta da noite
(para mim) todos os devaneios do mundo (nesse momento)
escorrem (à deriva) numa única danação:
toca o telefone (ela atende) a serviço
prontidão que só esfacela amor (tristonhez que-nem)
sentir saudade é como (o desespero de) não ficar só
(desvario) ao rés do chão
e então ela abre a porta do quarto
(com outras) na cabeça (sucede-se) e se entrega
(sem contenções) remoto controle
(enquanto meu olhar só varavasculha) a não madrugada
assim ela (conversa ao telefone)
(escuta) consente (eu lamento)
(largo na sala a roupa que não...)
(o banho sem iniciar) (o sexo desfeito por falta de...)
e vai-se embora (mulher) sem palavra (de mais um não adeus)
sonho
(desejo) o silêncio
feito de poesia
e danço (e transbordo) e deslizo (fantasias)
(enquanto telefones não tocam) ausências nem são
pelo menos (assim)
com violetas e violinos ao luar
(a casa não se desajeita nunca)
(de ser luz-de-sonhar)
Carol Pivaé doutoranda em Arte e Cultura Visual na UFG, mestre em História pela mesma universidade e licenciada em Letras pela Federal de Uberlândia, Minas Gerais, onde nasceu. Tradutora e ficcionista, é uma das editoras-chefes do jornal de literatura e arte O Equador das Coisase mantém a coluna “Brasil Central, patrimônio da gente” no jornal A Redação, de Goiânia.