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SOBRE SUPER-HERÓIS, 11 POEMAS DE JORGE ELIAS NETO

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MULHER AMARGA-VIDA

Esse olhar suspeito
em meus peitos
― maravilhas americanas ―
sob listras nacionalistas
se confunde
enquanto, alucinada, rodopio
e visto minha tiara
               
não sou sexo, não sou foda
sou a sádica do chicote

por fora dourada
e dentro
uma TPM do cacete.


Parque das Hortênsias
11 de abril de 2015




Bata-me, de hobby


                                      A mão que bate
                                     é a mesma que acaricia.

O que bate
geme
nos becos de Gothan

E se de Drácula
veio a capa
e do morcego,
a asa,
dos bailes
veio o fetiche
    ― a máscara

Sou o alterego
do esteta
no jogo do dá e bota
ou a dupla face do homem
que nega
mas se enrosca?

Bata-me, mas de hobby
pois se na vida se engole
a farsa,
o Coringa e o Charada,
no intimo da caverna
se goza.


Vitória, 13 de abril de 2015

* 

Tome ferro!


                                              Homem de lata
                                              Capitalismo selvagem!

Nas pilhas de sucata
me reinvento

e se brilha a lata
é por ser ferreiro
aquele que arremata
os restos com engenho

homem ― primata mecanizado
sustentando o peso
da armadura dourada

“ pobre Tony
― homem de lata ―
cobaia da Marvel Comics

O vírus Extremis
é um câncer que se alastra
e corrompe
heróis e inocentes.”


Vitória, 23 de abril de 2015

*
  
Thormento

                                                                  Além do arco-íris deve ter
                                                                  Um lugar tranquilo pois não aguento mais
Sou ou não sou
um deus
filho da linhagem nórdica?
Serei filho de Zeus,
ou um lorde escandinavo?

Não há fonte que jorre
não há pote
sob a ponte de arco-íris
que me prove
ser Odin meu pai.

Um highlander,
ou de Jupiter enteado?

Raios e trovões
me digam:
sou um filho bastardo,
um semi-deus?

Místico martelo
remove este tomento
me absolve
da culpa da imortalidade.

  
Vitória, 23 de abril de 2015

* 

Uga-bugaHulk


                                                              Quem vê cara feia
                                                              Não vê  paixão

Doce bipolar,
vivo de extremos

Repele, eu sei,
minha roupa rasgada,
essa quase fala
          ―  Mr. Hyde
verde de raiva

É que o amargo
persiste na boca
―  vira memória ―
e marca
o primeiro momento.

Radioativo, eu sei
raios Gama dos infernos!

Mas aconchego
é unguento
e me escorre o sangue
lavando o ódio

Esvaindo a força
― sóbrio ―
desfaz-se o medo
deste humanoide

E me aquieto
para o beijo.


Vitória, 25 de abril de 2015

* 

Pou! Pá!

                                                            Poupai o milho do campo
Marinheiro, marinheiro
vou te fazer um convite
abra o olho bem ligeiro
antes que a Olivia grite

Apeia do barco agora
toma lá meu fumdirolo
pois quem nasce em Pirapora
não gosta de fura olho

A mardita da magrinha
se achegou espevitada
vinha batendo as cambita
cum medu de ser currada

Um tal macaco barbado
brucutu, da boca podre
correndo, carça arriada
mode deflorar a moça

Pipoquei na bunda dele
um cartucho de sal grosso
dei-lhe logo uma peia
que se foi num alvoroço

Sei que gosta de espinafre
mais, cá nois só tem taioba
puxa o banquinho cumpadre
queta o facho, não se afoba

Agora, a moça donzela
voz de taquara rachada
cambito fino, já era
cá já ficou paixonada

queta lá, homi de Deus!
para de soprar seu pito
ninguém toca o que é meu
nem me convence no grito

Se ela grita, tu tá morto
Que quela voz me azucrina
Se arrede, caça seu povo
Bem pra distante de Minas

E não tenha a pachorra
de ciscar no meu quintal
rasga no trecho, se mova
mas me poupe o milharal

Chegue cá, minha cabrita
despede a última vez
do moço já de partida
 pras bandas do povo ingrêis


Vitória, 24 de abril de 2015

 *

Robin, ui!
                                                                         Tudo vale a pena
                                                                         Se a flecha não é pequena

Pelo bosque afora
nesta festa que é Sherwood
enfio onde bem quero
minha espada assassina

e como sou muito culto
― já passei pela Itália
                de volta lá das Cruzadas
pras bandas do Oriente ―

aprendi que em latim
a bainha que carrego
tem o nome de vagina
e é nisso que me apego

Justiceiro, desterrado
macho fornido de carne
flecha no prumo, mirada
deixo de sobra os frangalhos

Só dá donzela rica
ostentando ouro roubado
ou concubina de um nobre
das bandas de Yorkshire

Passando por estas paragens
em busca eu sei do que
roubo e deixo saudade
sumo depois do prazer

Repasso do rico ao pobre
o que pra sua fome importa
de regalo sobra uns cobres
e os prazeres na moita

De arco, de alvo, entendo
esguio, não me embaraço
se poca, faço um remendo
devolvo, a sobra
                           – bagaço.


