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6 poemas de Antônio LaCarne

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Eu ainda quero ver

amor, eu ainda quero ver
aquela sensação dos filmes
e não morder o pescoço do escuro
ou a viagem ao planeta
aí do outro lado
deitado na cama
quando me livro e julgo você
fora de rota in extremis
no pecado.



Os homens malditos

sobre todas as coisas os homens me puseram sem rosto,
inclusive as mulheres, elas que se repetem antigas,
sem muito esforço,
mas o meu sorriso envenenado trouxe você num mar distante,
as pérolas no fundo do oceano,
meu corpo no fundo do oceano,
as palavras que nem cruzam paredes,
ou se alguém quiser, posso tudo ao meu próprio alcance,
e se a noite é sempre longa
danço veloz de olhos fechados para sempre.
já não envelheço como de costume,
o telefone é inimigo,
morro de vontade só por ver e me tranco no quarto,
nenhum filme representa,
você também não é verdade,
calmaria só corresponde aos comprimidos entre os dedos,
símbolo de longa duração que não se rasga.



Perto demais

só você escolheu percorrer o srilanka
deixar meus pés sujos de lama
onde nenhum homem
esta noite
soube cobrir meus olhos
dançar ao redor do mundo
cuspir no espelho
medir os botões que cobrem o corpo
e rever algumas vezes
por onde andei ou se fui outra.




PISCINA DE FOGO

Tudo o que o amor promete
se transforma numa gozada plástica;
Tudo o que o amor promete
me liberta da depilação às quartas-feiras;
Tudo o que o amor promete
é o coração do mundo numa piscina de fogo.



#1

manifestos estruturam meu coração.
sonho acordado e faço planos.
a realidade não deveria ter me subestimado tanto.
queria muito um pedaço de você.
enlouqueci a noite inteira.
contei todas as moedas.
cheguei antes da hora marcada.
me escondi atrás da porta.
inventei um passo em falso.
quis ser expert no feeling.
não plantei bananeiras.
eu não estou aqui.
você é uma fera perdida.
temos um encontro esta noite e eu preciso dançar.



uglyboyfriend

longos anos de amor desesperado
um buraco em meio caminho
você vestindo flores
sofrendo nas fotografias
aquela escolha que não deu certo
o céu tão azul
nosso bronze na piscina
quando tudo estava ao contrário
não quero saber o teu nome
não tenho paciência
e se você insistir eu não danço
sou o baralho da noite
uma ilha sem nativos
coração de pérola nas mãos

andyourboyfriendisugly.



Ilustrações: Elif Sanem Karacoc



Antônio LaCarne é autor dos livros Elefante-Rei: Poemas B (2009, CBJE) e Salão Chinês (2014, Patuá). Assina o blog pessoal O Impenetrável (oimpenetravel.tumblr.com)

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