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"corrosão de um livro que se evapora no lodo", poemas de Alexandra Vieira de Almeida

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poemas de Alexandra Vieira de Almeida


Caderno (cobre-corrosão), de Hilal Sami Hilal, 2011



Um homem


Um homem sustenta uma grande maçã na sua ideia. Não há abrigo para sua mocidade futura. A servidão se encolhe numa casa minúscula. O botão da camisa se direciona ao abismo. Estenda uma nota falsa sobre o umbigo. Um homem retorna de seu amor-próprio. Corrosão de um livro que se evapora no lodo. Descontínua chama sobre a abóbada se apaga. Escaravelho lateja em gotas de silêncio. A maçã toma sua ideia. A ideia morre de fome. Um homem come a maça de sua ideia.



história


Uma veste traz uma história. No seu interior, um caminho se espraia para o éden de uma dor. Uma flor de sua mão é seu único gesto. Breve aliança de um osso incolor. A caverna altera a cor do céu. A terra revela seu povo incréu. Labor de uma moça que sonha além da dor. Princípio de uma sombra projetada de um terno. Chão ameno que escurece seus pés. Não há distância da terra ao céu. Assim vou, não é erguido. Sentinelas no subúrbio. A escada é um parapeito de vielas na tangerina. Os olhos na água. Não sei o que é fácil. Na entrada, a áspera fidelidade. Não quero mais o óleo, carvão injetado por agulhas. No pescoço um sinal de um crucifixo. A vida não é isso.




da página "Will paint for paint and will" no FB


A irmandade das baratas em dia de Ano Novo


                                                                                        no céu

                                                           flamejantes
                           pirotecnias
Às


                     paredes                              de                           ao
As                                    cercadas                     baratas                 léu.


    o    m   g      v     m
F     r      i     a     a                 o entre-cortar
                               de paixões  
brancas e sorrisos
                               vazados
                                              de
                                                     champanhe



E súplicas que se

                                      
                lo          dos
em co             ri               alõe
                                        b   s


As baratas, sempre dadas ao Esconderijo

mostram nessa festa seu sorriso pegajoso

Irmãs, em sua forma                        e Oval   
                                     rebaixada     
                              
tendenciam nesta noite o seu TTTom natural.











Chuva malabarista



A chuva malabarista
quando cai de seus olhos
forma estrelas
que dançam ao som do infinito.
A chuva malabarista
não secará ao sol dos demônios
que trazem anúncios limitados
pelo som da escravidão.
A chuva malabarista
derrota os minutos de silêncio
que atormentam meu coração
esculpido por vazios.






Vacuidade


Encontro o nada
em cada ser em expansão
Com a sombra dos outros
construirei o clarão no meio da floresta
onde um ermitão vaga
sem lei nem rei
Em cada olhar encontro um segredo
que tece o refinamento da minha matéria putrefata
em espírito piramidal
O vazio do sol ilumina
orquestras musicais no meu cérebro
faminto por amanhecer na rocha
Impassível diante dos apegos do mundo
o caminhar é sereno e pleno de esperança
na tessitura dos mosaicos
que desenho suavemente em cada rosto que passa.






Saturno (cobre-corrosão), Hilal Sami Hilal, 2010


Soterra


Soterra, fere a terra
no entremeluzir das pedras, orgasmo oco
de pedra, de terra, de sal
Dádivas do céu
chuvas salinas das preces
a molhar as páginas da vida
Vento amotinado de algas
amarras de lenços nos braços
o choro incandescente das trevas
Sol enfraquecido pela chuva
se aquece no seu rosto
Cascos de vida
lança que se parte no astro
Soterra a fera, na selva
monstros faiscando luzes gigantes
Na cor dos lábios
uma prisão de infectos insetos
Azul que corta, na face
o verbo que tremeluz
no papel da terra
Soterra imagens na fímbria
das páginas brancas
Terra que esconde pequeninos seres
Na haste da planta a gana da semente
a esmiuçar gestos do sol
Soterra, em treva
as letras do atrevimento
Littera desperta
pelos escombros da terra
Soterra.



da página "Will paint for paint and will" no FB



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Alexandra Vieira de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1976. Tem Mestrado em Literatura Brasileira e Doutorado em Literatura Comparada (UERJ). É agente de leitura e tutora de ensino superior. Já orientou uma monografia de final de curso de graduação. É poeta, contista, cronista, ensaísta e crítica literária. Tem vários ensaios acadêmicos publicados em revistas especializadas. Publicou o livro Literatura, mito e identidade nacional da Ômega editora (2008). É coautora do livro À roda de Machado de Assis: ficção, crônica e crítica da editora Argos (2006). Organizou juntamente com Ulysses Maciel o livro de ensaios literários Inventário de literariedades e outras vertigens da editora Imprinta (2008). Publicou também sua obra literária em várias revistas pelo Brasil. Tem dois livros de poesia publicados pela editora Multifoco: 40 poemas e Painel (2011). Participou de duas antologias de poesia, uma da editora Scortecci e outra, da editora Ibis Libris.

E-mail para contato: alealmeida76@gmail.com
Blog: www.malabarismospoeticos.blogspot.com

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