MULHER AMARGA-VIDA
Esse olhar suspeito
em meus peitos
― maravilhas americanas ―
sob listras nacionalistas
se confunde
enquanto, alucinada, rodopio
e visto minha tiara
não sou sexo, não sou foda
sou a sádica do chicote
por fora dourada
e dentro
uma TPM do cacete.
Parque das Hortênsias
11 de abril de 2015
Bata-me, de hobby
A mão que bate
é a mesma que acaricia.
O que bate
geme
nos becos de Gothan
E se de Drácula
veio a capa
e do morcego,
a asa,
dos bailes
veio o fetiche
― a máscara
Sou o alterego
do esteta
no jogo do dá e bota
ou a dupla face do homem
que nega
mas se enrosca?
Bata-me, mas de hobby
pois se na vida se engole
a farsa,
o Coringa e o Charada,
no intimo da caverna
se goza.
Vitória, 13 de abril de 2015
*
Tome ferro!
Homem de lata
Capitalismo selvagem!
Nas pilhas de sucata
me reinvento
e se brilha a lata
é por ser ferreiro
aquele que arremata
os restos com engenho
homem ― primata mecanizado
sustentando o peso
da armadura dourada
“ pobre Tony
― homem de lata ―
cobaia da Marvel Comics
O vírus Extremis
é um câncer que se alastra
e corrompe
heróis e inocentes.”
Vitória, 23 de abril de 2015
*
Thormento
Além do arco-íris deve ter
Um lugar tranquilo pois não aguento mais
Sou ou não sou
um deus
filho da linhagem nórdica?
Serei filho de Zeus,
ou um lorde escandinavo?
Não há fonte que jorre
não há pote
sob a ponte de arco-íris
que me prove
ser Odin meu pai.
Um highlander,
ou de Jupiter enteado?
Raios e trovões
me digam:
sou um filho bastardo,
um semi-deus?
Místico martelo
remove este tomento
me absolve
da culpa da imortalidade.
Vitória, 23 de abril de 2015
*
Uga-bugaHulk
Quem vê cara feia
Não vê paixão
Doce bipolar,
vivo de extremos
Repele, eu sei,
minha roupa rasgada,
essa quase fala
― Mr. Hyde
verde de raiva
É que o amargo
persiste na boca
― vira memória ―
e marca
o primeiro momento.
Radioativo, eu sei
raios Gama dos infernos!
Mas aconchego
é unguento
e me escorre o sangue
lavando o ódio
Esvaindo a força
― sóbrio ―
desfaz-se o medo
deste humanoide
E me aquieto
para o beijo.
Vitória, 25 de abril de 2015
*
Pou! Pá!
Poupai o milho do campo
Marinheiro, marinheiro
vou te fazer um convite
abra o olho bem ligeiro
antes que a Olivia grite
Apeia do barco agora
toma lá meu fumdirolo
pois quem nasce em Pirapora
não gosta de fura olho
A mardita da magrinha
se achegou espevitada
vinha batendo as cambita
cum medu de ser currada
Um tal macaco barbado
brucutu, da boca podre
correndo, carça arriada
mode deflorar a moça
Pipoquei na bunda dele
um cartucho de sal grosso
dei-lhe logo uma peia
que se foi num alvoroço
Sei que gosta de espinafre
mais, cá nois só tem taioba
puxa o banquinho cumpadre
queta o facho, não se afoba
Agora, a moça donzela
voz de taquara rachada
cambito fino, já era
cá já ficou paixonada
queta lá, homi de Deus!
para de soprar seu pito
ninguém toca o que é meu
nem me convence no grito
Se ela grita, tu tá morto
Que quela voz me azucrina
Se arrede, caça seu povo
Bem pra distante de Minas
E não tenha a pachorra
de ciscar no meu quintal
rasga no trecho, se mova
mas me poupe o milharal
Chegue cá, minha cabrita
despede a última vez
do moço já de partida
pras bandas do povo ingrêis
Vitória, 24 de abril de 2015
*
Robin, ui!
Tudo vale a pena
Se a flecha não é pequena
Pelo bosque afora
nesta festa que é Sherwood
enfio onde bem quero
minha espada assassina
e como sou muito culto
― já passei pela Itália
de volta lá das Cruzadas
pras bandas do Oriente ―
aprendi que em latim
a bainha que carrego
tem o nome de vagina
e é nisso que me apego
Justiceiro, desterrado
macho fornido de carne
flecha no prumo, mirada
deixo de sobra os frangalhos
Só dá donzela rica
ostentando ouro roubado
ou concubina de um nobre
das bandas de Yorkshire
Passando por estas paragens
em busca eu sei do que
roubo e deixo saudade
sumo depois do prazer
Repasso do rico ao pobre
o que pra sua fome importa
de regalo sobra uns cobres
e os prazeres na moita
De arco, de alvo, entendo
esguio, não me embaraço
se poca, faço um remendo
devolvo, a sobra
– bagaço.
