Minimalista, tão enxuto ,
esparge, chora ,
range e confrange
de ateus convictos,
E assim semeia,
o paradoxo de ser tão grande
ESTRABISMO
mede nele o intervalo
que vai de um olho a outro.
Mede nesse intervalo
o eixo torto que faz
do esquerdo, o direito.
Vê como esse esquerdo
reconhece sem medo
o que em Narciso é feio.
Repara no direito,
véu de leite tão velho,
a lágrima em coalho.
Faz do suco da lágrima
a beleza que turva,
ledo, o engano da água.
Esquece então que és caolho:
faz do intervalo um elo,
da água turva, um espelho.
ESPERA
Do escuro
que surge
ao som
que se
faz surdo;
do espelho
que some
à voz
que não
se ouve,
o que aprouve
dissipa-se:
houve, já
não há.
Do que
ficou,
resta à
mesa, a-
lém da
vela a-
cesa, o
mantil de
veludo
e o luto
de Deus:
Deus (vejo)
de ateus,
que se
fez mudo.
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Júlio Machado (Júlio Cesar Machado de Paula) nasceu em 1975, em Pouso Alegre, sul de Minas, e já morou em vários lugares, de Paris a Benjamin Constant, no interior do Amazonas. Reside atualmente em Niterói e é professor de Literaturas Africanas na Universidade Federal Fluminense. Em poesia, recebeu, dentre outros, os prêmios Xerox/Livro Aberto, pelo livro O itinerário dos óleos, e Nascente (USP/Editora Abril), pelo livro Mimnas. Como dramaturgo, escreveu A profecia, encenada pelo Grupo Pândega, e Luzia, encenada pelo Teatro do Brejo Bento.Os poemas aqui apresentados fazem parte do livro O quintal e o mundo, a ser publicado em breve pela editora Kazuá (SP).