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5 poemas de Dagmar Braga

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Ilustração: Jules Bouvier


Arqueologia

removo o pó dos sonhos
convoco oráculos
deuses
pitonisas
remonto a um passado
indecifrado
labiríntico

descerro véus
– é tua esta sentença?

como dói escavar este argumento
o nó                o laço             o texto

quando somos nós mesmos
subterrados


Arqueologia, Editora Patuá, 2016



Revelação

num descuido                     eu a vejo
à minha frente e dentro

e esta madurez
há muito germinada
tão entranhada em mim
me cobre e me revela

compondo traço a traço
o mapa dos meus dias

foi-me embaçando os sonhos
e me roendo os ossos
frisou as minhas mãos
limou as cartilagens
  
e me encolhendo os dedos
e as possibilidades

forjou em mim
memória e esquecimento
desde o primeiro choro da criança
extraviada no tempo
                                   
Arqueologia, Editora Patuá, 2016 


Ilustração: Jules Bouvier

*
como se fosse domingo
desabotoei as horas
l e n t a m e n t e

abri minhas gavetas e deixei
suspensa
a esperança ilegível

recolhi o desejo      
a memória

como se fosse domingo
deixei a solidão lançar seus fumos
meus destroços e lendas

aprontei o turíbulo
–  a prece pelo avesso – 

desentranhei-me –
o coração vadio

o corpo         
o olho nu
como se fosse domingo e um deus dormisse

Geometria da Paixão, Anome, 2008



Entrementes

num átimo
o último

sopro
beijo
sonho

a última palavra
o abismo

no sol posto
um istmo

unindo          
o nada           a nada


Geometria da Paixão, Anome, 2008 



Bumerangue

Tem um caminho nessa pedra
que eu atiro
                e volta
ao mesmo ponto     
                        ou conto
                        ou medo
                                               ou dedo
que me aponta a trajetória
que não
fiz.

- Cadê o amor que estava aqui?

Geometria da Paixão, Anome, 2008


Dagmar Braga é autora do livro de poemas Arqueologia (Patuá, 2016), é natural de Pitangui (MG), reside em Belo Horizonte. Professora, dedica-se à promoção de Oficinas de Literatura. Criou e gerencia, desde 2006, o Espaço Cultural Letras e Ponto, onde acontecem oficinas, encontros, exposições, palestras, saraus, debates e degustações de peças artísticas - nos domínios da Literatura, da Música, do Teatro, do Cinema ou das Artes Plásticas. Organizou as antologias Noites de Terça (2007) eOficina da Palavra (2011), com trabalhos desenvolvidos em oficinas. Tem textos publicados em  antologias, jornais, revistas e sites literários. Em 2009, foi finalista do Prêmio Jabuti, com Geometria da Paixão (poesia).



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