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Dica do Editor 3: livros raríssimos. 2 resenhas de Vanderley Mendonça

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André Martins de Barros

Raríssimo VII

 

Livro: Exercícios de Estilo, 1995
Autor: Raymond Queneau
Traducão: Luiz Resende
Editora: Imago
190 págs.

 


"Exercices de style"é uma obra rara de um dos mais criativos remanescentes do surrealismo e amigo de copo de Sartre e Prévert, nas andanças da Saint-German-des-Prés existencialista, mais conhecido pela sua obra que foi levada ao cinema "Zazie dans le métro".
Os "Execícios de estilo" são uma aula de escrita criativa, pois é escrevendo que se torna escrevedor, como diz o tradutor, mediador deste jogo de linguagem sem igual na língua francesa. Queneau parte da ideia bachiana de fuga para criar uma variação interminável de estilos literários em torno de um tema simples e monótono: a discussão entre dois passageiros num ônibus. Ele escreve e reescreve a história de 99 maneiras diferentes, utilizando quase todas as formas literárias narrativas e extraindo do cotidiano a poética da fala. O mais interessante é que depois da morte de Queneau muita gente continuou reescrevendo sua história. São hilariantes as versões: Palavra-valise, Profecia, Textículo de orelha, Pós-Alexandrinos, Filosófico, Povão, Helenismos, entre outros. Há inclusive uma versão Lacaniana. No começo dos anos 90, o diretor de teatro Cacá Rosset, montou a peça "Você vai ver o que você vai ver", versão teatral dos Exercícios de Estilo, de Queneau. No elenco, além do "Pai Ubu brasileiro", estavam Rosi Campos e o genial Gerson de Abreu, que ampliou mais ainda esta obra, tornando o personagem pescoçudo da história no Ébrio, de Vicente Celestino. Uma história que nunca acaba, se reescreve na História. Ler e reler...



Raríssimo VIII

Livro: Se um cão vadio aos pés de uma mulher-abismo, 2004
Autor: Xico Sá
Editora: Fina Flor
150 págs.






O livro começa na capa. A mulher-abismo, de alma desenhada, a quem o autor cearense se ajoelha para devotar seu AMOR FODIDO, é uma narrativa-TAZ, como ele a batizou. Escrita a uma quinzena do ponto final deste maravilhoso canto que atrai o amador ao abismo do que é amar com ardor, com a dor do desejo, amador, o que ama o corpo, não o fingidor, aquele que quer ir além da alma. "Se um cão vadio aos pés de uma mulher-abismo"é um hino ao amor que ri e chora: "Dizer não chores funciona sempre, porque só mencionar o verbo CHORAR emociona-as e liberta-as, dando-lhes carta branca para chorar ainda mais". Xico sabe, como poucos, que o amor dói entre uma dor e outra. 
Este livro não se encontra por aí, facilmente. A edição é linda: fina flor, não só para ler.


VANDERLEY MENDONÇA é poeta, tradutor e editor dos Selos Demônio Negro e Edith. Traduziu, entre outros livros, Poesia Vista, antologia bilíngue do poeta catalão Joan Brossa (Ateliê, 2005), Crimes Exemplares, de Max Aub (Amauta, 2003), Nunca aos Domingos, de Francisco Hinojosa (Amauta, 2005) e Greguerías, de Ramón Gómez de La Serna (Selo Demônio Negro, 2010). É autor do livro ILUMINURAS, Ed. Patuá. 2013.



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