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7 POEMAS DE MARCELO MORO

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Quando a vi, numa tarde cinza
Era um quadro expressionista 
Não existia para mim nesse mundo
Nem em outro 
Tamanha beleza pessimista 
Daquele ar triste surgiu um sorriso pleno
Se fez o verde ao redor 
As flores das quaresmeiras 
E os profundos verdes-mares 
Daqueles olhos 
Vitrais por onde se espia 
(ou ao menos se imagina) 
Como seria poder...tocar 
E eu me apaixonei pela forma 
Sartreana como segurava seu cigarro...



Trio

Hoje só um trio me saciaria 

Fosse de jazz
De blues 
De tango 
De sexo 
De rancho

Três peles, 
Três texturas 
Três pontas soltas 

Macia e úmida 
Outra dura
De cabeça 

Alma sensível


O Poeta 

O Poeta, muito do filha da puta
É o dedo , a língua , o pau , a xoxota,
É xote , baião , viração , e putaria,
Swing, bacanal e festa,
Botão que se abre,
Porta trancada e fresta



Satã

Essa madame não dorme?
Embalada para presente 
Esperando que soltem os laços 
Para atirar os sapatos vermelhos de saltos
Esparramaço no asfalto molhado 
Gilete e capoeira 
Olhos boiando no ácido
Ah Satã!
Esse satã é de satã mesmo?
Ou personagem de Pessoa transido
Rabatizado por Aleister 
Em um dos seus seis mil nomes...
Esse satã é de verdade...
Mata, rasga e come 
E a madame é o álibi 
Sempre à mão quando cai a casa 



Fome que não passa
Fome de boca
Da sua boca

Sede de saliva
Busca pela língua 
Caravana louca 

Que atravessa
Essa noite veloz 
E nem os cães ladram 

Apenas nossos sussurros
Ais sem dor 
Uivos de apuros 

Roupas colorindo o tapete da sala
Sonhos simétricos 
Beijo que cala 


Ciranda 

Dança gemida, espremida
Atiçada... a chama... e extremidades
A cidade pela janela, tudo à meia luz
E esse olhar indecente entre os cabelos
Despenteados, rebuliços 
Olhos que devoram...
Unhas afiadas, enguiço
Sem escapatória, 
Oratória feito mantra...
Palavrões vão sendo ditos
Temporal e ventania
Ali a bruxa e seu feitiço 
O sorriso entre os dentes cerrados
Medo? De fluir tal pecado...?
Pobre de ti Maçã do Amor sem açúcar
Doce ou Travessura?
Eu quero os dois, nessa noite escura 



Ela no meio da multidão 
Só mais uma nesse mutirão de arrepios
Seu ar sombrio, mãos de assombração 
Drogas endovenosas e outros desvios 
É tudo luz no viaduto do chá
E sombras no Anhangabaú
Um abuso padrão por sobre a lã da menina
Sirenes, gritos e xabú
Ela se perdeu entre um drink e outro
Nesse inferno sépia sem mal 
Tom sobre tom e um dedo enfiado
Amanhece lépida no ponto final 




Um poeta.Virginiano, nascido em ano de Copa, e melhor em ano de Tricampeonato. Chegou aos 46 acelerando e faz planos para outros 50 sem se importar se serão realizados, os anos é claro, pois os planos são como lenha para alimentar essa grande fogueira, e sempre darão certo.
Insone inveterado, viciado em café e amante de quartas-feiras; não precisava dizer, acha que está na bula, explicito.




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