Dentre todas as Almas já criadas –
Uma – foi minha escolha –
Quando Alma e Essência – se esvaírem –
E a Mentira – se for –
Quando o que é – e o que já foi – ao lado –
Intrínseco – ficarem –
E o Drama efêmero do corpo –
Como Areia – escoar –
Quando as Fidalgas Faces se mostrarem –
E a Neblina – fundir-se –
Eis – entre as lápides de Barro –
O Átomo que eu quis!
*
Que o Amor é tudo que existe
É tudo que sei do Amor.
Isto é bastante – o peso deve
Adequar-se ao andor.
*
Se eu puder evitar que um Coração padeça
Não viverei em vão.
Se eu fizer que na Vida alguém esqueça
A dor ou a Aflição
Ou se ajudar um Pássaro caído
A retornar ao Ninho
Não viverei em vão.
*
Tão plausível se torna
Um Sonho acalentado
Que o Real para mim já é fictícios –
A Ficção – é real –
Que Visão suntuosa –
Que Riqueza – seria –
Tivesse minha Vida sido um Erro
Corrigido – por Ti
*
Se viesses no Outono eu varreria
O Verão de uma vez –
Como a Dona de Casa faz à Mosca –
Com prazer e desdém.
Se eu pudesse te ver dentro de um ano
Os meses – como lãs –
Guardaria em novelos na Gaveta
Para não misturar.
Mesmo por Séculos te esperaria
Até que nos confins
Da Tasmânia a contá-los os meus dedos
Me viessem cair –
Mas essa imensurável incerteza
Que entre nós se interpôs –
É uma abelha Maligna que me fere
Sem mostrar os ferrões.
*
Acharemos o Cubo do Arco-Íris
Disso ninguém vai duvidar
Mas o Arco das Ideias de quem ama
Ninguém há de encontrar.
José Lira dedica-se à tradução poética (Emily Dickinson: Alguns Poemas, A Branca Voz da Solidão), além de cultivar o conto (Velhas Histórias do Brazil), e tem ensaios é críticas literárias e estudos de tradução publicados em livros e periódicos especializados. Devem sair em breve as suas traduções derivadas da obra poética de Kobayashi Issa e Matsuo Bashō.