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Mira Nedyalkova |
TROPEGO POEMA AO ALBATROZ
(Les Fleurs du Mal - Baudelaire)
(Les Fleurs du Mal - Baudelaire)
Imaculadas majestosas
velozes asas
em instantes pontuavam cardeais
desenhando estrelas
sucumbem quedadas
aos efeitos colaterais
- nefasta gravidade, das flores do mal!
Inúteis
desafinadas
o poeta obrigam perambular
velozes asas
em instantes pontuavam cardeais
desenhando estrelas
sucumbem quedadas
aos efeitos colaterais
- nefasta gravidade, das flores do mal!
Inúteis
desafinadas
o poeta obrigam perambular
mente ao chão coxear
entre os mortais
mendigos de atenção
A cobiça em expor em museu
o adorno carnavalesco relíquia "in memorian"
ao ser alado
os cega
é o algoz do albatroz
mal sabem -
o mau - o que fazem?
asas atrofiadas o envergonham
podadas ressuscitam siderais
arrancadas sepultam
a alma viva
do monarca dos azuis
entre os mortais
mendigos de atenção
A cobiça em expor em museu
o adorno carnavalesco relíquia "in memorian"
ao ser alado
os cega
é o algoz do albatroz
mal sabem -
o mau - o que fazem?
asas atrofiadas o envergonham
podadas ressuscitam siderais
arrancadas sepultam
a alma viva
do monarca dos azuis
COMBATES
Travo guerras amorfas
não sangram jornais
antes rasgam palavras
silenciadas
distantes telas
bloqueio - as
pálpebras no cristal
óleo de peroba
derrete-se nas caras
de pau
nas peles - arranco
dos cordeiros
que uivam - verão
aquecem meu inverno
Crio nos amores que invento
belos/deliciosos/sevados
os sirvo
à ceia que sacia
não sangram jornais
antes rasgam palavras
silenciadas
distantes telas
bloqueio - as
pálpebras no cristal
óleo de peroba
derrete-se nas caras
de pau
nas peles - arranco
dos cordeiros
que uivam - verão
aquecem meu inverno
Crio nos amores que invento
belos/deliciosos/sevados
os sirvo
à ceia que sacia
digiro-os enquanto sonho
à aurora
descarto-os
na descarga
doida raiz
aprisiona-me
refém do silêncio
abusa-me!
DESPEJO
Dissipo-me dos trajes
que ontem usei no circo
Meu humor mudou-se
com eles
que ontem usei no circo
Meu humor mudou-se
com eles
fora de mim
não minto
nem faço rir
enxergo a nudez apática
que soa sátira
mas é dor
Limpando a falsa lágrima
maquiadamente escrevo
livro-me
em público -
entre as capas
entre aspas
que não me contém
andando leio
o livro
com outra face
enquanto aguardo - absolvo-me
livro-me
em público -
entre as capas
entre aspas
que não me contém
andando leio
o livro
com outra face
enquanto aguardo - absolvo-me
no cálice e não calo - o poeta livre
andar errante educadamente
andar errante educadamente
a arder-me os olhos
queimar-me a pele
queimar-me a pele
cremar-me a carne
incinerar-me os ossos a pó
incinerar-me os ossos a pó
calcificar-me em lava
ou lavrar-me após a chuva ácida
as páginas em branco
ou lavrar-me após a chuva ácida
as páginas em branco
MOSAICO
Às vezes parto
quebro em mil pedaços
o desespero
dos anos lapidados em aço
Dos restos garimpo artesanato
aleatórios rejunto
os cacos reencontrados
as máscaras de sorriso cravejadas
no monstruoso mosaico
Se deserto o futuro
que me propõe lascivo
deserdas o presente
que te descreve frívolo
quebro em mil pedaços
o desespero
dos anos lapidados em aço
Dos restos garimpo artesanato
aleatórios rejunto
os cacos reencontrados
as máscaras de sorriso cravejadas
no monstruoso mosaico
Se deserto o futuro
que me propõe lascivo
deserdas o presente
que te descreve frívolo
LÁPIDE
Amor, faleceu...
Sedento, sob o céu
faminto
no tempo
de lavrar palavra!
meu amor, não resistiu ao peso preso
à lápide
à cruz
a rosa não ousou beijar!
carne e ossos
humano, fraco...
sucumbiu ao suave voo
ao silêncio escuro
ao não olhar...
Sem tempo,
não há mistério!
alma partida -
asas à sombra da árvore ao vento!
meu amor, foste!
Se lapidasse esse dia...
amante
Se lapidado - Sem trincas -
aceitasse o não-espelho!
Se...
Sempre...
Se amanhecesse o invisível - não falo... - ainda existe!
Sedento, sob o céu
faminto
no tempo
de lavrar palavra!
meu amor, não resistiu ao peso preso
à lápide
à cruz
a rosa não ousou beijar!
carne e ossos
humano, fraco...
sucumbiu ao suave voo
ao silêncio escuro
ao não olhar...
Sem tempo,
não há mistério!
alma partida -
asas à sombra da árvore ao vento!
meu amor, foste!
Se lapidasse esse dia...
amante
Se lapidado - Sem trincas -
aceitasse o não-espelho!
Se...
Sempre...
Se amanhecesse o invisível - não falo... - ainda existe!
