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5 poemas de Felipe Pauluk

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SLOW-MOTION

às vezes chegamos perto do abismo 
rodeamos o inferno
chegamos à conclusão de que nada mais vale,
de que o passado foi um saco de merda
& o futuro será uma mina explodindo em slow-motion
debaixo do pé esquerdo
aquele negócio de que o amor tudo suporta,
tudo espera,
não passou de um sonho apostólico de paulo,
& a maior virtude do ser humano é sentir saudade

amor é um perigo,

é uma faca afiada
nas nossas mãos de menores infratores da vida



AUTO-DEFESA


das coisas sólidas não resta nada
aquele teu iogurte de jabuticaba
com pedaços de frutas vermelhas acabou
vendi teus sapatos de salto baixo ao brechó
& a ração do gato mofou

dei um jeito no bidê da cabeceira da cama,
outrora cheio dos teus livros da elena ferrante
& alguns auto-ajuda da rhonda byrne
transformei-o em covil de bulas & fracos vazios

meu expediente é cama,
solidão, cachaça & granada

meus escritos estão abertos no computador
& não salvei nenhum.
o prédio não tem para-raios,
sendo assim, basta o céu fumegar
e o meu notebook torra como um carvão do inferno

das coisas sólidas só restam um peito cheio,
um nariz escorrendo & um decálogo
que escrevi na parede da sala com seu batom esquecido

regras básicas para minha auto-defesa caso você volte




VERBO


e o silêncio
tornou-se saudade
e habitou entre nós



RESQUÍCIOS

eu estou tentando me livrar, baby
todos os resquícios
todos os frascos & resíduos
todos os cheiros e toques
a lembrança é um encosto que afaga
tomei o tal banho de sal grosso
fui na benzedeira que tua vó tanto falava
ela me chicoteou com os ramos e repetiu malditas palavras,
algo do tipo: "jesus te acompanhe" e "deus te proteja"
você deveria se chamar "legião"
estou me desintoxicando
limpando os órgãos internos & toda minha poesia
passando o avast no corpo
arrebentei o escapulário de são jorge
lancei pela janela o anel de pentagrama
e dei descarga nos absorventes
que você deixou debaixo da cama
o mundo precisa de mim
as ruas gemem pelos meus pés
eu preciso sair sem você por aí
asas limpas
cabelos ao vento
cigarro acesso
cabeça a mil & uma cidade inteira como amante



FILHADAPUTICES

até logo mais
ela disse
e nunca mais voltou
quanta saudade
daquela filha da puta
e suas filhadaputices


Imagens: Hossein Zare 



Felipe Pauluk é um curitibano residente em Londrina, jogou na loteria da vida e, numa quina fodida, tirou o menor prêmio, a literatura. Tentou se enforcar lançando seu primeiro livro, Meu Tempo de Carne e Osso (2011). Depois vieram algumas contas à pagar e saiu Hit The Road, Jack(2012). Em 2015, foi detido nas redondezas da ala mais perigosa da cidade portando Town. De frente com os homens da lei, ele negou, no entanto, foi provado que se tratava de mais um romance. Pauluk coleciona passagens por poesia-breve, fragmentos e roteiros de clipe. em 2016 a vida não foi diferente, ainda dentro do submundo da literatura cumpriu pena pelo lançamento do comida di butequim (2016), um pocket livro de bolso, considerado uma arma branca de lirismo. Está aí o elemento.



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