Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

5 POEMAS DE CAMILA PASSATUTO

$
0
0

No discurso

Durante os afrouxes de sua voz
Vi rascante tantas almas.

Observei as lábias comerciantes
E os joelhos russos,

Eram amantes que fugiam
Sem notas delicadas 
Em peles vermelhas

Vide as meninas
Mal amadas.

Devoto de tudo que ali
Eu aqui anotava

Pois, depois, quem iria
A mim
Macular a história.

Testa 
Minha
Por tua mão
Rachada.

Vi homens mortos
Sem leitos
Sem pálpebras.

Ruinoso foi
Cada montante
De cada palavra

Hoje acanho meu corpo
Na cadeira nova
Que doaram à poeta

Não leve de mim
Nem traga

A imortalidade 
Eu ouvi
Naquela praça.

Dia comum
De ar seco
Bocas abertas,

De mentes
(Vazias)
Um tanto 
Fechadas. 



Anistia

(Avisem os anjos)

O povo deleita do poder
De facilitar as injúrias
Pecaminosas do poder.

Ensinaram o perdão
da culpa, o juízo.

Deitem na estrada
Pois os caminhões
Irão romper
Seus músculos.

O sorriso fácil
Na sacola plástica
Basta.

Salve seu rei
Limpe sua honra.

E o mundo 
Será uma velha transa,
Um sorriso pouco

(A nossa mentira boa)

Que irá prestar
Para preencher
O vazio dos dentes.



Canção de Guerra

Sou
O que boca
Escapa

Espada
De quem tem medo.

Urro
Murro
Me abafo
Te bato.

Somos
Teu suspiro.
Medo e sacrifício.

Vem.
Nua
Que me cobre
O corpo torto.

Sou teu pertence
Em campos
Aos prantos
Sem balas alojadas.

Foice,
Quem falou
Tomou.

Sou um frio
O que te espera
Na pressa de um assobio bobo.

Calafrios
São teus seios
A tocar meus lábios.

Abram as portas
Fugitivo
Adentra sua família
Deslumbra teus motivos.

Sou
O que do sangue chora
Bom de beber
Ruim de lembrar
Lá 
Na boa aurora.



Querer Mundo

A alma sofre de cimeiro, 
Embora tão baixo fique

Assombra o planar,
Fausto das noites,
Dos olhos em vertigem.

Por tudo mais alto
Tão em cima,
A cruciar meus ares,
Luar em menina.

Cala teus preceitos
Afoba sua senectude 

És ainda
Jovem 
Em pecado.

E a alma pretérita
Assume o corpo novo.

"Minha alma sofre de cimeiro
Cá embaixo desse céu."

Pula que quer estrelas,
Revel que tanto é!



Ode à vergonha (Brazil)

Depois daquela tarde – espiei melhor os olhares -
Alertavam, em si, moedas em louvor.

Depois dos tons (dos tombos);
Muita alma,
Pouco amor.

Permitamos.
Oh, virgens, permitais.
(Sexo Arcanjo)

Adentrou os documentos
Restou um país (calçolas e liras)
Terra sem cais, sem mais...

Leis absurdas
Que devorastes os versos miúdos,
Filhos da ponte: devolvam minha honra de anti-herói.  

E penso
Ao lado
Esquerdo.

E lento
Direito.

Sigo moderno,
Cinza do que foi,
Paramos parâmetros cotidianos.

Choro como risos em ti,
Fácil de esquecer
Aquilo que mata
O bom de nós...
A alegria dos filhos de milênio.

E depois daquela tarde – entendi melhor os alardes –
Destronaram o certo,
Corruptos de tudo
Mancharam nossa boa juventude...

Depois do tom
Cinza
Do que foi o bom de nós.




Camila Passatuto, 28 anos, escritora. Desde 2007 participa de diversas antologias poéticas e revistas culturais com seus poemas e prosas, além de divulgar seus textos em blogs e redes sociais. Em breve lançará seu primeiro livro de prosa poética pela Editora Penalux.













Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles