André Caramuru Aubert lança seu sexto livro, o segundo de poemas. As cores refletidas nas lentes dos seus óculos escurosé em boa parte uma conversa com memórias dos anos 80, os de formação do autor, em poemas de denso lirismo, com referências a poemas atuais (especialmente norte-americanos, sua grande e assumida influência) e antigos (principalmente chineses, dos quais gosta cada vez mais). O prefácio é assinado pelo premiado poeta Ruy Espinheira Filho.
Sobre seu primeiro livro de poemas, outubro/dezembro, Ronaldo Cagiano escreveu que ali estava “um autor à moda antiga, naquilo que a tradição tem de melhor e no que ela tem efetivamente de sintonia com a modernidade e as vanguardas.” E Carlos Machado afirmou: “Não é à toa que, no prefácio de outubro/dezembro, o poeta Alberto Bresciani associa a poesia de André Caramuru Aubert à do americano William Carlos Williams, um dos pioneiros dessa poesia despojada, reduzida ao osso.”
O livro é editado pela Patuá, casa que abriga boa parte da nova poesia brasileira.
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10. de como eu serei lembrado
depois de “How you will know me”, de Franz Wright
no sétimo dia do mês de maio, do
meu quinquagésimo quarto ano de vida,
em meio à bruma da manhã, eu tive uma
visão. garanto a você que foi forte e marcante,
mas não consigo descrevê-la. não posso. eis o que farei:
acenderei uma vela — mesmo não sendo religioso —
para meu pai e para alguns outros parentes
e amigos que já se foram, e rezarei.
ah, as estradas sinuosas, aquelas noites, a
brasília branca, apagar os faróis para viajar
sob a luz da lua, bob marley cantando
no toca-fitas, johnnie walker (rótulo vermelho) no
gargalo, passado de mão em mão.
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