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Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea: Seis poemas de Mell Renault

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Por Marcelo Ariel

A voz lírica que se move oceanicamente dentro de uma dimensão epistalográfica, resiste a ser fantasmagorizada, desde suas topologias repletas de irradiações intensas e cifradas até uma outra enterrada no espaço museológico do espírito humano, esta voz é de certo modo ressuscitada nos poemas de Mell Renault  e encontra  neles uma potência sutil  que se move na contramão de nosso tempo de dissipações e nadificações.  Como em Florbela Espanca, estamos em uma zona limite onde a evocação do fenômeno amoroso tenta escapar de racionalizações e de um esquadrinhamento lógico, sentinentos vastos se movem em espaços do impossível que para além de nomeações constroem as bases do que chamamos de vida  real, pulsões e emanações da natureza se movem de dentro para fora de conceitos e ilusões, há um coragem em assumir um deslocamento e estranhamento que aparentemente parece ser simples porque seus códigos foram cada vez mais gastos e até assassinados pelo senso comum, por isto há uma urgência de pássaro contornando os vidros de arranha-céus no resgate do lirismo romântico.


*1*

a ausência agita a página.
Te crio aqui
impressão da sua imagem consagrada.
- Sua falta fez brindar as taças.
...
Estou afetada
pela esperança
       Vontade de fugir
e escondida
me mudar
para dentro do silêncio profundo.
No canto superior
do teto mofado
Ser rocha
que se dissolve
na onda.
Ser o caminho final
do passo,
a marca do sem nome
           na areia.
...
Só queria respirar profundo
diante a ventania
e
Sent(ir)
que ali também estou.
Fica.



*2*

O silêncio se desgasta
     e o verbo solto
          em constante perigo
  Se perde.
A palavra dissolve
   no céu da boca.
Tudo escapa.
    Sentimento expande,
        o limite.
O corpo em intervalos
de acasos
alimenta
o que em mim é crú.
Teu verso reverbera
E enche de ar meus pulmões.
...
Em nós, o amor ama.
      Versos cheios
       de carne.
Fica.



*3*

Corpo Casulo
Corpo Fatal
aqui me entrego
       à deriva.
Coração prisioneiro
         da vigília
Suspenso
em suspiros
     Deixo-me inteira
para que me leias
com a alma aberta.
      a pressa da pressa
empurra
           a palavra
nesse
     Corpo Beco.
Então hoje,
      Corpo degustação
      rasgando o silêncio
      das impressões.
agora, não sei falar.
           Sinto.
Teu olhar nú
me espia
     pela fresta da porta.
Fica.



*4*

amo em ti tantos outros que neguei.
Eu sei, a cicatriz
            da outra
             Cicatriz
        não curada,
nesse momento
a palavra inflamada
Arderá
no (anti)verso
que escrevo.
              Verás assim minha outra face,
                   Coração estalando.
Ficaremos tu e eu cercados por dentro,
teu verso dirá o indomável.
...
Amar, Poeta, é além.
Fica.



*5*

salgada e úmida é minha palavra hoje.
Meu corpo não quer mais ser corpo.
                 Dói
                   as mãos
                   a voz
o lado esquerdo da alma.
(...)
Essa vida aqui inventei para continuar vivendo, em ti.
Logo
Tudo acaba,
menos o amor
esse
Transvive.
Fica.



*6*
procuro teu abraço na asa aberta do pássaro.
...
Teu verso, profundo oceano
             acalma meu corpo.
Nessas noites líquidas, busco-te.
           São teus olhos
            que regam meu amor.
Na língua, minha fala calada,
entalha enredos na sua boca.
...
           Frágil mudez grita em mim.
               a vigília dos gemidos.
Fica


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