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10 poemas de Jovino Machado

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Jerry Uelsmann
a dama das trevas !!!

sabe dançar a falsa valsa
seu voo é um presságio sombrio
no impulso lúdico caiu da torre
e perdeu a terceira perna
pode andar sem ela com muletas
mas vai sentir muito a sua falta
fala baixinho como uma fada
mas fere fundo como uma bruxa
sua saliva é venenosa e cruel
anda com passo de gazela
para não despertar os cães
deu um salto trapezista
quando o cupido se abaixou
para apanhar a flecha
sabe fingir em alemão
ou sabe-se lá qual idioma
demônio medieval
disfarçada de anjo barroco
pode ser vista ao lado de satã
na divina comédia de dante
ou rezando uma ave-maria
aos pés de nossa senhora do desterro
no altar da igreja do pilar
numa estranha alquimia
entre o sagrado e o profano
vai passar a eternidade
no nono círculo do inferno
ao lado de caim e judas
virgilio vai lhe virar a cara
sua beleza é uma cadela
que me envia em seus latidos
um ganido de socorro
que a vingança transformou
em cantiga de maldizer



lúcifer no cio

seu próximo passo
é retocar o batom
e assassinar
o amor que não existe

seu próximo passo
é pintar as unhas
e furar os olhos
da menina triste
que quer ser madonna

seu próximo passo
é usar os novos brincos
e derrubar do viaduto
o menino pobre
que quer ser guevara

seu próximo passo
é escolher a minissaia
e comprar a alma
do último trovador


vermelha

seu pé lindo
desfila sob a saia
não sabe se vai
se fica
ou se desespera

dentro da saia rubra
você rebola
intensa e trágica

o amor não anda de uber


satanás de saia

satanás de saia
não quis ser viúva
morreu na praia

seu fogo era frio
sua forca era fraca
seu punhal era podre

se enforcou no ego
se queimou na vaidade
se matou na maldade

não quis envelhecer
antes de apodrecer
belo pasto para os vermes

a cruz é espelho
doentias são as flores
contaminadas pelo abismo
Laura Makabresku

      
a vida não presta
quando eu adoro
e você detesta

a vida é uma bosta
quando eu amo
e você não gosta

a vida é vazia
eu vício
você vadia

a vida é neblina
eu enlouqueço
você sublima

a vida é enfadonha
você fuma maconha
eu como pamonha

a vida é careta
você pula do acaiaca
eu bebo no maletta

a vida não presta
quando eu subo bahia
e você desce floresta

a vida é inimiga
quando eu te odeio
e você nem liga



noite aos 50

engov
epocler

backer
bohemia

algum carinho

brahma
budweiser

engov
epocler



narciso

debaixo da saia vermelha
se esconde seu chute burro

seu charme é a antessala do vômito

não existe inocência em seu ego

você é uma cinderela de príncipes gripados

narciso não anda em bando
narciso prefere fechar a cara
narciso prefere beber sozinho

é que narciso acha feio
o que nunca vai ser poesia


Laura Makabresku

futuramente ruiva


não faça piada do meu poema
não faça pouco do meu desejo
não faça galhofa da minha gargalhada
minha vida é um verso tosco e torto
quando estou distante de sua beleza
que pode ser negra e pálida sob a lua
ou futuramente ruiva
como as mulheres dos cabarés de dublin
que joyce amava em 1904
espero dançar com você
na próxima temporada
espero que o strip-tease da sua verdade
não seja o seu dom de iludir



strip-tease

tire as sapatilhas
minha alma
é abismo aberto
peito pulsando
não pode se poupar do belo
sem o calcanhar aquiles seria impossível

tire os empecilhos
seus seios acesos
são os únicos faróis
como força e poder
para iluminar
as sombras do tédio

tire os penduricalhos
não alimente
as andorinhas do seu telhado
não corte as asas
das gaivotas do seu penhasco

tire todas as amarras
liberte ulisses da caravela
a sereia espera por você
poesia só ganha o mar
ignorando a calma do cais

tire o batom
do guardanapo
levante a taça
com a mão esquerda
a do coração

tire a poesia
de sua biblioteca
eu sei que você tem mais livros
do que sapatos
o discurso da ação
é falado com o corpo


tire os óculos
o amor precisa
de sua cegueira
o navio só naufraga navegando
o leonino está rugindo no coliseu


            *

o que eu mais queria
acabou acontecendo
antes
de acontecer
o que eu mais temia

o que eu mais temia
acabou acontecendo
depois
de acontecer
o que eu mais queria


JOVINO MACHADO nasceu em Formiga (MG), em 1963. Foi criado em Montes Claros e vive em Belo Horizonte. Publicou 15 livros de poemas: Só Poesias (1981), Em Cantos e Versos (1982), Uma Mordida Para Cada Língua (1985), Deselegância Discreta(1993), Trint'anosProust'anos (1995), Disco (1998), Samba (1999), Balacobaco(2002), Fratura Exposta (2005), Meu Bar Meu Lar (2009), Cor de cadáver (2009), Amar é Abanar o Rabo (2009), Cantigas de Amor & Maldizer (2013), Meu Jeito Bêbado de Ser (2015) e Sobras Completas (2015). Publicou poemas no Suplemento Literário de Minas Gerais, Jornal Rascunho e no Cândido, da Biblioteca Pública do Paraná. Tem textos poéticos publicados do Portal Cronópios, na revista Germina Literatura e no blog: http://jojomachado.zip.net.


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