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O nome da tua pele - VIII (por paulo guicheney)

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Parece que o mar, todo em álcool e Valium, vem me engolir. Uma carnificina para não me tornar o que já sou, meu pai.

Tempo é sangue.

Eu vou adoecer, provavelmente vou morrer. Mas não vamos mais nos ver, Alice. Cansei de talhar existência de monstro. O Calígula que te estupra e canta, teus seios estão mortos. O Mengele que abomina as tuas cicatrizes. O Pol Pot que te exilou da dança. O Knochenmann que te seduziu porque removeu tua maquiagem no quarto de hotel longe de Cholen. (Ou um tubarão tigre que engole uma vaca no meio do Oceano. Um açougueiro de facas cegas.)

O problema é que não existe entre nós a Morte e a Donzela, Alice. Existe a Morte e a Morte.


Preciso de um metrônomo. Um metrônomo que dite o andamento de minha angústia.
Talvez assim.


Não me esqueço do seu amor por pizzicati. Não me esqueço de tantas coisas. As canetas coloridas que compramos em Medellin, a planta que teima em sobreviver na minha varanda – a plantinha que você me deu. Se eu pudesse, esqueceria tudo. Queimaria tudo. Abandonaria o corpo teu que.


Abraça os meu olhos.




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