Planície
Glória é uma palavra
esvaziada de sentido,
e me chega no poema,
em forma de despedida.
Dentro de mim
tudo se aplaina
e em breve,
não mais sairei à guerra.
(A pedra tardia
jaz na funda
─ injustificável.)
Dentro de mim,
fez-se vazia
a rebelião dos anjos
de longas adagas.
Dentro de mim,
a cicatriz transparente
abriu sua boca para a noite
e vomitou a culpa.
Dentro de mim
um estampido
perfurou a cova
e despertou as raízes.
Dentro de mim
um todo imenso
viu-se areia.
Dentro de mim
o pai do Mundo
me chamou de filho
e eu o chamei de Terra.
Dentro de mim
o espasmo
da semente grávida.
estendida sobre o lençol branco.
Dentro de mim
o orvalho fez soçobrar
o medo e despertar a hera onde a pá de
cal sufocava os cristais dos ossos.
Imagem: arte de Jie Ma
* * *
Jorge Elias Neto (1964) é médico, pesquisador, cronista e poeta. Capixaba, reside em Vitória – ES. Livros: Verdes Versos (Flor&cultura ed. - 2007), Rascunhos do absurdo (Flor&cultura ed. - 2010), Os ossos da baleia (Prêmio SECULT - ES – 2013). Participação: Antologia poética Virtualismo (2005), Antologia literária cidade (L&A Editora – 2010), Antologia Cidade de Vitória (Academia Espírito-santense de letras – 2010,2011,2012,2013) e Antologia Encontro Pontual (Editora Scortecci – 2010). Colabora com poemas em vários blogs e na revista eletrônica Germina, Diversos-afinsm Mallarmargens e no Portal Literário Cronópios. Membro da Academia Espírito-santense de Letras onde ocupa a cadeira de número 2. Blog. Email.
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