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6 POEMAS DE VANESSA CASPON

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ADAMASTOR


no imenso
salíneo,

meu gesto
modesto:

atravessar sem nau
as Gamas deste símbolo,

sem Grupo ou objetivo
que não fosse lírico:

me serrar quieta no sal
de conchas infinitas...

lutar pelo que destroi,
havendo deveras sentido

buscar ser heroi,
sendo apenas vencido



NO TÚMULO DE SYLVIA PLATH


o velho pesca
nesta lama:

varinha em punhos
para manter

ressuscitando
peixes-múmias



e eu sou a lótus dourada
entre as chamas violentas
ao seu lado:

armas em punho
para florescer



SÓ MÃOS
(à Lorine Niedecker)


sobrevoei além dos algodões
nos tímpanos do mundo:
Ícaro
em asas de aço

cochilei sobre trilhos e trens:
sonhei sonhos descarrilhados
dos ruídos da cidade adormecida
beijei os lábios das calçadas na noite

e em todos os pêssegos e framboesas
apanhados pelas mãos amigas
dupliquei-me

e depois de rolar em curvas de letras
me atirei em precipícios de quandos

quis te dar um souvenir de viagem:
nas minhas mãos, nada

além de um gibi e 2 reais
e um caderno e um batom



INTERTEXTO


quis trafegar em outras ondas:
inventei um mar
e me afoguei
sem saber o tempo
de me lançar

quis ficar num cais:
caí num trilho d'água
e naufraguei
soltando o vapor de ferro
de palavra nenhuma

quis mendigar em outros supermercados
comprar novas imagens:
me enclausurei
pois era um mar de mofo

inventei meus mantimentos
fracos, alguns orgânicos
pude me compor à caneta



BICHO PARIDO


nesse útero seco, no mundo,
no atravessar de linhas gastas,
cuidadosos passos não ferem

os lírios róseos
que agora brotam
destes meus pés

o queixo paralelo ao tronco:
a elipse azul e seca cega,
faz um afago imenso e fino
de uma mãe em sala de parto.

em corpo felino, em eixos,
subo este telhado de manta
sob o brilho dourado que canta –
luz loura é quem dá meu aleito:

um sol de pelos no meu peito
e os batimentos na garganta



DEGUSTAÇÃO DE SATURNO


no meu púlpito divino
sou eu
quem apara as garras dos leões

entre os vermes que aqui me comem
sou eu quem fermenta o licor
por outros já degustado

nesta casa de impossibilidades
sou eu
quem devora as cabeças de saturno

as máscaras da morte
não são perfeitas pra ninguém


foto: Edson Maier
(Detalhe do Palacio da Pena – Sintra – o Adamastor)

*    *    *



Vanessa Caspon, 21 anos, é graduanda em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal de São Paulo e inicia pesquisa acadêmica na poesia de Sylvia Plath. Parente próxima de pedagogos e distante de Graciliano Ramos, não acredita em habilidades congênitas, mas em ( ). Escreve desde os 8 anos, mas só começou a compor poemas em 2010 e, desde então, venceu o 3º lugar de um concurso literário da universidade onde estuda e foi selecionada para o Curso Livre de Preparação do Escritor (CLIPE - Casa das Rosas), que teve início em março de 2013. Hoje, poesia é praticamente o único gênero que compõe. Vê como principais referências os tragediógrafos gregos e os poetas de língua inglesa do século XX. Apesar de escrever desde a infância, não faz da escrita uma rememoração. Escreve para não sucumbir às suas lembranças. Escreve para se apagar, para trazer algo de universal a partir de sensações aparentemente individuais. Não muito boa leitora de prosa, ama a fragmentação e a esquizofrenia. Leia seu blogue aqui.










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