Vitória, 26 de abril de 2015

 *
  
Kapitän

                                                         Who does not cry ,
                                                         do not chew gum

Suas  tica
seu sonho de Terceiro Reich
tombou aniquilado
derrubei com um strike
sua volta ao passado.

Depois me reinventaram
saindo de uma geleira
que o sonho americano
é gato
de sete vidas
é como meu escudo
io-io que vem e vai.


Vitória, 26 de abril de 2015

 *
  
Capitão Mar-velho

                                                               Ei, Shazam,
                                                               herói de revista em quadrinhos
                                                               Ei, Shazam,
                                                               Fique esperto que você vai dançar

Seria justiça decidir como Salomão?
Herdar de Hércules a suprema força?
Arrancar de Atlas o peso do Universo?
Zangar com os homens ao modo de Zeus?
Alcançar vitórias imitando Aquiles?
Manter uma fortuna sendo o Deus Mercúrio?

 Justiça aos homens  desesperadoS
Vencer os tiranos ouvindo a BacH
 Suportar essa incoerência humanA
Extinguir com a guerra e ter a paZ
Ensinar ao tolo o peso da idolatriA
Distribuir a todos  tudo que é boM


SHAZAMMMMMMMM .... Fuuuuiiiiiii

 *

Tocha – cof cof...
                                                            O meu corpo arde por você

Em chamas
― descontrolado ―
uma tocha humana

                                Fosse o fogo desconhecido
                                poder admirado pelo macaco
                                da Odisseia no espaço

                                Fosse um monge
                                indignado
                                e a auto-imolação
                                buscando o Nirvana

                                Fosse o corpo
                                emprestado
                                do dublê roubando a cena

                                Fosse o ódio
                                irmanado na Inquisição
                                e o corpo queimado de uma santa

                               Fosse o magma
                               derramado
                               e um cientista fascinado
                               nas encostas de um Vulcão

                               Fosse a fogueira junina
                               e um casal enamorado
                               fazendo juras de amor

                               Fosse o terror
                               mitigado
                               da aldeia calcinada
                               a mando do Ditador

                              Fosse o sol, sob neblina
                              recostado
                              e o menino admirado
                              com a grandeza dos céus

                              Fosse tudo: sol, vulcão, fogueira
                              crispando, no ar, ardendo
                              mas não


Um Super-herói
de brincadeira
num gibi
queimando a mão.


Vitória, 27 de abril de 2015

*

Ziper-man
                                                             Um dia
                                                             Vivi a ilusão de que um zíper bastaria

Ah! Que saudade que tenho
da cabine telefônica
onde eu trocava “ na moita”
meu uniforme de guerra
me transformava ligeiro
no maior herói da Terra
singrava os ares sem medo
de hélices, drones, bactérias.

Como eram belos os dias
na pacata Smallville
onde cresci inocente
sem PCs, correndo livre
descobrindo pouco a pouco
a identidade secreta
que no inicio me pôs louco
depois, levado da breca

Os vilões daquele tempo
no período de pós-guerra
mesmo com um toque romântico
dissimulavam ― as feras
que tempos bons eram aqueles
superboy ― ah ! supermoça
Era do Ouro ― quadrinhos
Filas enormes à espera

Eu, Clark Kent engomado
herói pop ocidental
comecei minha carreira
sendo repórter em jornal
minha dupla identidade
segundo Freud ― alter ego
meio sem jeito, é verdade
com aquele traje, não nego

Quem disser que eu escorrego
numa casca de banana
devido ao meu uniforme
que mais parece um pijama
vestindo a sunga vermelha
por cima, qual uma dama
admito a controvérsia
visto até o capuz da fama

Mas hoje, tempos modernos
arrumei um artificio
mandei instalar um velcro
não deu certo, é mais dificil
faz um barulho danado
todos veem, vira comício
Voltei para velho zíper
Agarrou, o estrupício

Ah! Que saudade que tenho
da cabine telefônica (...)




*    *    *


Alguns destes poemas integram
a Antologia Escriptonita!




*    *    *


ilustrações: Lorena Elias


*    *    *






Jorge Elias Neto (1964) é médico, pesquisador, cronista e poeta. Capixaba, reside em Vitória – ES. Livros: Verdes Versos (Flor&cultura ed. - 2007), Rascunhos do absurdo (Flor&cultura ed. - 2010), Os ossos da baleia (Prêmio SECULT - ES – 2013). Participação: Antologia poética Virtualismo (2005), Antologia literária cidade (L&A Editora – 2010), Antologia Cidade de Vitória (Academia Espírito-santense de letras – 2010,2011,2012,2013) e Antologia Encontro Pontual (Editora Scortecci – 2010). Colabora com poemas em vários blogs e na revista eletrônica Germina, Diversos-afinsm Mallarmargens e no Portal Literário Cronópios. Membro da Academia Espírito-santense de Letras onde ocupa a cadeira de número 2. BlogEmail.


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