Quando a vi, numa tarde cinza
Era um quadro expressionista Não existia para mim nesse mundo
Nem em outro
Tamanha beleza pessimista
Daquele ar triste surgiu um sorriso pleno
Se fez o verde ao redor
As flores das quaresmeiras
E os profundos verdes-mares
Daqueles olhos
Vitrais por onde se espia
(ou ao menos se imagina)
Como seria poder...tocar
E eu me apaixonei pela forma
Sartreana como segurava seu cigarro...
Trio
Hoje só um trio me saciaria
Fosse de jazz
De blues
De tango
De sexo
De rancho
Três peles,
Três texturas
Três pontas soltas
Macia e úmida
Outra dura
De cabeça
Alma sensível
O Poeta
O Poeta, muito do filha da puta
É o dedo , a língua , o pau , a xoxota,
É xote , baião , viração , e putaria,
Swing, bacanal e festa,
Botão que se abre,
Porta trancada e fresta
Satã
Essa madame não dorme?
Embalada para presente
Esperando que soltem os laços
Para atirar os sapatos vermelhos de saltos
Esparramaço no asfalto molhado
Gilete e capoeira
Olhos boiando no ácido
Ah Satã!
Esse satã é de satã mesmo?
Ou personagem de Pessoa transido
Rabatizado por Aleister
Em um dos seus seis mil nomes...
Esse satã é de verdade...
Mata, rasga e come
E a madame é o álibi
Sempre à mão quando cai a casa
Fome que não passa
Fome de boca
Da sua boca
Sede de saliva
Busca pela língua
Caravana louca
Que atravessa
Essa noite veloz
E nem os cães ladram
Apenas nossos sussurros
Ais sem dor
Uivos de apuros
Roupas colorindo o tapete da sala
Sonhos simétricos
Beijo que cala
Ciranda
Dança gemida, espremida
Atiçada... a chama... e extremidades
A cidade pela janela, tudo à meia luz
E esse olhar indecente entre os cabelos
Despenteados, rebuliços
Olhos que devoram...
Unhas afiadas, enguiço
Sem escapatória,
Oratória feito mantra...
Palavrões vão sendo ditos
Temporal e ventania
Ali a bruxa e seu feitiço
O sorriso entre os dentes cerrados
Medo? De fluir tal pecado...?
Pobre de ti Maçã do Amor sem açúcar
Doce ou Travessura?
Eu quero os dois, nessa noite escura
Ela no meio da multidão
Só mais uma nesse mutirão de arrepios
Seu ar sombrio, mãos de assombração
Drogas endovenosas e outros desvios
É tudo luz no viaduto do chá
E sombras no Anhangabaú
Um abuso padrão por sobre a lã da menina
Sirenes, gritos e xabú
Ela se perdeu entre um drink e outro
Nesse inferno sépia sem mal
Tom sobre tom e um dedo enfiado
Amanhece lépida no ponto final
Um poeta.Virginiano, nascido em ano de Copa, e melhor em ano de Tricampeonato. Chegou aos 46 acelerando e faz planos para outros 50 sem se importar se serão realizados, os anos é claro, pois os planos são como lenha para alimentar essa grande fogueira, e sempre darão certo.
Insone inveterado, viciado em café e amante de quartas-feiras; não precisava dizer, acha que está na bula, explicito.