Vitória, 26 de abril de 2015
*
Kapitän
Who does not cry ,
do not chew gum
Suas tica
seu sonho de Terceiro Reich
tombou aniquilado
derrubei com um strike
sua volta ao passado.
Depois me reinventaram
saindo de uma geleira
que o sonho americano
é gato
de sete vidas
é como meu escudo
io-io que vem e vai.
Vitória, 26 de abril de 2015
*
Capitão Mar-velho
Ei, Shazam,
herói de revista em quadrinhos
Ei, Shazam,
Fique esperto que você vai dançar
Seria justiça decidir como Salomão?
Herdar de Hércules a suprema força?
Arrancar de Atlas o peso do Universo?
Zangar com os homens ao modo de Zeus?
Alcançar vitórias imitando Aquiles?
Manter uma fortuna sendo o Deus Mercúrio?
Justiça aos homens desesperadoS
Vencer os tiranos ouvindo a BacH
Suportar essa incoerência humanA
Extinguir com a guerra e ter a paZ
Ensinar ao tolo o peso da idolatriA
Distribuir a todos tudo que é boM
SHAZAMMMMMMMM .... Fuuuuiiiiiii
*
Tocha – cof cof...
O meu corpo arde por você
Em chamas
― descontrolado ―
uma tocha humana
Fosse o fogo desconhecido
poder admirado pelo macaco
da Odisseia no espaço
Fosse um monge
indignado
e a auto-imolação
buscando o Nirvana
Fosse o corpo
emprestado
do dublê roubando a cena
Fosse o ódio
irmanado na Inquisição
e o corpo queimado de uma santa
Fosse o magma
derramado
e um cientista fascinado
nas encostas de um Vulcão
Fosse a fogueira junina
e um casal enamorado
fazendo juras de amor
Fosse o terror
mitigado
da aldeia calcinada
a mando do Ditador
Fosse o sol, sob neblina
recostado
e o menino admirado
com a grandeza dos céus
Fosse tudo: sol, vulcão, fogueira
crispando, no ar, ardendo
mas não
Um Super-herói
de brincadeira
num gibi
queimando a mão.
Vitória, 27 de abril de 2015
*
Ziper-man
Um dia
Vivi a ilusão de que um zíper bastaria
Ah! Que saudade que tenho
da cabine telefônica
onde eu trocava “ na moita”
meu uniforme de guerra
me transformava ligeiro
no maior herói da Terra
singrava os ares sem medo
de hélices, drones, bactérias.
Como eram belos os dias
na pacata Smallville
onde cresci inocente
sem PCs, correndo livre
descobrindo pouco a pouco
a identidade secreta
que no inicio me pôs louco
depois, levado da breca
Os vilões daquele tempo
no período de pós-guerra
mesmo com um toque romântico
dissimulavam ― as feras
que tempos bons eram aqueles
superboy ― ah ! supermoça
Era do Ouro ― quadrinhos
Filas enormes à espera
Eu, Clark Kent engomado
herói pop ocidental
comecei minha carreira
sendo repórter em jornal
minha dupla identidade
segundo Freud ― alter ego
meio sem jeito, é verdade
com aquele traje, não nego
Quem disser que eu escorrego
numa casca de banana
devido ao meu uniforme
que mais parece um pijama
vestindo a sunga vermelha
por cima, qual uma dama
admito a controvérsia
visto até o capuz da fama
Mas hoje, tempos modernos
arrumei um artificio
mandei instalar um velcro
não deu certo, é mais dificil
faz um barulho danado
todos veem, vira comício
Voltei para velho zíper
Agarrou, o estrupício
Ah! Que saudade que tenho
da cabine telefônica (...)
* * *
Jorge Elias Neto (1964) é médico, pesquisador, cronista e poeta. Capixaba, reside em Vitória – ES. Livros: Verdes Versos (Flor&cultura ed. - 2007), Rascunhos do absurdo (Flor&cultura ed. - 2010), Os ossos da baleia (Prêmio SECULT - ES – 2013). Participação: Antologia poética Virtualismo (2005), Antologia literária cidade (L&A Editora – 2010), Antologia Cidade de Vitória (Academia Espírito-santense de letras – 2010,2011,2012,2013) e Antologia Encontro Pontual (Editora Scortecci – 2010). Colabora com poemas em vários blogs e na revista eletrônica Germina, Diversos-afinsm Mallarmargens e no Portal Literário Cronópios. Membro da Academia Espírito-santense de Letras onde ocupa a cadeira de número 2. Blog. Email.
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