![]() |
Imagem; Pedro Luis Raota |
NUBE CUATRO
LA NUBE DEL ÁCRATA
Falso ropaje del aire,
tan primorosamente ajado,
que corrobora, claro, cierta desnudez
de reyes, de mercachifles, de Papas,
de enamorados, de patrones y de príncipes,
mientras marchan, alegremente,
barranca abajo en su caída.
Detrás no hay nada.
(De Las nubes,
Ed. Descierto, Argentina, 2015)
NUVEM QUATRO
A NUVEM DO ÁCRATA
Falsa roupagem do ar,
tão primorosamente desgastada,
que corrobora, claro, certa nudez
de reis, de mercadores, de Papas,
de namorados, de patrões e de príncipes,
enquanto marcham, alegremente,
ribanceira abaixo em sua queda.
Atrás não há nada.
***
NUBE TREINTA Y NUEVE
Apologéticas, dos nubes solitarias,
delicadas, no desatan toda la tormenta.
Intraducibles, quizá, zumbonas,
como un vaso proletario de asaí.
Dos besos suyos, amor mío, tampoco
son todo todo el paraíso.
(De Argumentos para disuadir a una jauría y otros usos civiles,
Ed.Descierto, Argentina, 2013)
NUVEM TRINTA E NOVE
Apologéticas, duas nuvens solitárias,
delicadas, não deságuam toda a tormenta.
Intraduzíveis, quiçá zombeteiras,
Dois beijos seus, meu amor, tampouco
são todo todo o paraíso.
***
Último argumento de cualquier
Eurípides para disuadir a una jauría
“Padre del manso alivio, acude leve.”
Antón Arrufat
Si acaso supieran, ustedes,
nobles asesinos,
que siempre luché a favor de la razón,
la belleza y la piedad.
Si apenas pudieran vislumbrar el sentido
de la palabra justicia.
Quizá.
¿Qué gobierna vuestro juicio?
¿La venganza? ¿La ira?
¿Una cantidad exacta de monedas fenicias?
¿Alguna violenta sinrazón?
¿El hambre, apenas?
Si no tuvieran tanta sed de sangre,
en este caso,
la de un pobre y resignado literato...
Como a cualquier insensible asesino de Nubia
esos ardores les ciegan el entendimiento,
si es que a él tienen acceso, ustedes,
de algún modo.
Pero yo no les niego mi carne
por cobardía... No.
No puedan malinterpretarme.
¿Quién, cinco segundos antes de morir,
no aguarda al deus ex machina,
que lo salve de atravesar estos abismos?
Sólo necesito algo de tiempo,
un poco de tiempo. Sin duda.
Unos instantes más,
al menos, ahora.
¿Quién no los necesita?
No es clemencia
lo que solicito a vuestra avidez,
nobles asesinos.
Horrores más grandes que estos
me esperan, intuyo,
en la quietud de la eternidad.
Porque únicamente los justos,
ya muertos,
son los que duermen felices
estos olvidos.
Dulces dentelladas.
Temibles tarascones.
Oh, sangre mía.
Oh, bárbaros.
(De Argumentos para disuadir a una jauría y otros usos civiles,
Ed.Descierto, Argentina, 2013)
Último argumento de qualquer
Eurípedes para dissuadir uma matilha
“Pai do manso alívio, acode leve.”
Antón Arrufat
Se acaso soubessem vocês,
nobres assassinos,
que sempre lutei a favor da razão,
da beleza e da piedade.
Se ao menos pudessem vislumbrar o sentido
da palavra justiça.
Quiçá.
Quem governa o vosso juízo?
A vingança? A ira?
Uma quantidade exata de moedas fenícias?
Alguma violenta desrazão?
A fome, apenas?
Se não tivessem tanta sede de sangue,
neste caso,
o de um pobre e resignado literato...
Como a qualquer insensível assassino de Núbia
esses ardores lhe cegam o entendimento,
se é que têm acesso a ele, vocês,
de algum modo.
Mas eu não lhes nego minha carne
por covardia... Não.
Não me entendam mal.
Quem, cinco segundos antes de morrer,
não aguarda o deus ex machina
que o salve de atravessar esses abismos?
Só necessito de algum tempo
de um pouco de tempo. Sem dúvida.
Uns instantes mais,
ao menos, agora.
Quem não necessita?
Não é clemência
o que solicito a vossa avidez,
nobres assassinos.
