OPALAS
Como o luar que inunda, sem ruído,
O silencioso segredo das mágoas,
Relembrando o tempo ido,
E a passar por nós como as águas
Que caem do céu findando-se, enfim,
Parece o teu olhar trazer, assim,
A dúbia luz de quem um tristonho
Caminho percorreu sem um risonho
Leito de serenidade para se ancorar...
No teu olhar há o pesar profundo
De quem possui todo o mundo
Sem pertencer a nenhum lugar!...
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Cedo ou tarde, seremos um, enfim,
Como o poente, quando no céu, arde
Junto ao mar, junto à terra, ao jardim,
Unidos num encanto, sem alarde...
Cedo ou tarde, não saberemos o fim
Ou o início de nós mesmos, se tarde
Será a ventura ou cedo o rubim
Colhido do mesmo céu que nos arde...
E nosso amor, o sonho, a glória, tudo,
Unir-se-ão como num outono mudo,
Num lento beijo universal sem fim...
E então nos amaremos sem alarde,
Pela tristeza divinal de uma tarde
Que também, certa vez, amou assim...