![]() |
Imagem Jerry Uelsmann |
FLOWER POWER
Argamassas de improbabilidades
são acordadas do sono da imaginação.
Atração pelas alturas: ascensão no escuro.
O barco levita com as vísceras ao indigesto.
O céu, uma escada de Jacó:
com a minha ignorância,
subo e no esclarecimento, desço.
Surrar o real: o suspiro da mais
genuína indignação.
Desvelar o sol – beber o insólito.
Sonhadores são filhos da liberdade.
O sonho é o entusiasmo do absurdo.
Lógica do irreal: o imaginário
verbaliza a tessitura que veste a vida.
A esperança é a beleza dos fatos.
Um corpo sem vida onírica
jamais acordará. O futuro é uma
chave na senda da eternidade.
SÍSIFO
Carbonizo a fria
flor dos anos
que se nulificam
sem os pássaros
de Minerva.
Em osso e oficio
meu cálice deforma.
Liberdade comprada
a custo de cicuta.
Transe de beleza e Bob Dylan
existe uma náusea
de mosca na boca.
Quando chega o fim da
esfinge que me devasta
a existência é dormitório:
escapar de seu enigma
é lançar na lixeira
o ocaso que me explica.
Nessa noite quero provar
um maná do ermo.
TEMERIDADES
A leptospirose
floresce
no húmus
da primavera
sacrificada:
o absinto das elites
o aleijamento
das massas.
Chikungunyaem câmaras de gás
sem senha para paraísos fiscais.
Verde déficit, amarelo pálido.
Temer o golpe de um punhal
contaminado pelo óxido
ocre das empreiteiras.
NOITES ENSOLARADAS
Do poema, romperam-se as romãs.
No coro dos granizos,
fugiram as sibilas.
Íamos habitar a abóbada celeste,
mas a nave não atravessou
a noite do Hades.
Nossa odisseia era para ser maior
que o mar de Homero.

Tito Leite, nasceu em Aurora, Ceará, 1980. Faz parte da comunidade monástica do Mosteiro São Bento de Olinda/PE. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2010), atuou como professor da disciplina. Têm outras coletâneas publicadas nas revistas Mallarmargens, Germina e na portuguesa Triplov.