Horrores maiores que estes
me esperam, intuo,
na quietude da eternidade.
Porque unicamente os justos,
já mortos,
são os que dormem felizes,
estes esquecidos.
Doces dentadas.
Temíveis mordidas.
Oh, sangue meu.
Oh, bárbaros.
![]() |
Ilustração: Pedro Luis Raota |
Canta un cisne de Valdivia
“Y esa cabeza que se dobla para escuchar
un murmullo en la Eternidad...”
Vicente Huidobro
Soy el último.
¿Qué otro privilegio
es más tonto
que éste?
Todos los míos han muerto
de hambre,
o no se qué,
en el frío espejo
de este río contaminado.
No puedo sostener
mi cabeza
fuera del agua.
Sólo la aurora
nos extrañará
de algún modo.
Canta um cisne de Valdivia.
“E essa cabeça que se dobra para escutar
um murmúrio na eternidade.”
Vicente Huidobro
Sou o último.
Que outro privilégio
é mais tolo
do que este?
Todos os meus estão mortos
de fome,
ou não sei o que,
no frio espelho
deste rio contaminado.
Não posso sustentar
minha cabeça
fora da água.
Só a aurora
sentirá a nossa falta
de algum modo.
***
El muro, pobrecito, uno
«Oh, el pájaro de tu corazón,
niña, en el país extraño.»
Juan L. Ortiz
Muros de las casas pobres sin sauces llorones, sin pan y sin
trabajo. Vacíos. Nulos. Puro temblor. Meros presentimientos
al carecer de casi todo. Hasta de los cartílagos y de la carne.
Hasta del tuétano. Hasta del vendaje para embalsamarnos.
Estacadas vencidas. «Graffitis» sin terminar. Signos mudos.
Negror. «Spleen». Tanta ausencia en cada uno de sus átomos.
En su «mol» proletario. Fríos como cuchillos «sicarios»
olvidados desde ayer en el peor abandono. Fríos como sobres
amarillentos de cartas de amor jamás escritos, amor mío,
jamás leídos, con pasión, jamás olvidados con pena y con dolor,
hasta ahora. Fríos, fríos, fríos, amor mío, como estrellas muertas
en lo alto, que nadie ya mira. En estos criminales «ni no tener».
¡El cuerpo reseco del muro, amor mío, pobrecito!
Qué desdicha inmóvil, remota, como sordos mareos sucesivos
e intermisos desde «Bahamas» a «Baltimore», casi impalpable
en cada uno de sus saltos a las primeras lágrimas, casi
indecible en sus «abismarse», en sus collares, en la sucesión
intermitente de sus «escherichia coli». En sus impuestos
infinitos. En sus miserias que infectan cualquier lugar. Todos.
Muros: torpes tragedias del cemento, la arena muerta y la
cuchara mal paga. Sin subsidios de desempleo, Sin seguros.
Sin descanso. ¡La siente hasta el gran burgués! La consiente.
La apaña. La cizaña. Puede sentirla, aún… Como si pudiera
sentir, como si pudiera poder, y tan lejos de él…
Ajena a su sonora insistencia insípida, impía, apátrida,
ácida, a su «torpor», a la cerrazón nula de su cinismo y de
toda la tontera de su avidez. ¡Acallen a sus perros!
El muro, fervoroso en su «goleo», en su metro, en sus
siniestras estadísticas, en su «tendencia», en su caída
libre, en su cochambre, en su carcaza de la raza, en su
talón de Aquiles, en su encorsetado, en estos abandonos,
en el brillo de sus mebrillos.
¡El cuerpo reseco del muro, amor mío,
pobrecito!
(De un sauzal para Kikí de Cundinamarca,
Ed Ponciano Arriaga, México, 2013)
O muro, pobrezinho, um
“Oh, o pássaro de teu coração,
menina, em um país estranho.”
Juan L. Ortiz
Muros de casas pobres sem salgueiros chorões, sem pão e sem
trabalho. Vazios. Nulos. Puro tremor. Meros pressentimentos
a carecerde quase tudo. Até das cartilagens e da carne.
Até do tutano. Até da bandagem para embalsamar.
Paliçadasvencidas. “Graffitis” porterminar. Signos mudos.
Negritude. “Spleen”. Tanta ausência em cada um de seus átomos.
