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3 poemas de Alberto Bresciani

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Chema Madoz
METEOROLOGIA

Franz se levanta e vai à janela
Espera ali a chuva, sente calor,
lembra-se dos amigos mortos 
e dos vivos, pensa que anfíbios
existem e sabem respirar, mas
não tem medo, nem está triste 
É o jeito que as coisas voltam
O sangue desistindo dos joelhos
e caindo na aspereza da areia,
lágrimas caindo à terra vermelha,
as partidas sem adeus - replays
de takesimpensáveis de violência 
E o vento diz que talvez chova
Virão as flores roxas do jardim 
que se esquece sempre de regar
Sim, Franz deleta aquele texto 
e não tem mesmo medo, nenhum
Deve ser assim, isso, de ser feliz


COLECIONADORES

Franz tem dois pássaros
colecionadores; as aves
lhe trazem muitas coisas
: três relógios brilhantes,
meia lebre, cinco flores
Hoje, deixaram uma caixa
É branca e está vazia


INVENTÁRIO

Não adianta mais tentar
técnicas marciais e de guerrilha

Franz nunca achou o mapa
não soube de atos suspeitos
nem foi síndico

Quando crescesse
perderia a cor verde

Não seria inseto, asteroide ou bisão
Estaria pronto para a atmosfera
terrestre

Mas não

Talvez nem se percebam
a clorofila sob as mangas dobradas,
a contagem regressiva

Franz ainda recorta bonecos
de mãos dadas



Alberto Bresciani nasceu no Rio de Janeiro. Vive em Brasília. É autor de Incompleto movimento (José Olympio Editora, 2011) e de Sem passagem para Barcelona (José Olympio Editora, 2015, finalista do prêmio APCA de Literatura - Poesia de 2015). Integra, entre outras, as antologias Outras ruminações (Dobra editorial, 2014), Hiperconexões (Editora Patuá, 2014), Pássaro liberto (Scortecci Editora, 2015), Pessoa – Littératurebrésiliennecontemporaine (Revista Pessoa, editionspéciale – Salondu Livre de Paris, 2015) e Escriptonita(Editora Patuá, 2016). Tem poemas publicados em portais, blogs e sítios da internet e em revistas e jornais impressos.



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