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Ilustração: Sarolta Bán |

quando chega a madrugada
a calma se esvai pelas horas
horas crescem no escuro
pálpebras em sofreguidão
fecham-se
horas crescem no escuro
pálpebras em sofreguidão
fecham-se
abrem-se
o cansaço dos músculos
sua recusa ao repouso
demônios acordam
assombram o silêncio
vem o instinto aflorado
de erguer e soerguer a fé
a oração dita
e redita como mantra
o abrir a janela
o desejo de olhar para o céu
a busca de respostas nas estrelas
a busca de respostas nas estrelas
a lua à espreita
insone
insone
!
o desejo do sonho se contorce na insônia
o desejo do sonho se contorce na insônia
como dormir
se a noite é sempre encharcada de dúvidas
?
***
na fumaça dos cigarros
há uma música triste
tons de cinza
e um aroma de nicotina
na conversa ao gozo do álcool
há um quê de esquecimento
há uma música triste
tons de cinza
e um aroma de nicotina
na conversa ao gozo do álcool
há um quê de esquecimento
no mofo de cada palavra cuspida no chão
há o peso da voz
línguas afogadas em impropérios
gestos trôpegos
e um salmo de risos cínicos e frouxos
riem
há o peso da voz
línguas afogadas em impropérios
gestos trôpegos
e um salmo de risos cínicos e frouxos
riem
!
como se sorrir fosse enganar a morte
na mesa úmida de histórias
um pratos de pecado
copos de ilusão
doses diárias de anestésicos
o ranger de cadeiras sangra um chão de cinzas
como se sorrir fosse enganar a morte
na mesa úmida de histórias
um pratos de pecado
copos de ilusão
doses diárias de anestésicos
o ranger de cadeiras sangra um chão de cinzas
e de palavras
um colóquio de olhares sela a cumplicidade
de uma fraternidade embriagada
um colóquio de olhares sela a cumplicidade
de uma fraternidade embriagada
sentada à mesa
para negar a realidade
e vomitar sobre a lucidez
há vermelho e calor
é o escárnio da dor travestida de alegria
subvertendo e resvalando na madrugada dos homens
é a madrugada dos homens
e o soturno de sua solidão.
e vomitar sobre a lucidez
há vermelho e calor
é o escárnio da dor travestida de alegria
subvertendo e resvalando na madrugada dos homens
é a madrugada dos homens
e o soturno de sua solidão.
Wanda Monteiro, escritora e poeta é uma amazônida, nascida às margens do Rio Amazonas no coração da Amazônia, em Alenquer no Estado do Pará, Brasil, reside há mais de 25 anos no Estado do Rio de Janeiro mas só sente-se em casa quando pisa no leito de seu rio. Publicou dezenas de seus textos poéticos na Antologia Poesia do Brasil do Proyecto Sur Brazil, participando dos volumes IX, XI, XIII, XV. lançados no Congresso Brasileiro de Poesia no Rio Grande do Sul. Obras publicadas: O Beijo da Chuva, Editora Amazônia, 2009, Poesia; Anverso, Editora Amazônia, 2011, Poesia; Duas Mulheres Entardecendo, Editora Tempo, 2011, Romance escrito em parceria com a escritora Maria Helena Latini. Aquatempo – Sementes líricas, Editora Literacidade, 2016, Poesia.