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Mira Nedyalkovar |
LAPIDANDO
Esse homem virgem
às vezes me sorri em verso
Devorando-me em vertigem
No novo universo
em voo liberto
como sempre quis
sussurro em meu canto!
Em tudo o que diz
Mina raro o amor
em inesgotável fonte
um lapidado diamante...
Ele, intransigente
Intransitivo
Indireto verbo
de um tempo que não existe:
Deixa passar!
Deixa pra depois!
Espera o olhar
por nós dois...
Devorando-me em vertigem
No novo universo
em voo liberto
como sempre quis
sussurro em meu canto!
Em tudo o que diz
Mina raro o amor
em inesgotável fonte
um lapidado diamante...
Ele, intransigente
Intransitivo
Indireto verbo
de um tempo que não existe:
Deixa passar!
Deixa pra depois!
Espera o olhar
por nós dois...
EXÓTICA POESIA
É poesia apesar ...
o amargo mofado
na casca da ceia
casado - tão perfeito! -
ao espumante adocicado
putrefato –
o amargo mofado
na casca da ceia
casado - tão perfeito! -
ao espumante adocicado
putrefato –
amanhecidos
- em campo fértil
que nos serve de leito brindamos
ao vento
ao luar
promessas no olhar
os dedos em cruz
a jurar segredos sagrados ...
É poesia apesar...
o sangue coagulado requentado
encerrado na cova
dos dentes alvos
que rasgam carnes
trituram ossos
- em campo fértil
que nos serve de leito brindamos
ao vento
ao luar
promessas no olhar
os dedos em cruz
a jurar segredos sagrados ...
É poesia apesar...
o sangue coagulado requentado
encerrado na cova
dos dentes alvos
que rasgam carnes
trituram ossos
exibem - dramático esse tango,
onde cochilo e vomito o vinho que sorvi! -
nos lábios- sorri - sedutora rosa!
onde cochilo e vomito o vinho que sorvi! -
nos lábios- sorri - sedutora rosa!
exala irresistível odor:
amor - boreal colorido na aurora!
É poesia apesar...
Feto, inda agora, inédito, fez-me provar, entre as coxas e no dorso - a língua silenciosa! - a tua pena - lambe-me - suave encena, encera e compõe minhas asas distantes nos voos por tantos sóis e blues...
É poesia apesar...
alquimia sólida,
fórmula derretendo-me no gozo - seio e sexo - corpo e alma - e tão bem, embora náufrago, descreve-me!
É poesia apesar...
afora
exótica lágrima
pesar!
amor - boreal colorido na aurora!
É poesia apesar...
Feto, inda agora, inédito, fez-me provar, entre as coxas e no dorso - a língua silenciosa! - a tua pena - lambe-me - suave encena, encera e compõe minhas asas distantes nos voos por tantos sóis e blues...
É poesia apesar...
alquimia sólida,
fórmula derretendo-me no gozo - seio e sexo - corpo e alma - e tão bem, embora náufrago, descreve-me!
É poesia apesar...
afora
exótica lágrima
pesar!
PORTA-RETRATO
Ao amor não assiste perguntas ou respostas
de joelhos agradeço
mendigo palavras
que auroram poesia
engasga-se
revelando-me o futuro
seu silêncio místico...
linguagem de sinais copio incompreendido
nas mensagens o socorro
garrafas lançadas ao mar
naves sem rumo
em desconhecidas órbitas
sigo (estrelas que não existem)
enquanto a ampulheta traga
o deserto de rosas
em desconhecidas órbitas
sigo (estrelas que não existem)
enquanto a ampulheta traga
o deserto de rosas
na praia
o milagre do tempo espero
sem medo
revolto o mar
navego
repousa tranquilo
em meu colo
autorretrato
vitrificado
o desejo explícito
seu olhar salgado
MISTÉRIOS DO GRAU
O desejo de possuir o harém
em mim - furioso
entusiasmo- em Julho Evola
reticente, a dignidade humana...
Cavalgas o tigre na penumbra transcendente
Eunuco, fiel sangue, às tradições e às máscaras
antimoderno, projeta-se hierárquico
superior, o clã que te escraviza
O amor em que reino,
além do visível, metafísico,esotérico,
singular e supremo, castras!
Abala-me o âmago a força,
mas não espero o futuro
instante espontâneo que não surge.
Crio-o constantemente
se falha
resta-me o sacrifício derradeiro!
BUCANEIRO
essa flama
pira o atlas
atrás piratas
essa flama
pira o atlas
atrás piratas
pra nossa cama
branca bandeira
branca bandeira
no corsário
acena pop
a caveira
- veneno
ou rock? -
acena pop
a caveira
- veneno
ou rock? -
imaginei um marinheiro náufrago
saqueou-me a alma o bucaneiro lorde
saqueou-me a alma o bucaneiro lorde
destina-me à prancha
mergulho
em meu ego
em meu ego
naufrago
encontro o forte
a fantasia que me possui
possui(r)-te!
encontro o forte
a fantasia que me possui
possui(r)-te!
Escrevo secretos diários de viagens desde criança. Gosto de brincar com as palavras, resenhando livros, filmes, opiniões, homenagens, sabores, impressões, músicas, enfim, tudo o que vejo e sinto, em poesia.
Sou advogada há 22 anos e há poucos dias, a ponte invisível entre o direito e a arte começou a parecer sólida. Hoje ouso a travessia...