Em seu “mol” proletário. Frios como punhaissicários
esquecidas desde ontem em seu pior abandono. Frios como envelopes
amarelados de cartas de amor jamais escritas, meu amor,
jamais lidas, com paixão, jamais esquecidas com pena e dor,
até agora. Frios, frios, frios, meu amor, como estrelas mortas
no alto, que já ninguém vê. Nestes criminosos “nem não ter”.
O corpo ressecado do muro, meu amor, pobrezinho.
Que desgraça imóvel, remota, como surdas tonturas sucessivas
e intermitentes desde “Bahamas” a “Baltimore”, quase impalpáveis
em cada um de seus saltos às primeiras lágrimas, quase
indizível em seus “abismar-se”, em suas coleiras, na sucessão
intermitente de suas “escherichia coli”. Em seus impostos
infinitos. Em suas misérias que infectam qualquer lugar. Todos.
Muros: Torpes tragédias do cimento, a areia morta e a
colher mal paga. Sem subsídios de desemprego. Sem seguros.
Sem descanso. O sente até o grande burgués! O consente.
O apanha. O aborrece. Pode sentir-lo, até… Como se pudesse sentir, como se pudesse poder, e tão longe deles…
Alheia à sua sonora insistência insípida, ímpia, apátrida,
ácida, a seu “torpor”, à cerração nula de seu cinismo e de
toda a tonteira de sua avidez. Calem seus cachorros!
O muro, fervoroso em seu “gol”, em seu metro,
em suas sinistras estatísticas, em sua tendência, em sua queda livre, em sua imundície, na carcaça de sua raça,
em seu calcanhar de Aquiles, em seu espartilho, nestes abandonos,
no brilho de seus marmeleiros.
O corpo ressecado do muro, meu amor,
pobrezinho!
***
Luces y sombras
Lejos, ajeno,
San Miguel o San Rafael,
acomoda con exquisita clase su corona de luz,
alborotando a tantos querubines,
que juegan a los dulces misterios.
Abajo, unos cuántos kilómetros abajo,
en la bulliciosa iglesia de Liniers,
postrados ante el ícono,
los fieles dudan,
arrobados,
que si ése oro 18
fuése sólo nimbo...
(La lengua de Calibán,
Ed Fondo de Cultura Económica, México, 2011)
Luzes e sombras
Distante, alheio,
São Miguel ou São Rafael
acomoda com distinta classe sua coroa de luz,
alvoroçando os muitos querubins,
que jogam os doces mistérios.
Abaixo, uns quatro quilômetros abaixo,
na buliçosa igreja de Liniers,
prostrados ante o ícone,
os fiéis duvidam
encantados,
que se esse ouro 18
fosse só auréola...
Ricardo Rojas Ayrala é um escritor argentino. Desenvolve uma intensa tarefa de gestão cultural há mais de vinte anos, desempenha o papel de Secretário de Cultura de uma Organização Fraternal de Trabalhadores, é subsecretário do Sindicato de Escritoras e escritores da Argentina (O Sea), organiza com Marta Miranda o Vapoesía Argentina, um encontro internacional de poesia e integração é diretor do site de cultura dos trabalhadores www.lapurpuradetiro.com.ar entre outras atividades culturais. Seus livros foram publicados na Argentina, México e Itália, Sua obra literaria editada se compõem de onze livros, sete de poesía e quatro de narrativa. Entre outros reconhecimentos por seu trabalho literário, obteve o terceiro Prêmio Municipal de Literatura da Cidade de Buenos Aires. Em 2014, foi finalista da V Edição do Prêmio Internacional de Poesia Valera Mora.
Claudia Barral (Salvador, 1978) é escritora e psicanalista. Atua em diversos campos da produção literária como dramaturga,roteirista e poetisa.Suas peças de teatro contam com montagens no Brasil e em países como Alemanha,Itália,Portugal e Peru, com destaque para O Cego e o Louco (Versão roteirizada para a TV Cultura em 2007), Cordel do Amor sem Fim (Prêmio Funarte 2004) e Hotel Jasmim (Prêmio Feminina Dramaturgia Heleny Guariba, 2014). Publicações em poesia incluem poemas selecionados pela Revista Poesia Sempre (Rio de Janeiro, FBN,2008) e os livros O Coração da Baleia (Ed. P55, 2011) e Primavera em Vão (Ed. Penalux, 2015). Outras publicações incluem O Cego e o Louco e outros textos (Ed. Cidade da Bahia,1998) e Cordel do Amor sem Fim (Ed.Funarte,2003).