No discurso
Durante os afrouxes de sua voz
Vi rascante tantas almas.
Observei as lábias comerciantes
E os joelhos russos,
Eram amantes que fugiam
Sem notas delicadas
Em peles vermelhas
Vide as meninas
Mal amadas.
Devoto de tudo que ali
Eu aqui anotava
Pois, depois, quem iria
A mim
Macular a história.
Testa
Minha
Por tua mão
Rachada.
Vi homens mortos
Sem leitos
Sem pálpebras.
Ruinoso foi
Cada montante
De cada palavra
Hoje acanho meu corpo
Na cadeira nova
Que doaram à poeta
Não leve de mim
Nem traga
A imortalidade
Eu ouvi
Naquela praça.
Dia comum
De ar seco
Bocas abertas,
De mentes
(Vazias)
Um tanto
Fechadas.
Anistia
(Avisem os anjos)
O povo deleita do poder
De facilitar as injúrias
Pecaminosas do poder.
Ensinaram o perdão
da culpa, o juízo.
Deitem na estrada
Pois os caminhões
Irão romper
Seus músculos.
O sorriso fácil
Na sacola plástica
Basta.
Salve seu rei
Limpe sua honra.
E o mundo
Será uma velha transa,
Um sorriso pouco
(A nossa mentira boa)
Que irá prestar
Para preencher
O vazio dos dentes.
Canção de Guerra
Sou
O que boca
Escapa
Espada
De quem tem medo.
Urro
Murro
Me abafo
Te bato.
Somos
Teu suspiro.
Medo e sacrifício.
Vem.
Nua
Que me cobre
O corpo torto.
Sou teu pertence
Em campos
Aos prantos
Sem balas alojadas.
Foice,
Quem falou
Tomou.
Sou um frio
O que te espera
Na pressa de um assobio bobo.
Calafrios
São teus seios
A tocar meus lábios.
Abram as portas
Fugitivo
Adentra sua família
Deslumbra teus motivos.
Sou
O que do sangue chora
Bom de beber
Ruim de lembrar
Lá
Na boa aurora.
Querer Mundo
A alma sofre de cimeiro,
Embora tão baixo fique
Assombra o planar,
Fausto das noites,
Dos olhos em vertigem.
Por tudo mais alto
Tão em cima,
A cruciar meus ares,
Luar em menina.
Cala teus preceitos
Afoba sua senectude
És ainda
Jovem
Em pecado.
E a alma pretérita
Assume o corpo novo.
"Minha alma sofre de cimeiro
Cá embaixo desse céu."
Pula que quer estrelas,
Revel que tanto é!
Ode à vergonha (Brazil)
Depois daquela tarde – espiei melhor os olhares -
Alertavam, em si, moedas em louvor.
Depois dos tons (dos tombos);
Muita alma,
Pouco amor.
Permitamos.
Oh, virgens, permitais.
(Sexo Arcanjo)
Adentrou os documentos
Restou um país (calçolas e liras)
Terra sem cais, sem mais...
Leis absurdas
Que devorastes os versos miúdos,
Filhos da ponte: devolvam minha honra de anti-herói.
E penso
Ao lado
Esquerdo.
E lento
Direito.
Sigo moderno,
Cinza do que foi,
Paramos parâmetros cotidianos.
Choro como risos em ti,
Fácil de esquecer
Aquilo que mata
O bom de nós...
A alegria dos filhos de milênio.
E depois daquela tarde – entendi melhor os alardes –
Destronaram o certo,
Corruptos de tudo
Mancharam nossa boa juventude...
Depois do tom
Cinza
Do que foi o bom de nós.
Camila Passatuto, 28 anos, escritora. Desde 2007 participa de diversas antologias poéticas e revistas culturais com seus poemas e prosas, além de divulgar seus textos em blogs e redes sociais. Em breve lançará seu primeiro livro de prosa poética pela Editora Penalux.